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A nova maldição

Istoé-São Paulo-SP
Autor: AMAURY RIBEIRO JR.
02 de Dez de 2002

Reserva indígena, que pode ter a maior mina de diamantes do mundo, é explorada pelo crime organizado, que fatura US$ 20 milhões por mês

SEM CONTROLE Uma grande área da reserva dos índios cinta larga (acima os caciques Jan, Tataré e Naçoca-Piu) já foi devastada em busca dos diamantes

Numa sala dos fundos da joalheria Oriental, no centro do município de Juína, no Mato Grosso, o comerciante Rogério de Souza desdobra uma folha de veludo preto e espalha sobre a mesa centenas de pequenas pedras brilhantes. Depois de separar com uma pinça um lote de diamantes maiores, o comerciante anuncia o preço do produto: R$ 150 por quilate (1/5 de grama). "Veio de longe. Mas se você quiser as pedras boas e grandes dos índios tem de avisar antes. Na semana passada, um garimpeiro de Rondônia estava pedindo US$ 6 milhões por uma raridade de mais de 100 quilates", disse Rogério à reportagem de ISTOÉ.

A exemplo dos demais escritórios
de diamantes do município, a Oriental fica na avenida 9 de Maio,
o local preferido dos garimpeiros
e dos compradores da Bélgica, de Israel e de vários outros países.
O comércio de pedras também
é intenso nos principais hotéis
da cidade. "IMG Comércio de Diamantes", anuncia uma placa colocada no apartamento 202
do Hotel Caiabi. Era nesse escritório improvisado que despachava o contrabandista de Tel-Aviv Israel Mattiyahu Garby, preso em março
do ano passado pela Polícia Federal no Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande (MT), quando tentava contrabandear dois quilos de diamantes. Uma carga avaliada em R$ 1,5 milhão ao preço
do mercado de hoje. A prisão de Garby, no entanto, não foi suficiente para afugentar os compradores estrangeiros. No mesmo hotel, o belga Luix Uícus, não hesitou em dizer a ISTOÉ por meio do amigo Talai Did
o que procurava na cidade: "Diamantes grandes e bonitos." Did e Uícus somente perderam a calma e encerraram a conversa quando
foram perguntados sobre a legalidade da transação.

Esse cenário explica por que Juína, município cercado por várias reservas indígenas, na divisa de Mato Grosso com Rondônia, é conhecido por manter em funcionamento a bolsa de diamantes do País. Na década de 90, esse título, escrito em duas torres erguidas na avenida 9 de Maio
pelo israelense Izac Ben David,
se devia à grande produção de diamante industrial no município. Minúsculo, escuro e vendido a preços bem inferiores para indústrias
de ponta, esse tipo de diamante anda em queda, mas é o único
produzido nos garimpos do município. A Polícia Federal, o Ministério Público Federal, e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sabem
que as pedras preciosas que atraem compradores e contrabandistas
para Mato Grosso têm outra procedência: a reserva Roosevelt dos
índios cinta larga. Ocupando uma área de 2,6 milhões de hectares nos Estados de Rondônia e do Mato Grosso, a reserva foi presenteada com um raro kimberlito (rocha vulcânica onde é encontrado diamante).

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