FSP, Opinião, p. A2
Autor: SURUÍ, Txai
30 de Mar de 2024
Novos caminhos
Como Rondônia, 2o maior produtor agropecuário da região Norte e defensor do agro como progresso, tem a pior capital do país?
Txai Suruí
29/03/2024
Porto Velho é a capital mais desigual do Brasil, de acordo com o mapa de desigualdade entre as capitais, divulgado pelo Instituto Cidades Sustentáveis. O estudo foi feito a partir de 40 indicadores sociais e apontou que a capital de Rondônia é a pior do país.
Algumas razões para o ranking são: a sujeira, a destruição ambiental, a educação deficitária, a desigualdade de gênero e uma juventude em perigo.
A cidade tem os piores índices de saneamento básico do território nacional, com as menores taxas de reciclagem, serviços de água e a menor taxa de esgoto tratado (0%). A capital de Rondônia, um estado onde o agronegócio impera e que se mostra pouco preocupado com questões ambientais e com fortes conflitos no campo, é a que mais emite CO² per capita na atmosfera e a segunda em desmatamento, liderando nos focos de incêndio, junto com a cidade de Altamira, no Pará.
Porto Velho é a segunda pior das capitais no índice de pessoas com 14 anos ou mais sem instrução fundamental. A desigualdade de gênero é extremamente preocupante na capital que é líder nacional de feminicídios e campeã amazônica em homicídio de mulheres, além de ter o quarto pior percentual de vereadores na Câmara Municipal. A capital tem os piores indicadores de qualidade de vida para jovens no país, o sexto entre as capitais em mortalidade infantil e em gravidez na adolescência.
Esse estudo me trouxe várias reflexões como moradora de Porto Velho e rondoniense.
Como Rondônia, o segundo maior produtor agropecuário da região Norte, de acordo com o Ministério da Agricultura, e defensor do agronegócio como progresso, tem a pior capital do país? Onde está o chamado progresso refletido para a cidade, para o estado e para as pessoas? Progresso para quem se não para os ricos e grandes latifundiários?
Existe um discurso que o agronegócio carrega o Brasil nas costas, mas na verdade é o Brasil que carrega o agronegócio nas costas. Não é o agronegócio que alimenta as pessoas, pois o que ele produz são commodities para serem exportadas. O povo é alimentado pela agricultura familiar. O agro traz conflitos e violência no campo. "Na verdade é um setor que recebe muito e pouco retribui com o país", afirma o professor doutor Mitidiero Junior.
Fortalecer a ideia de destruição da natureza e de um falso progresso não é a solução. As consequências da emergência climática se agravam cada dia mais e precisamos agir agora. Falar de mudanças climáticas, proteção dos territórios indígenas e ambientais, cidades sustentáveis e educação é qualidade de vida para nossas comunidades. Reflorestar as matas, mentes e corações é preciso. Fortalecer a bioeconomia dos povos da floresta. Apostar no futuro.
FSP, 30/03/2024, Opinião, p. A2
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2024/03/novos-caminhos…
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