VOLTAR

O Brasil e a água não tão doce

JB, Outras Opiniões, p. A11
Autor: SILVA, Gilberto Alves da
23 de Dez de 2004

O Brasil e a água não tão doce

Gilberto Alves da Silva
Professor

O Papa João Paulo II, na celebração do Dia Mundial da Paz, em 1o de janeiro de 1993, iniciou suas palavras afirmando: ''Qual é a pessoa de boa vontade que não aspira pela paz? Esta é hoje reconhecida universalmente como um dos valores mais elevados a ser procurado e defendido...''.
O intuito de preservar a paz me levou a colocar as minhas preocupações nestas linhas. Temos sérios problemas internos como o desemprego, a miséria, a falta de educação e outros tantos, mas nunca passamos por agressões bélicas, de origem externa que viessem afetar a nossa soberania.
A posição brasileira referente às reservas minerais mundiais e de água é privilegiada. Detém 91,1% da reserva de nióbio, 49,4% de tantalita, 21% de grafita natural, 6,7% ferro, 12,4% de estanho etc.. Em 2001, foi o 15o produtor de petróleo do mundo e, além de todas estas riquezas naturais, complementamos a lista com a grande biodiversidade e a água da Amazônia, estopim dos conflitos que poderão surgir no século presente.
Toda essa riqueza traz preocupações a todos nós brasileiros. É sobejamente sabido o interesse das grandes potências pela nossa Amazônia, que podemos chamar de Império das Águas, Paraíso da Biodiversidade, Delírio Mineral, Fonte Inesgotável de Energia, Último Reduto Natural do Planeta e outros. A nossa falta de competência para gerenciar esta região é notória. Queimadas, desmatamentos, falta de um plano de desenvolvimento bem demonstram essa ingerência.
Na 7ª Conferência das Partes da Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas, realizada em 2001, no Marrocos, foi apresentado um relatório que alertava para a falta de água, que deverá atingir 45% da população mundial em menos de 50 anos. A ONU afirma que, antes de chegarmos à metade do século, muitos países não atingirão os 50 litros de água por dia que são necessários para atender às necessidades humanas. Afirma ainda que são os países em desenvolvimento que mais sofrerão, uma vez que a quase totalidade do crescimento populacional, dentro dos próximos 50 anos, dar-se-á neles.
A crise que se configura pela escassez de água é devida ao crescimento populacional - hoje somos seis bilhões e a previsão é que cheguemos a nove bilhões nos próximos 50 anos - ao desperdício, à poluição e aos desmatamentos, ações causadoras da fragilidade dos ecossistemas.
Pode parecer absurdo falarmos em falta de água quando a terra tem 70% de sua superfície coberta por este líquido, mas é bom lembrar que a maior parte do seu volume, 97,5%, encontra-se na forma de água salgada, nos mares e oceanos, imprópria para o consumo humano e produção de alimentos. Os 2,5% restantes, água doce, também não estão disponíveis para uso - a maior parte , 68,9%, está nas calotas polares e nas geleiras, 29,9% constituem as águas subterrâneas e 0,9% são relativas à umidade dos solos e dos pântanos. Somente 0,3% restantes são dos rios e lagos - água doce, portanto.
Se essa pequena quantidade estivesse distribuída de uma forma homogênea no planeta, ela seria suficiente para atender à demanda da população da terra. Entretanto, isso não acontece. Somente 23 países detêm dois terços das reservas de água potável e 47% dos recursos hídricos estão na América do Sul, sendo que deste total mais da metade, cerca de 53%, estão no Brasil.
Estamos cansados de ter conhecimento da preocupação das grandes potências sobre as queimadas, os desmatamentos, a emissão de gás carbônico, que ocorrem na Amazônia, e é justamente lá que encontramos a maior parte desta riqueza. Fica claro que não é coincidência todo o alarde por esta região.
Temos que prestar mais atenção no nosso país. Precisamos ser mais patriotas, deixar de fazer prevalecer a Lei de Murici - cada um por si - e pensarmos mais como bons brasileiros. Só assim conseguiremos levar esse tesouro, o Brasil, ao seu pleno desenvolvimento e chegarmos àquele país que a maioria almeja. Com estas medidas, poderemos afastar ou enfrentar as possíveis ameaças que poderão surgir pela existência no nosso país desse precioso líquido: a água.
Gilberto Alves da Silva é técnico da Finep

JB, 23/12/2004, Outras Opiniões, p. A11

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.