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O alerta de Benki Ashaninka

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Benki Piyanko Ashaninka / Marcelo Piedrafita Iglesias
26 de Ago de 2005

Dia 24 de agosto, já bem entrada a noite, o líder e agente agroflorestal Ashaninka, Benki Piyanko, ganhador do Prêmio Direitos Humanos em 2004 e atual Secretário de Meio Ambiente do Município de Marechal Thaumaturgo, divulgou, por meio da Rede Povos da Floresta, um importante alerta. Acabara de chegar na cidade de Cruzeiro do Sul, vindo da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia e da fronteira internacional Brasil-Peru. Na véspera, se reunira com os Ashaninka das "comunidades nativas" Sawawo e Nueva Shawaya, que vivem do lado peruano. Em sua mensagem, Benki comunica sua profunda tristeza por ter visto seus parentes armados e pintados para irem à guerra contra os madeireiros peruanos que, como nos últimos anos, continuam a destruir as florestas dos territórios Ashaninka, em ambos lados da fronteira. E alerta que os Ashaninka do Brasil estão dispostos a se juntar a seus parentes peruanos para garantir as florestas de seus terras e os direitos de seu povo. Após mobilizar as instituições federais e estaduais, e a opinião pública, no Acre, no Brasil e no exterior, desta vez Benki deixa clara sua vontade de que seu alerta chegue a instâncias internacionais, dentre as quais, a Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônia (COICA) e à Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas.

É no sentido de dar visibilidade a mais esse alerta deste valoroso guerreiro Ashaninka que sua mensagem segue abaixo transcrita. (Marcelo Piedrafita Iglesias)

Para todos amigos e amigas da Rede Povos da Floresta, um grande abraço. E também para Azelene Kaingang e Ailton Krenak e a todos.

Eu quero informar a vocês que ainda temos muito problema pela frente para resolver com nossos parentes indígenas.

Eu estive hoje na linha da fronteira Brasil-Peru para convidar nosso povo do lado peruano para uma reunião com todos os líderes das comunidades para discutir sobre as invasões que vêm acontecendo na linha de fronteira. A reunião acontecerá no dia 15 de setembro. Foram convidadas 20 terras indígenas do Peru. A discussão vai ser sobre a grande exploração de madeira em terras indígenas tanto do lado do Brasil, quanto do lado do Peru, e parque e reservas protegidas. Vão estar presentes várias autoridades do Brasil e do Peru.

Mas, antes de tudo, quero dar um recado a todos parentes.

Nossa terra está sendo destruída, queimada. Acontece por todos os lugares do Brasil. O ar está sendo tomado por fumaça, muitas pessoas ficando doentes. Ninguém está escutando a natureza gemendo. Vamos nos unir entre todas as nações para fortalecer a política de proteção ao meio ambiente.

E também mostrar para o mundo o que está acontecendo. Quero dizer que eu estou muito triste de ver nosso povo sendo destruído dessa forma, desrespeitado pelos madeireiros que invadem nossas terras e fazendeiros que derrubam nossa floresta.

Eu estive na linha de fronteira ontem e participei de uma reunião com as comunidades Sawawo e Novo Shawaya, no Peru, que estão sendo invadidas pelos madeireiros e traficantes, que estão se juntando para destruir as terras com retirada de madeiras. Eu encontrei nosso povo Ashaninka todo armado e partindo para guerra contra esses invasores. Tinha 100 guerreiros do exército Ashaninka armados e partindo para o confronto com estes invasores que estão em sua terra.

Eu fiquei muito triste com esta cena: nosso povo se defendendo. Parece no passado, no tempo da escravidão. Cadê os nossos direitos formados para termos pelo menos um pedaço de terra para vivermos?

Quero mandar uma carta para a COICA e os representantes desta América Latina, que estão nestes poderes para nos representar e cuidar de nós, indígenas. Quero também que esta carta chegue à Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, porque queremos nosso direito respeitado como humanos desta Terra, que estão com seu coração angustiado, sem saída, porque nossa vida está nesta floresta. Este é o nosso coração e o coração de nossa terra.

Por este motivo estão enfrentado os invasores. Nós também vamos ajudar nosso parente, para não morrer sozinho, que também estamos sendo afetados e não temos para onde correr.

Esta carta é de um guerreiro que defende o nosso povo e o nosso país. Ganhei o Prêmio de Direitos Humanos, mas não vou parar por aqui. Desculpe a minha letra, mas o sentido das palavras é o que importa para mim.

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