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Novo vazamento nuclear em Caetité

CB, Brasil, p. 8.
24 de Out de 2012

Novo vazamento nuclear em Caetité

JULIA CHAIB

Mais um acidente na mina das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Caetité (BA), mexeu com a rotina da população local. Segundo membros do Sindicato dos Mineradores de Brumado e Microrregião (Sindmineradores) cerca de 400kg do mineral radioativo caíram no solo da indústria na última quinta-feira. A Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnem), por outro lado, afirma que foram 100kg. De acordo com a Cnem, o acidente não provocou prejuízos ao solo nem aos trabalhadores. Entretanto, falhas relacionadas à segurança em Caetité são recorrentes e os trabalhadores sentem-se inseguros. Desde 2000, pelo menos três acidentes foram registrados (veja memória).
Para um dos representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na cidade João Batista Pereira, 39 anos, mesmo que o acidente ocorrido não tenha sido de grandes proporções, o fato não deixa de ser um risco para os trabalhadores. "Não se pode tratar o acidente do dia 18 como pequeno. Independentemente do volume e da quantidade de material que vazou no solo da indústria, isso representa um perigo para as pessoas empregadas lá. No processo, certamente os funcionários ficaram expostos."

Embalagem
O acidente ocorreu durante a última etapa do processo de beneficiamento do material, na qual ocorre a embalagem do produto. Nesta fase, o urânio é colocado em tambores, que suportam cerca de 400kg a 450kg. No momento em que o mineral era inserido nos compartimentos, ele vazou no piso. O urânio da mina de Caetité serve de combustível para as usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2, em Angra dos Reis (RJ). É a única mina em operação no Brasil.
Segundo João Batista Pereira, da CPT, embora ainda não tenha sido constatada uma relação direta com a mina, são muitos os casos de câncer na região. "Além disso, vemos muitas situações de animais que nascem com má formação." O físico especialista em energia nuclear Oyanarte Portiho diz que pelo acidente ter ocorrido na instalação industrial, ele deve ter afetado só quem estava mais próximo. "Para o meio ambiente e quem mora na vizinhança acredito que não tenha problema."
A Cnem, órgão responsável por fiscalizar as atividades da INB, diz estar ciente dos riscos que existem em Caetité e busca maneiras para conter a contaminação. Em 2008, uma investigação conduzida pela ONG Greenpeace mostrou que os poços no local estavam contaminadas com material radioativo. A coleta da água para consumo humano e animal foi feita por uma equipe da organização, em um raio de 20km ao redor da mineração. Pelo menos duas amostras apresentaram contaminação por urânio muito acima dos índices máximos sugeridos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) - 0,015mg por litro de água. Uma delas tinha concentração sete vezes maior.

Colaborou Grasielle Castro

Memória
Problemas recorrentes
Em abril de 2000, 5 mil m³ de licor de urânio vazaram, em decorrência da ruptura das mantas. Em 2004, em decorrência das chuvas, a bacia de retenção de partículas por sedimentação da cava transbordou sete vezes. Houve liberação de efluentes líquidos para o meio ambiente. Devido ao impacto ambiental, fiscais do Cnem elaboraram um parecer contrário a renovação da instalação de operação da mina - documento que foi desrespeitado.

Em 2009, 500 litros de solvente de urânio vazaram na unidade de extração. Na época, a INB negou prejuízos aos trabalhadores e ao meio ambiente. Em maio de 2011, assustada, a população se mobilizou contra a entrada de carretas com material supostamente radioativo na cidade.

Correio Braziliense, 24/10/2012, Brasil, p. 8

http://impresso.correioweb.com.br/app/noticia/cadernos/brasil/2012/10/2…

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