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Nova invasão de terra ameaça frágil trégua em Pau Brasil

A Tarde- Salvador-BA
Autor: Ana Cristina Oliveira
22 de Jul de 2002

A invasão da Fazenda São Pedro por cerca de 150 pataxós hã-hã-hãe, ameaça pôr fim, a qualquer momento, à frágil trégua que a Polícia Militar está sustentando em Pau Brasil. Os índios, com muitas crianças, estão acampados do lado externo da sede da fazenda, situada na região do Córrego Verde, de propriedade de Raimundo Alves, cujos familiares ameaçam tirar os invasores à força, apesar da presença de agentes da Polícia Federal, deslocados até a área para evitar o conflito.
Iniciada na última quinta-feira, quando os ânimos em Pau Brasil já estavam muito acirrados com o assassinato do índio Raimundo Neres, a nova invasão mexe com produtores de pecuária da região, que, segundo lideranças indígenas, formaram um cordão de isolamento com pistoleiros fortemente armados. "Eles disseram para tirarmos as crianças, porque vai correr sangue, mas a cada ato de violência deles nós responderemos com mais ocupações de fazendas", disse o ex-cacique e conselheiro pataxó, Manoel Muniz.
O líder da ocupação, Nailton Muniz, propôs ao produtor ficar na fazenda até que o Grupo Técnico (GT) da Funai faça a medição e pague a indenização das benfeitorias, mas o proprietário não aceitou e pediu a intermediação da Polícia Federal para não haver confronto.
Os índios dizem que não desistem de recuperar os 54,1 hectares que lhes pertencem.
O chefe do Posto da Funai na Reserva Caramuru, Alberto Evangelista, demonstra preocupação porque familiares do proprietário ameaçaram os invasores na presença dos parlamentares da Comissão de Direitos Humanos, durante uma reunião que tentava um acordo entre as partes.
Ele teme por sua própria vida, porque tem sido acusado de ser mentor de todas as ações indígenas e há dois dias teria recebido um aviso de que os fazendeiros Marcos Vinícius Guimarães, Durval Santana e Paulo Leite planejam eliminá-lo dentro de casa. "Já denunciei às polícias Civil, Militar e Federal e espero que não continuem minimizando o que digo, porque a violência continua acontecendo", disse ele.
Barreiras
Ontem, grupos de dez a 15 policiais militares do Comando de Operações Especiais, armados até com metralhadoras, revistavam com rigor todos os veículos nas barreiras montadas na entrada da cidade e nas estradas de acesso às áreas indígenas, em busca de armas. O ex-cacique Nailton Muniz protestou porque os policiais estavam apreendendo até as bordunas (armas indígenas feitas de madeira), consideradas artesanato pelos pataxós.
Preocupados com o clima de revide que se instaurou entre as partes em conflito, uma
comissão de líderes pataxós viaja amanhã para Brasília, a fim de tentar uma audiência com o ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro.
Os índios voltaram a denunciar que o Supremo Tribunal Federal (STF) está retardando o julgamento da ação de nulidade de títulos mobiliários, que a Funai impetrou em 1982, pressionado por pessoas e empresas com forte poder político, interessadas em explorar o solo e o subsolo das terras pataxós, ricos em minerais, especialmente mármore e granito azul. Os fazendeiros negam esse interesse, alegando que uma empresa explora há 30 anos minério em Itaju do Colônia, município integrante da reserva pataxó, e a atividade não se expandiu na
região.

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