O Globo, Sociedade, p. 28
Autor: ZACARIAS, Ana Paula
24 de Jun de 2015
'O Brasil é estratégico nas negociações do clima'
Embaixadora da União Europeia no país, a diplomata portuguesa reivindica que os governos se comprometam com metas ambiciosas para reduzir as emissões de gases- estufa
Entrevista: Ana Paula Zacarias
RENATO GRANDELLE
renato.grandelle@oglobo.com.br
Nos próximos meses, os governos devem anunciar que metas estão dispostos a obedecer para diminuir as emissões de gases- estufa. Estes números servirão de base para as negociações da Conferência do Clima de Paris. O que podemos esperar da União Europeia?
A Europa já divulgou seus compromissos para 2030. Nosso objetivo é reduzir as emissões em 40%, em relação aos níveis verificados em 1990. Também já fazemos planos para aumentar em 20% nossa eficiência energética e o uso de energias renováveis até 2020. E os Estados membros também já cooperam com os países mais vulneráveis às mudanças climáticas, especialmente os insulares.
Estas metas são suficientemente ambiciosas?
Acredito que sim. Os países europeus anunciaram suas metas há muito tempo e avaliaram que são realistas. Além do benefício ao meio ambiente, também é possível desenvolver tecnologias sustentáveis.
E se os objetivos anunciados por todos os países não forem suficientes para evitar o aquecimento descontrolado do planeta?
Então os governos precisarão fazer uma revisão profunda no que foi apresentado, até termos um acordo coerente. É fundamental termos metas transparentes. Mesmo que elas sejam flexíveis, já que cada país tem a sua capacidade de cortar emissões, no fim das contas todos têm um objetivo central a cumprir.
O que a senhora espera da China e da Índia, os países mais populosos do mundo e que estão entre os maiores poluidores?
Espero que eles acertem metas que possam ser verificadas e revistas continuadamente. A ideia é estabelecer o quanto antes a comunicação sobre as propostas de cada país.
E quais são suas expectativas em relação ao Brasil?
O país é estratégico nas negociações do clima. Quase todos os avanços conseguidos na área das mudanças climáticas resultaram na contribuição mútua entre o Brasil e a União Europeia. Ele é capaz de fazer uma ponte entre as nações menos desenvolvidas e as mais desenvolvidas, porque entende os problemas e os interesses de ambos os lados. Estamos à espera do anúncio das metas brasileiras ( para corte de gases- estufa). Ainda dá tempo. É importante que o país dê esse passo, porque a apresentação dos seus objetivos pode servir como estímulo para que o resto da América Latina siga o mesmo caminho.
Como garantir o monitoramento dos objetivos propostos pelos governos?
Cada um acompanhará da forma que pode, mas precisamos de um sistema de revisão que assegure a exatidão dos dados e a veracidade das informações transmitidas para a comunidade internacional.
Em 2010, os países desenvolvidos concordaram em doar US$ 100 bilhões por ano até 2020 para que as nações em desenvolvimento invistam em meios de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Mas o Fundo Verde, como foi chamado, nunca recebeu os recursos. Por quê?
Não depende só de nós. A União Europeia cumpre a sua função. Os países do grupo aumentaram esforços para financiar ações em áreas de clima e sustentabilidade. Somente em 2013, foram destinados 9,5 bilhões de euros para as nações em desenvolvimento.
Existe uma chance de que a Conferência de Paris termine em frustração, assim como suas antecessoras?
Espero que consigamos chegar a um acordo internacional justo e ambicioso. Ainda temos um caminho para articular posições. Cada país deve indicar agora o que está disposto a fazer para que a temperatura global não aumente mais do que 2 graus Celsius. A cooperação é fundamental para chegarmos a um entendimento de base. Claro que os negociadores estarão lá ( em Paris), e são eles que vão decidir, mas temos que pensar desde já como as decisões que serão tomadas ( na conferência) afetarão a todos. Já está em cima da hora, precisamos de um esforço grande.
A população mundial entende os efeitos das mudanças climáticas?
Acredito que sim. Estamos chegando em um ponto paradigmático, em que nos interrogamos sobre o que está acontecendo. Começamos a sentir o peso da responsabilidade individual, porque, além do papel dos governos e das empresas, há um peso sobre cada um. Se mantivermos os padrões de consumo atuais, essa correria consumista, então veremos um impacto direto no planeta.
O Globo, 24/06/2015, Sociedade, p. 28
http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/o-brasil-estrategico…
As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.