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Novo Código anistia multas dos doadores de 50 políticos

FSP, Poder, p. A10
07 de Dez de 2011

Novo Código anistia multas dos doadores de 50 políticos
Empresas doaram cerca de R$ 15 mi em 2010, quando texto já era debatido
Parlamentares negam que as contribuições tenham pesado no voto e dizem que não estão defendendo criminosos

LÚCIO VAZ
DE BRASÍLIA

Empresas que poderão ter multas ambientais suspensas com a aprovação do novo Código Florestal contribuíram no ano passado com cerca de R$ 15 milhões para financiar a campanha de 50 congressistas que participaram das discussões do projeto no Congresso nos últimos meses.
É o que revela cruzamento de autos de infração do Ibama com as doações eleitorais contabilizadas pelos partidos. As contribuições foram feitas no pleito de 2010, quando a reforma do código já estava em discussão na Câmara. O valor é 42% maior que o total doado pelas mesmas empresas na eleição de 2006.
As empresas foram autuadas, num total de R$ 1,6 milhão, por irregularidades como destruir vegetação nativa, áreas de preservação permanente, e consumir carvão de mata nativa. Algumas também receberam multas impostas pela Justiça.
O Senado Federal aprovou ontem à noite o projeto do novo Código Florestal. Com a nova lei, as empresas que aderirem a programas de regularização ambiental terão suas multas suspensas e convertidas em serviços de recuperação ambiental.
Entre os senadores que receberam dinheiro dessas empresas e agora participam dos debates sobre a norma estão Ricardo Ferraço (PMDB-ES), Wellington Dias (PT-PI) e Delcídio Amaral (PT-MS).
Dos deputados, quase todos apoiaram as mudanças no Código. Luiz Carlos Heinze (PP-SC), que recebeu R$ 150 mil da SLC Agrícola, declarou que não está defendendo "criminosos".
Governadores, que têm grande influência sobre as bancadas estaduais, levaram R$ 4 milhões. Jaques Wagner (PT-BA) e Renato Casagrande (PSB-ES) ficaram com as maiores quantias.
As indústrias de celulose ficaram entre as maiores doadoras do grupo. A Fibria, que tem multas de R$ 946 mil pendentes no Ibama, deu R$ 4,7 milhões às campanhas. Ela tem ainda 50% das ações da Veracel Celulose, multada pela Justiça em R$ 20 milhões e em R$ 390 mil pelo Ibama.
O senador Dias recebeu R$ 150 mil da Suzano Celulose, mas não vê conflito de interesse nesse caso: "Seria muito pequeno um parlamentar colocar o mandato a serviço de interesses individuais de uma empresa". Ele disse que a empresa investirá R$ 6 bilhões numa fábrica no Piauí.
Delcídio Amaral disse que as doações foram feitas legalmente e que "não se pode condenar previamente a empresa". Por sua vez, Ferraço recebeu R$ 150 mil da Fibria, mas rejeita a suspensão.

Outro lado
Empresas dizem que as doações são todas legais

DE BRASÍLIA

As empresas defenderam a legalidade das doações.
A Fibria diz que não comenta processos em curso. Afirma que suas atividades estão devidamente regulares e que faz doações legais "observando as melhores práticas de ética e transparência".
A Suzano diz que as infrações estão relacionadas ao furto de madeira por terceiros. Os argumentos da empresa estão aguardando "análise jurídica para serem encaminhados para decisão".
A SLC alega que vai provar que a vegetação não foi suprimida após o período de validade da autorização de desmate, como afirma o Ibama.
A Bedin Agropecuária nega ser dona do imóvel referente ao processo e por isso não pagou a multa e recorreu.
A MMX diz que a multa não se enquadra nas normas que permitem o cancelamento da pena e que tentará um acordo com o Ibama. A Ultrafertil e Guidoni não comentaram.

FSP, 07/12/2011, Poder, p. A10

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/13494-novo-codigo-anistia-multas…

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