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Nutrição certa reduz emissão de metano

OESP, Agrícola, p. 8-9
28 de Jul de 2010

Nutrição certa reduz emissão de metano
Pesquisa do Cena-USP com ovinos quer chegar a uma dieta ideal - que inclui tanino - para inibir produção do gás-estufa

Tânia Rabello

Confinados por cerca de 20 horas em câmaras revestidas por uma lona plástica, os animais - ruminantes - alojados no Centro de Energia Nuclear na Agricultura, da Universidade de São Paulo (Cena-USP), em Piracicaba (SP), têm uma importante, porém fácil e fisiológica missão: receber uma alimentação criteriosa, balanceada e a partir daí serem pesquisados em relação às suas emissões de gases do efeito estufa, sobretudo metano (CH4), que tem maior potencial de destruir a camada de ozônio em relação ao dióxido de carbono (CO2).

"Verificamos a troca de gases na câmara e a produção de gases-estufa conforme a alimentação dada aos ruminantes", diz o pesquisador Adibe Luiz Abdalla, coordenador do Laboratório de Nutrição Animal (Lana) do Cena/USP. A pesquisa vem sendo feita com ovinos, e seus resultados serão transpostos, no futuro, para bovinos e outros ruminantes.
Alimento balanceado. Em breve, acredita Abdalla, será possível chegar a uma alimentação balanceada nas pastagens, que reduza ao máximo a emissão de metano não só por meio da flatulência e fermentação entérica (no rúmen), mas também pelos dejetos dos animais.
É sabido que o rebanho brasileiro de ruminantes, principalmente de bovinos - o segundo maior do mundo, com 200 milhões de cabeças -, é responsável por 63% do total de metano emitido pelo setor agrícola no País, conforme o Ministério da Ciência e Tecnologia. Os alimentos com os quais a equipe de Abdalla - composta por mais dois pesquisadores, além de oito alunos de pós-graduação e dez de iniciação científica, abrigados no Laboratório de Metano Entérico do Lana/Cena-USP - vem trabalhando são os resíduos da produção de biodiesel - tortas de soja, pinhão-manso, girassol, nabo forrageiro, mamona, algodão, excluindo seus elementos tóxicos.
Outra novidade é o uso do tanino para eliminar, no rúmen, os radicais livres e, por consequência, a produção e emissão de metano, "que nada mais é do que a deficiência na utilização de nutrientes por parte do animal", diz. "Quanto maior essa deficiência, maior a emissão de metano."
Antioxidante. No caso do tanino, seu efeito antioxidante é conhecido de longa data. Ministrado em grandes quantidades, porém, pode ser tóxico. "Mas nós fomos observando que, em pequenas doses, o tanino tem a capacidade de melhorar a eficiência de utilização dos nutrientes", continua. "O objetivo é chegar a uma fórmula eficiente e acessível ao pecuarista de administrar tanino ao rebanho", explica.
Nas pastagens, por exemplo, já há algumas plantas taniníferas à disposição, como as famosas mucunas preta e anã e a leucena. Outra planta taninífera bastante conhecida é a sansão-do-campo, muito utilizada como cerca-viva. Ela é palatável ao gado, porém tem muitos espinhos, inibindo a aproximação dos animais, além das acácias. "No caso da leucena e das mucunas, os animais naturalmente procuram essas plantas no pasto; no caso da sansão-do- campo e das acácias, estamos estudando a melhor maneira de administração", diz. "Um resultado já observado, por exemplo, é que se eu substituir feno comum de tifton por 20% de uma planta taninífera há redução de 3% a 7% de emissão de metano por parte do ovino." Em alguns casos, a redução chegou a 35%. "Estamos agora numa fase de avaliar vários outros alimentos e definir a quantidade exata de plantas taniníferas na dieta do gado", diz. "E em até três anos teremos dados mais definitivos." Esses e outros resultados serão apresentados em outubro, no Canadá, no 4. Congresso Mundial de Gases do Efeito Estufa em Animais e na Agricultura.

