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O desafio energético brasileiro e o clima

O Globo, Amanhã, p. 29
Autor: ROSA, Luiz Pinguelli
23 de Abr de 2013

O desafio energético brasileiro e o clima
Importantes fontes renováveis do país, como os biocombustíveis e as hidrelétricas, são alvos de críticas internacionais

Luiz Pinguelli Rosa
Diretor da COPPE/UFRJ

Há uma crise ambiental latente no mundo devido à mudança do clima associada ao aquecimento do planeta, intensificado por gases como o CO2 emitidos pela queima de combustíveis fósseis, que representam quase 80% da geração de energia primária global, com o petróleo à frente, seguido pelo carvão e o gás natural. Entre as fontes não renováveis, apenas a energia nuclear, que representa cerca de 2% da potência elétrica brasileira, não emite CO2.
A participação das fontes renováveis de energia no Brasil é de 47%, enquanto no mundo é de 13% e nos países desenvolvidos, de apenas 6%. Entretanto, as fontes renováveis mais importantes no país, os biocombustíveis e a hidroeletricidade, têm sido objeto de críticas internacionais. A hidroeletricidade pelo impacto ambiental na Amazônia. Mas as novas usinas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte são a fio d'água, com reservatórios reduzidos.
Dos biocombustíveis, o mais importante é o etanol de cana-de-açúcar, cujo consumo voltou a crescer muito a partir de 2003 com o estímulo aos automóveis com motores flexíveis. Ele é acusado de competir com alimentos e de contribuir para o desmatamento. Mas a área plantada de cana é uma pequena fração do território e apenas a metade dela se destina ao etanol. Ademais, o desmatamento foi reduzido no período dos governos Lula e Dilma.
Do ponto de vista da redução das emissões de CO2, foi boa a substituição da gasolina pelo etanol, prejudicado, entretanto, pela crise recente na sua produção. Sua participação percentual, que tinha ultrapassado a da gasolina, retrocedeu. Pior, importamos uma parcela do etanol dos EUA, cuja produção emite mais CO2 pois é feito do milho, que não dispõe de bagaço para se queimar na destilação, obrigando o uso de combustível fóssil.
O programa de biodiesel, implantado a partir de 2003 como aditivo ao diesel, teve entre seus objetivos o estímulo à agricultura familiar, com uso de óleos vegetais como os de dendê, que tem alto rendimento energético (litros de biodiesel por tonelada), e de mamona. Mas prevaleceu o óleo de soja, vindo de uma monocultura de grande escala. Apesar do seu baixo rendimento energético para o biodiesel, há um excedente da enorme produção para exportação e para alimento no mercado interno.
Já no setor elétrico, a partir de 2003 retomou-se o planejamento com a criação da Empresa de Pesquisa Energética. Criou-se também o Programa Luz para Todos, de universalização sem ônus para a população pobre beneficiada. Entretanto, há problemas não resolvidos. Tem ocorrido interrupção de linhas de transmissão. Não se trata de falta de energia, que levou ao racionamento em 2001, pois hoje há capacidade instalada suficiente, incluindo as termelétricas acionadas devido à escassez de água no fim de 2012, embora com um custo alto e muito poluentes.
A geração de energia eólica cresceu no país, embora ainda seja pequena em relação ao potencial brasileiro. Já a solar ainda tem uso pequeno, mesmo para aquecimento, incluída em parte das edificações do Minha Casa Minha Vida. Entre outras possibilidades há o uso do lixo urbano. Houve uma política de incentivo. A Aneel estabeleceu desconto da taxa de utilização do sistema de distribuição e de transmissão para usinas eólicas, pequenas centrais hidrelétricas e termelétricas a biomassa de potência injetada na rede de até 30 MW
O preço da energia eólica caiu em leilões, chegando a ser inferior ao da termelétrica. A participação da eólica na geração elétrica tem se expandido, alcançando a da energia nuclear no país. Mas as usinas eólicas precisam de sistemas de backup não eólicos, pois o vento pode parar subitamente. O regime hidrológico na Região Norte, onde está Belo Monte, é complementar ao dos ventos na Região Nordeste, onde o potencial eólico é elevado. Mas, sempre que houver vento, será possível usar as usinas eólicas transferindo energia pelo sistema interligado, permitindo substituir parte da geração hidroelétrica temporariamente, economizando água dos reservatórios, que por vezes ficam baixos, como ocorreu em 2012.

O Globo, 23/04/2013, Amanhã, p. 29

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