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Nova realidade dos velhos Xoclengue

Agência de Notícias-Florianópolis-SC
Autor: Marco Aurélio Braga
14 de Mar de 1999

Índios adultos deixam de lado as tradições. Já as crianças vão para escola aprender a língua nativa

Ibirama - Sentada num banco de madeira, olhando para o horizonte, a velha índia xoclengue não sabe falar uma palavra em português. Do outro lado da aldeia, aos oito anos de idade, Doriléia Culá Priprá ensaia as primeiras frases na língua de seus antepassados. Os dois pontos distintos retratam como é a vida na reserva Duque de Caxias (que corta os municípios de Ibirama, José Boiteux, Itaiópolis, Doutor Pedrinuo e Vitor Meireles), no Alto Vale do Itajaí. Os índios da localidade (xoclengue, caingangue e guarani), cerca de 1.200, buscam resgatar sua identidade perdida no decorrer dos anos. O começo do retorno à suas origens está iniciando na escola, onde professores brancos ensinam pequenos índios a entender a própria história e aprender um pouco mais da língua nativa.

Durante séculos, os xoclengue dominavam as florestas que cobriam as encostas das montanhas, os vales litorâneos e as bordas do planalto no Sul do País. Eles viviam como nômades e sobreviviam da pesca e da coleta de mel silvestre. Guarani, caingangue e xoclengue mantinham uma guerra pelo poder do território. O homem branco ainda não havia chegado.

Rotina

Neste período, a vida transcorria dentro de uma rotina premeditada: homens fabricavam arcos, flechas, lanças e outros artefatos necessários para a sobrevivência. As mulheres teciam com fibra de urtiga mantas que serviam de agasalhos durante o inverno, cuidavam das criança, faziam pequenas panelas de barro e cestos de taquara para preservar os alimentos.

Andavam em grupos e as crianças eram educadas conforme o cotidiano, aprendendo deveres que futuramente lhe serviriam para a própria sobrevivência. Os xoclengue tinham língua própria, cultura e território que os diferenciava das outras nações indígenas. O nome xoclengue é apenas uma palavra de vocabulário pela qual eles foram identificados na literatura antropológica. Regionalmente, continuam a ser os botocudos, em conseqüência do uso pelos homens de um enfeite labial denominado tembetá, ou os bugres, termo pejorativo também dado pelos brancos.

A realidade do índio no Sul do País, obviamente, está bastante modificada. Com a chegada do europeu, no século 16, iniciou-se um processo de mudança que até hoje persiste.

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