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Novo estudo associa ondas de calor nos EUA à ação humana

O Globo, Ciência, p. 30
07 de Ago de 2012

Novo estudo associa ondas de calor nos EUA à ação humana
Diretor de centro da Nasa diz ter provado mudanças climáticas

Um dos pioneiros no estudo das mudanças climáticas nos EUA, James Hansen, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, apresentou ontem pesquisa em que atribui as recentes ondas de calor no Hemisfério Norte à ação humana. Hostilizado no governo de George W. Bush por sua defesa do combate às mudanças climáticas, Hansen voltou a ocupar um dos cargos mais importantes da agência espacial americana na administração de Barack Obama. A pesquisa, publicada no "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS), um dos mais respeitados periódicos científicos do mundo, diz ser impossível não haver relação entre as ondas de calor de 2010 e 2011 e as mudanças no clima.
Com base em dados históricos e partindo de uma abordagem empírica, Hansen e sua equipe compararam as recentes altas na temperatura da superfície do planeta nos meses de junho, julho e agosto (verão) no Hemisfério Norte com o período de 1951 a 1980, revelando que os verões extremamente quentes ocorreram com mais frequência nos últimos anos e concluindo que estas ondas de calor - como as que atingiram a Europa em 2003, a Rússia em 2010 e os EUA no ano passado, causando milhares de mortes e bilhões de dólares em prejuízos -, não teriam acontecido se não fossem as mudanças climáticas associadas à intensificação do aquecimento global. Segundo Hansen, este contínuo aumento das temperaturas deverá fazer com que os verões severos se tornem a regra.
"Este estudo não é um modelo climático ou uma previsão, mas observação real de eventos e temperaturas que já aconteceram", alertou Hansen em editorial publicado no jornal "Washington Post" do último sábado, em que adiantou alguns pontos do estudo no "PNAS". "Nossa análise mostra que já não é mais suficiente dizer que o aquecimento global aumentará a probabilidade de condições climáticas extremas, nem repetir a ressalva de que um evento seria diretamente ligado às mudanças climáticas. Mostramos que, para o clima quente do passado recente, não há explicação, além das mudanças climáticas ligadas à ação humana".
Hansen destacou que, até recentemente, os pesquisadores não conseguiam discernir se eventos extremos como as ondas de calor eram fruto de variações locais ou se estavam atreladas às mudanças climáticas globais.
As dúvidas começaram a se dissipar a partir da década de 1980. Nos 30 anos anteriores, as temperaturas extremamente quentes se manifestaram em uma área menor que 0,2% da superfície terrestre do planeta, e os verões severos só fizeram estragos em um terço dos anos analisados. Já entre 1980 e 2008, o calor excessivo provocou problemas em 75% dos anos, afetando cerca de 10% da superfície do planeta.
Hansen tampouco reconhece o papel de fenômenos como o El Niño, visto que eles sempre existiram e não surgiram só nos últimos anos. Portanto, não podem ser culpados pelas temperaturas maiores.

O Globo, 07/08/2012, Ciência, p. 30

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