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O ataque dos aliens

Veja, Ambiente, p.127
22 de Set de 2004

Ambiente
O ataque dos aliens
Caramujos africanos trazidos para substituir o escargot viram praga em 23 Estados do Brasil
Há quinze anos, um grupo de empresários do Paraná comprou um lote de caramujos nativos do nordeste da África com a intenção de iniciar a criação comercial desse molusco no Brasil. O objetivo era incorporar o bicho à mesa dos brasileiros como um substituto do caro e requintado escargot, caramujo de origem européia. O negócio não prosperou e os moluscos acabaram abandonados à própria sorte no campo. Donos de uma capacidade reprodutiva impressionante – são hermafroditas e botam 2.400 ovos por ano cada um –, os caramujos africanos se reproduziram velozmente, cruzaram fronteiras e, hoje, são uma praga que assola 23 Estados brasileiros. Medindo 12 centímetros e pesando 200 gramas, eles se alimentam de praticamente qualquer tipo de planta. Por onde passam, arrasam hortas, invadem lavouras e atacam a vegetação de reservas ambientais – como acaba de ser constatado no Poço das Antas, no Rio de Janeiro. Nas áreas urbanas, costumam alojar-se em esgotos e terrenos baldios. Nesses locais, são também um perigo para a saúde pública. Eles podem alimentar-se de fezes de ratos e tornar-se hospedeiros de um verme que causa cegueira e perfuração intestinal em seres humanos e até leva à morte.
"Só no Estado de São Paulo, há registros do molusco em quase todos os municípios", diz a bióloga Marta Fischer, do Laboratório do Núcleo de Estudo do Comportamento Animal da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Em Casimiro de Abreu, no Estado do Rio, onde em 1998 também se tentou criar o caramujo para fins alimentícios, a prefeitura chegou a oferecer 1 real para cada quilo de molusco recolhido. No Rio Grande do Norte, em um dia de campanha de erradicação no município de Parnamirim foram reunidas 2 toneladas do bicho. O Ibama começou neste ano uma campanha para a erradicação do caramujo. Não é um trabalho fácil nem barato. O governo americano levou sete anos e gastou milhões de dólares com veneno e campanhas de esclarecimento para exterminar 20.000 moluscos da mesma espécie que se alastraram por Miami na década de 70.
Os caramujos africanos são o mais recente exemplo dos danos que pode causar a introdução de espécies estranhas num habitat onde elas não encontram predadores naturais. Importados na Argentina e no Uruguai como animais de caça, javalis acabaram por migrar para o Rio Grande do Sul nos anos 90. Hoje, eles somam 20.000 animais selvagens em seis Estados do Sul e do Sudeste e atacam arrozais e o gado. O tucunaré, peixe originário da Amazônia, foi trazido há quinze anos para o Pantanal Mato-Grossense e para o Paraná, a fim de servir à pesca esportiva. Passou a devorar espécies menores e vinte delas foram declaradas extintas desde então. O alienígena da vez é o caramujo africano.

Veja, 22/09/2004, p.127 (Ambiente)

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