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Autor: Egon Heck
21 de Jul de 2010
A imagem marcante desses dias na imprensa do Mato Grosso do Sul é de centenas de cabeças de gado que morreu de frio, espalhados pelas fazendas na região do extremo sul do Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai. Conforme dados da imprensa, chega a quase quatro mil cabeças de gado que morreram em função do clima frio, conjugado com outros fatores, dentre os quais a irresponsável devastação total das árvores e da mata atlântica e serrado. Ontem, um dos fazendeiros, dando-se conta do quanto tem sido equivocada e absurda a devastação da floresta, se dispôs a plantar árvores em sua fazenda! Triste sina de um pensamento hegemônico, capitalista, para o qual, árvore boa é árvore morta, o mesmo que se afirmava dos índios, os protetores seculares das matas e do meio ambiente.
Floresta morta, gado lascado
Fatos como o que estamos assistindo nesta região, são apenas a ponta do iceberg do que está por vir, caso se continue na trilha absurda da devastação, do envenenamento e morte das árvores, das águas e da terra. Apesar das claras evidências de que esse tipo de economia do agronegócio da monocultura e da acumulação rápida, a qualquer preço, esteja levando a mudanças climáticas acentuadas com enormes impactos sobre todos os sistemas de vida e sobrevivência ameaçada, nada parece conter essa lógica necrófila do capitalismo. Quando um dos técnicos foi dar seus sábios aconselhamentos de como enfrentar esse cenário apocalíptico da mortandade do gado, simplesmente conseguiu dizer o óbvio ululante: precisa ter árvores que contenham os ventos frios e sirvam de abrigo para os animais diante da agrura do tempo.
Quando os Kaiowá Guarani ficam tristes diante da constatação de que a maioria de suas terras que esperam ser demarcadas, são na sua sábia visão "terras mortas", ou seja, sem árvores, apenas com capim ou expostas há dezenas de anos ao sol, chuvas e venenos. E o pior, são considerados preguiçosos e vadios quando deixam a natureza se recuperar minimamente em terras como Panambizinho, próximo a Dourados, que recuperaram no final da década de noventa.
Possivelmente as lições não serão aprendidas. Ao invés de se partir para um discussão séria sobre a recuperação ambiental, urgente e necessária na região, onde o índice de mata nativa em algumas regiões fica abaixo dos 5%, quando o mínimo exigido por lei seria de 20%, se passará a outras atividades produtivas do agronegócio, como o plantio de cana, soja...Ou, como já está ocorrendo, se transfere o gado para o calor tropical da Amazônia. Triste destino de um país, guiado apenas pela lógica da acumulação, do desenvolvimento acelerado e qualquer preço. Quem sabe, pelos menos nas escolas os professores ajudem os alunos a entenderem as causas reais desses fatos para que se possa caminhar para mudanças profundas na estrutura fundiária, meio ambiente e sistema de produção.
Anuncia-se que mais gado continuará morrendo em conseqüência de complicações decorrentes do frio intenso por que passaram, sem árvores para os protegerem do frio, do vento e do chuvisco. Enquanto isso os Kaiowá Guarani, em seus confinamentos e acampamentos além do frio, passam fome e seus territórios continuam sem demarcação.
Egon Heck
Campanha Povo Guarani Grande Povo, Dourados, inverno de 2010
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