Novas tribos do Brasil

Grupos quase aculturados recuperam a tradição ancestral e aumentam a lista de povos nativos no país

A década de 90 marcou uma virada inédita na trajetória dos índios brasileiros. A população, que só fazia minguar desde a chegada de Pedro Álvares Cabral, cresceu 17% entre 1995 e 2000, taxa mais alta que a dos demais brasileiros. Hoje, 300 mil habitam reservas indígenas e 50 mil vivem nas cidades ou no campo. São donos de 12% do território nacional. A novidade é que o número de tribos também está aumentando. Um levantamento recente feito pelo Instituto Socioambiental, de São Paulo, revelou que há 216 diferentes tribos no Brasil, dez a mais que o apurado na última pesquisa, de 1995. Esse dado é um dos destaques do livro Povos indígenas no Brasil - 1996/2000, lançado nesta semana. A Fundação Nacional do Índio (Funai) estima a existência de 16 grupos ainda não contatados pelo homem branco. Mas a maioria das novas tribos já era conhecida. São povos que passaram a viver como caboclos ou ribeirinhos na Amazônia. Quando descobriram que a condição de índios lhes daria direitos especiais, como assistência médica e demarcação das terras, decidiram recuperar a língua e o passado. Isso ocorreu com os índios nauas, do Parque Nacional da Serra do Divisor, no Acre, que resolveram reivindicar a identidade e a posse de uma fatia do parque. No início do ano, ganharam um laudo antropológico da Funai que atesta serem de fato um povo com história e tradições próprias. Os índios xetás, do Paraná, também emergiram do esquecimento. Descobertos por sertanistas na década de 50, foram quase extintos. Oito deles sobreviveram, misturando-se a outros grupos, como os caingangues. Há dois anos, reuniram-se de novo. Somam cerca de 30 pessoas, contando os filhos que tiveram na convivência com outras tribos. Estão dispostos a retomar as antigas tradições xetás. A Funai promete comprar terras para alocá-los. Há dois anos, pesquisadores da fundação descobriram que os índios chiquitanos da Bolívia têm 26 aldeias plantadas há séculos no lado brasileiro, em Mato Grosso. Histórias desse tipo fazem engrossar a lista de tribos indígenas. O Brasil é um país ainda em formação, diz o antropólogo Beto Ricardo, editor do livro.