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Novo Plano Diretor prevê mais área verde em SP

FSP, Cotidiano, p. C1, C3
08 de Ago de 2009

Novo Plano Diretor prevê mais área verde em SP
Área arborizada (parques e praças) deve aumentar em 29 das 31 subprefeituras
Vila Mariana e Ermelino Matarazzo não terão novos espaços; mesmo com projeto, 19 distritos terão menos verde do que recomenda a OMS

Mariana Barros
Da reportagem local

Daqui a sete anos, a cidade de São Paulo pode ficar um pouco mais verde se as metas previstas no novo Plano Diretor do município forem cumpridas.
A proposta, que ainda está em discussão e deve ser entregue à Câmara até o final do ano, prevê a ampliação das áreas arborizadas em 29 das 31 subprefeituras. As únicas que não devem ganhar espaços verdes são Vila Mariana (zona sul) e Ermelino Matarazzo (zona leste).
Segundo a Secretaria do Verde, responsável pelo plano, isso não significa que essas regiões não possam ganhar mais árvores nos próximos anos. Mas, atualmente, não há áreas municipais nem particulares passíveis de desapropriação que possam virar parques.
Mas, mesmo se tudo der certo, moradores de 19 dos 31 distritos da cidade continuarão, em 2016, a ter menos verde do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde -12,13 m2 por morador.
O índice atual na cidade de São Paulo é de 11,58 m2.

Mais verde
Pelas metas do Plano Diretor, a prefeitura planeja uma ampliação das áreas verdes equivalentes a 33 parques Ibirapuera. Não há uma previsão do custo total da proposta.
O Plano Diretor é uma revisão do conjunto de diretrizes que nortearão os rumos da cidade pelos próximos anos. Nada acontece, porém, se as metas não forem cumpridas pela administração.
Na Subprefeitura da Capela do Socorro (zona sul), que abarca os distritos de Socorro, Cidade Dutra e Grajaú, está previsto o maior aumento de áreas verdes entre todas as unidades administrativas da capital.
O índice atual, de 1,42 m2 verde por morador, subirá para 12,13 m2 verdes em 2016.

Desapropriação
De acordo com a Secretaria Municipal do Verde, para ampliar a criação de parques, praças e canteiros serão usadas áreas municipais e também particulares, que deverão ser desapropriadas.
"Estamos estudando 185 áreas privadas, com um universo variado de tamanhos, que podem ser desapropriadas", afirma a geóloga Patrícia Seppi, do setor de planejamento ambiental da Secretaria do Verde.
De acordo com a geóloga, devem ser implantados 50 novos parques na cidade de São Paulo até 2012, quando acaba a gestão do prefeito Gilberto Kassab (DEM).
A secretaria informou que a verba virá do orçamento da pasta (R$ 197 milhões), do Fema (Fundo Especial de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, de R$ 93,6 milhões) e do Fundurb (Fundo de Desenvolvimento Urbano, de R$ 52 milhões) -este último a ser totalmente aplicado na implantação de parques lineares.
Outras fontes de recursos serão as parcerias e contrapartidas pagas por terceiros.
A construção do Rodoanel, por exemplo, prevê como compensação ambiental a criação de áreas verdes pagas pela Dersa (Empresa de Desenvolvimento Rodoviário).
Já a Sabesp deve firmar um convênio para adquirir áreas no entorno das represas Billings e Guarapiranga para preservá-las. Outorgas onerosas, que são permissões para construir além do permitido mediante o pagamento de determinada quantia, também devem alimentar o programa.
A pasta conta ainda com a verba proveniente de parcerias firmadas com a Emurb (Empresa Municipal de Urbanização) e com as subprefeituras.
De acordo com a secretaria, serão 50 milhões de metros quadrados de áreas protegidas ao final da gestão, em 2012.

SP tem desigualdade verde, diz pesquisadora
Para Sandra Gomes, do Centro de Estudos da Metrópole, as taxas de arborização de cada subprefeitura são contrastantes
Áreas mais pobres da cidade sofrem mais com a falta de verde; em Guaianases (zona leste), há quarteirões sem uma única árvore

Da reportagem local

Apesar de o índice médio de áreas verdes por habitante em São Paulo estar muito próximo do parâmetro mínimo estabelecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde), as taxas de cada subprefeitura são muito contrastantes.
Segundo Sandra Gomes, pesquisadora da ONG Centro de Estudos da Metrópole, que estuda São Paulo, a cidade sofre com a desigualdade social, econômica e também ambiental.
Para se ter uma ideia, enquanto os moradores da subprefeitura de Parelheiros (extremo sul) contam com 197,17 m2 de área verde por habitante, a taxa em Cidade Ademar (também extremo sul) é de 0,63 m2 por morador.

Distribuição vegetal
De acordo com Sandra, existem, grosso modo, quatro tipos de distribuição vegetal na cidade de São Paulo.
Há locais com uma biodiversidade rica, onde há resquícios de vegetação nativa, caso de Parelheiros e da área da Serra da Cantareira (zona norte).
Há também manchas verdes preservadas em meio a áreas urbanas, como o parque do Carmo ou o parque do Estado (ambos na zona leste). Outro tipo são os bairros jardins, bastante arborizados, como Alto de Pinheiros e Alto da Lapa (ambos na zona oeste).
Por fim, existem os locais com total ausência de cobertura vegetal, onde a ocupação não levou em conta a necessidade de preservação.
Em Guaianases (zona leste), é possível percorrer quarteirões sem que se veja uma única copa de árvore. Calçadas estreitas e casas muito próximas umas às outras, com pouca área externa -fatores resultantes de uma ocupação rápida e sem planejamento-, dificultam ainda mais a existência de espaços arborizados.
E a situação não deve melhorar. Mesmo com previsão de ganhar 29 mil metros quadrados de área verde até 2016, a proporção por habitante vai se manter quase igual.
"O problema é que, em certas áreas, a população cresce em um ritmo muito mais acelerado do que é possível criar áreas verdes", diz Sandra.
Para ela, a política ambiental tem de ocorrer em conjunto com a política habitacional. "Reverter a carência de espaços arborizados depois que uma cidade está consolidada não é uma tarefa simples. Não é fácil para o poder público achar terra que possa ser convertida em cobertura vegetal", afirma.
A pesquisadora ressalta que, mesmo nas ruas, o plantio de árvores nas periferias compete com a passagem de pedestres e com a estrutura de fiação.
Questionada sobre as áreas verdes de Guaianases, a tradutora Graziela Albuquerque, 24, responde: "Não posso comentar sobre algo que não existe aqui". "Da minha casa, só vejo algumas árvores em uma pedreira próxima, onde não posso entrar." Ela, seus pais e seu irmão sofrem de bronquite.
"Tentamos plantar uma árvore em casa, mas era pequena e os moleques quebraram para pegar uma pipa que tinha enganchado. E, na calçada, se plantar, ninguém passa", diz. (Mariana Barros)

FSP, 08/08/2009, Cotidiano, p. C1, C3

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