Para entender
A parcela da pecuária

Conforme relatório da FAO-ONU, de 2006, a pecuária contribui, globalmente, com 22% das emissões globais de metano (CH4), que é um dos principais gases do aquecimento global, pois sua capacidade de reter calor na atmosfera é 23 vezes maior, se comparado com o gás carbônico (CO2). O metano é um subproduto da fermentação provocada durante o processo digestivo dos ruminantes e é eliminado do organismo dos animais por meio de flatulência e arroto. No Brasil, com 200 milhões de bovinos, a fermentação entérica do gado bovino representa 63% do total de emissões de metano na agricultura, seguida pela fermentação entérica de outros animais (15%) e pelo manejo de dejetos animais (11%).

http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,nutricao-certa-reduz-emi…

Criação intensiva é uma das ferramentas contra efeito estufa
Pasto tratado como lavoura, bem adubado e mais nutritivo permite que animal aproveite melhor o alimento

Fernanda Yoneya

No Instituto de Zootecnia (IZ-Apta), em Nova Odessa, as pesquisas são feitas com bovinos, para avaliar e quantificar a emissão de metano. Segundo o pesquisador João José Assumpção de Abreu Demarchi, foi adaptada, há dez anos, a tecnologia de quantificação do gás gerado pelos bovinos. "Mais de 95% dos gases emitidos pelos ruminantes saem pelo arroto. Como esse metano é gerado no rúmen é chamado de metano entérico", explica. "O boi transforma a energia do alimento em carne, leite e movimento. De 4% a 16% dessa energia perdida pelo animal vira metano."
Por meio de convênio com a US Environmental Protection Agency (EPA), o método de quantificação foi adaptado do modelo americano para as condições de criação a pasto do Brasil, segundo a pesquisadora Magda Aparecida de Lima, da Embrapa Meio Ambiente.
Óxido nitroso. O próximo passo é comparar as emissões não só de metano, mas de óxido nitroso - que está relacionado à urina e fezes dos animais - e de gás carbônico em diferentes sistemas de produção. "Vamos fazer um balanço entre emissões de gases do efeito estufa e sequestro de carbono no solo pelas pastagens, por exemplo", diz Magda.
Demarchi diz que é importante, ao avaliar o sistema produtivo, considerar o processo de forma completa, não só sob critérios pontuais. Por exemplo: um animal que come um pasto novo, com alto valor nutritivo, vai aproveitar melhor esse alimento e gerar menos metano por quilo de matéria seca ingerida do que um animal que come um pasto velho, pobre em nutrientes.
Porém, como o capim é de boa qualidade, o boi vai comer mais do que o outro. O que pode haver nesse caso é uma compensação, com dois animais consumindo alimentos diferentes e emitindo metano em quantidades semelhantes.
A diferença, porém, é que o animal que come melhor ganha peso mais rápido, é abatido mais cedo e o total de metano produzido em sua vida produtiva será menor. "É preciso analisar o processo. Mais adequado é calcular quanto de metano é produzido por quilo de carne produzida."
Criação intensiva. Cabe ao produtor, portanto, investir na intensificação da produção para reduzir a produção individual de metano pelo animal. "Investir em uma dieta equilibrada pode reduzir em até 30% as emissões de metano", garante Demarchi. Isso significa dar à pastagem tratamento de lavoura, com análise de solo, adubação, pastejo rotacionado, ajustando a lotação animal e colheita no ponto certo. "Um capim bem manejado pode sequestrar carbono e ajudar nessa equação."
Para comprovar, tese de doutorado defendida em 2007 no Instituto de Química de São Carlos/USP constatou que um pasto bem manejado de Brachiaria decumbens pode armazenar até 223 toneladas de carbono; esse capim ocupa 80 milhões de hectares no País.
"Onde o manejo foi mais intensivo o sequestro de carbono foi maior", completa o pesquisador Ladislau Martin Neto, da Embrapa Instrumentação Agropecuária.

Emissões
Quanto a agricultura contribui
16% na emissão de CO2 é a participação da agropecuária, antecedida pelos setores de energia (58%) e processos industriais (22%).
70,5% na emissão de CH4 vem da agropecuária, cujas maiores emissões vêm de ruminantes (64,4%)

OESP, 28/07/2010, Agrícola, p. 8-9

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