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Número de incêndios é o maior em 12 anos

O Globo, Rio, p. 26
29 de Jul de 2006

Número de incêndios é o maior em 12 anos

Devido à seca, área equivalente a 7.500 campos de futebol já queimou em florestas do Rio, 25% a mais do que em 2005
O número de registros de incêndio em vegetação em 2006 é o maior dos últimos 12 anos, revela o Grupamento Florestal do Corpo de Bombeiros. De janeiro até ontem, houve 7.030 focos no estado, 29% a mais do que em todo o ano passado, quando ocorreram 5.436 queimadas. Só este mês, castigado por uma forte estiagem, foram 1.497 registros, quase quatro vezes mais do que os 398 de julho de 2005. A área atingida de janeiro até agora também é recorde: 7.500 hectares (o equivalente a 7.500 campos de futebol) de vegetação, 1.500 hectares (ou 25%) a mais do que o total de 2005.
Entre os grandes incêndios (cujas chamas formam uma parede de pelo menos 30 metros de extensão), o total registrado de 1o a 27 de julho pelo principal satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) é 1.000% maior que o do mesmo período de 2005: 77 contra sete. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) ainda não comparou a atual estiagem - que começou em meados de junho - a outras, mas classificou-a como atipicamente intensa.
Inpe: agosto e setembro terão ainda mais incêndios
Ainda segundo a meteorologia, o tempo seco deve dar lugar à chuva e ao frio, na madrugada de domingo. Mas por pouco tempo. A partir da metade da próxima semana, o tempo abre de novo. E, de acordo com Alberto Setzer, coordenador do Programa de Monitoramento de Queimadas do Inpe, o alto número de incêndios foi só "um aquecimento" para o que está por vir.
- O que tivemos até agora representa apenas 10% do que ainda veremos no ano. Os meses de agosto e setembro, tradicionalmente mais secos, devem ser muito duros - explica. - Agora, é preciso destacar que a estiagem é só parte do tripé das queimadas: questões econômicas e falta de fiscalização são fatores importantes. Sem chuva, não dá para culpar os raios. Os atuais incêndios são criminosos.
Somente ontem, três mil bombeiros dos 105 quartéis do estado trabalharam para tentar debelar 141 focos de incêndios em florestas, o maior número num só dia desde o início do ano. Até o final da tarde, já haviam sido destruídos 120 hectares de vegetação. No maior dos incêndios, 40 hectares de mata foram queimados no Morro de Caxambu, entre Teresópolis e Petrópolis, dentro do Parque Nacional da Serra dos Órgãos.
Também na Serra dos Órgãos, um segundo incêndio consumiu, até o fim da tarde, pelo menos 20 hectares de mata na Área de Proteção Ambiental de Guapimirim, em Parada Modelo. O incêndio começou, segundo os bombeiros, às margens da BR-116 (Rio-Teresópolis). Noventa bombeiros de três quartéis trabalharam no combate ao fogo. Um terceiro incêndio no parque nacional atingiu a área de Quebra-Frascos, onde foram atingidos cerca de dez hectares de vegetação.
- A floresta está muito esturricada por causa da estiagem. O incêndio em Guapimirim começou às margens da estrada. Não caiu qualquer raio ou poste de rede elétrica. Não nos sobram muitas opções de causa que não a mão humana - analisa o coronel Marcos Silva, chefe do Estado-Maior do Corpo de Bombeiros.
O Parque Estadual da Pedra Branca, na Zona Oeste do Rio, também foi atingido pelo fogo. Com 125 milhões de metros quadrados, a reserva ocupa 11% do território da cidade do Rio e tem limites com diversos bairros da região, como Jacarepaguá, Barra, Campo Grande e Realengo. Bombeiros de quatro quartéis trabalharam ali até o fim da tarde, quando o fogo foi controlado. Segundo o coronel Marcos Silva, dez hectares foram queimados.
Última chuva significativa no estado foi em 17 de junho
Administrador da Pedra Branca, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) sustenta que o fogo nas suas reservas atingiu uma área menor de janeiro até anteontem do que no mesmo período de 2005: 25,7 hectares contra 25 hectares. Presidente do IEF, Maurício Lobo minimizou os incêndios, explicando que ocorreram sobretudo em vegetação herbácea (capim):
- É claro que o ideal é índice zero, mas só um hectare do total destruído nas nossas reservas era de fato floresta.
De acordo com o meteorologista André Madeira, do Instituto Climatempo, não chove significativamente no estado desde 17 de junho, quando houve 13,9 milímetros de precipitação.
Em Penedo, no Sul do estado, a estiagem fez secar o Rio das Pedras, em plena temporada turística de inverno. A água está sendo transportada em caminhões-pipas de Itatiaia e Resende, a mais de 20 quilômetros de distância.

O Globo, 29/07/2006, Rio, p. 26

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