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Nova fronteira

Valor Econômico, Especial, p. F1
17 de Nov de 2014

Nova fronteira
Explorar a riqueza da Amazônia, com preservação do equilíbrio ambiental, é um grande desafio para as empresas.

Por Roberto Rockmann | Para o Valor, de São Paulo

Uma das regiões com maior potencial de jazidas minerais no planeta, a Amazônia deverá se tornar uma das principais fronteiras da indústria de mineração no mundo ao longo dos próximos anos. Explorar essas riquezas de forma sustentável, preservando o equilíbrio ambiental, é o grande desafio das empresas que conduzem pesquisas geológicas e das mineradoras. "A mineração do futuro envolve o tripé: função social, sustentabilidade e competitividade. Quanto menos recursos naturais forem aproveitados, menores os custos de produção", afirma o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), José Fernando Coura.
Entre 2014 e 2018, a indústria prevê investimentos de US$ 53,6 bilhões no Brasil, com destaque para minério de ferro, que deverá responder por dois terços desse montante, com US$ 35 bilhões. Em segundo lugar vem o potássio, com US$ 7 bilhões em recursos, e a bauxita, com US$ 2,97 bilhões. Minas Gerais deve continuar liderando investimentos, com US$ 22,4 bilhões, ou 41% do total previsto, mas a região Amazônica está mais presente: o Pará será o segundo principal destino de investimentos, com projeção de atrair US$ 11,7 bilhões, 22% do total investido. Já o Amazonas deve ficar com cerca de US$ 2 bilhões, respondendo por 3,5% dos recursos a serem aplicados.
Hoje o setor vive um ciclo de baixa dos preços, que caíram aos menores níveis em quase dez anos, diante de um excesso de oferta de metais, com destaque para o minério de ferro, e da redução do ritmo da economia chinesa, que deixou de crescer dois dígitos por ano. Mas o cenário de médio e longo prazos continua positivo. "A China ainda deve crescer 7,5% ao ano, a Indonésia, com 200 milhões de pessoas, cresce 3% ao ano, a Índia poderá crescer 10% ao ano nos próximos dez anos, a Ásia continuará sendo o centro da demanda mundial", estima Ronaldo Valiño, líder de mineração da PwC.
No contexto atual, as empresas devem reforçar a lição de casa e trabalhar com projetos de redução de custos e desinvestimento em áreas não estratégicas.
Os investimentos minerais no Norte têm tido impacto sobre as economias locais. Ano passado, a balança mineral do Pará registrou um saldo total de US$ 11,9 bilhões. Em 2012, esse saldo foi de US$ 10,4 bilhões. As exportações de bens minerais têm uma representação significativa no Estado, representando 75,8% do total exportado no ano passado. Em 2013, o Estado representou 73,3% das exportações de cobre e 30,3% do minério de ferro no Brasil.
Investir em jazidas na região Norte implica discutir os impactos dos projetos com a sociedade. "Há ideias equivocadas entre as pessoas sobre os impactos da atividade de mineração, com muitos achando que o cenário é de total destruição do meio ambiente, com extinção de nascentes, poluição do solo", afirma Coura. Recente estudo do Ibram, realizado pela FGV e concluído em setembro, indica que o impacto da atividade, em especial do minério de ferro, seria muito baixo se comparado a outras atividades.
Segundo dados do estudo, o minério de ferro impacta uma área de 128 mil hectares no Brasil, enquanto outras atividades, como agricultura e pecuária, chegam a ocupar, isoladamente, uma área até 1.241 vezes maior. Se forem considerados em conjunto com a área ocupada pela mineração, o valor adicionado ao PIB e a geração de emprego, o estudo aponta que o impacto seria ainda menor: o minério gera 10,2 empregos por hectare impactado, 155 vezes mais que outros setores intensivos, e adiciona R$ 417 mil para cada hectare, 819 vezes mais.
O cuidado com o meio ambiente está na agenda das empresas. A Vale pretende dar um salto em suas operações de minério de ferro até o fim desta década. Parte dessa expansão se dará com as operações no Pará, cuja província de Carajás detém uma das maiores reservas de alta qualidade de minério no mundo. Conhecido no mercado como S11D, o projeto prevê o acréscimo de 90 milhões de toneladas anuais de metal e investimentos de cerca de US$ 20 bilhões.
Uma das novidades do projeto é a adoção de um sistema que evita o uso de caminhões. No lugar de usar cem veículos pesados para a operação, serão instalados 37 km de correias transportadoras. A substituição, além de diminuir a quantidade de resíduos, como pneus, filtros e lubrificantes, permitirá a redução de 77% do consumo de diesel. Se comparados aos sistemas convencionais, o modelo inovador e o beneficiamento do minério a umidade natural possibilitarão reduzir em 50% as emissões de gases de efeito-estufa (GEE) ou 118 mil toneladas de CO2 equivalentes por ano.
Como em outras minas do Complexo Minerador de Carajás, o projeto usará o sistema de lavra a céu aberto. Esse sistema apresenta algumas vantagens em relação à extração subterrânea, como o menor custo de produção, a facilidade de supervisão, melhores condições de trabalho e redução de riscos para os trabalhadores. O empreendimento pode ampliar a geração de riqueza na região. O salário médio na fase de operação chega a ser cinco vezes superior ao salário médio que prevalecia na economia formal. Segundo o Censo 2010, os dois maiores PIB per capita do Estado, em 2008, eram, respectivamente, Canaã dos Carajás (R$ 48.639,03) e Parauapebas (R$ 45.225,41). Com o projeto S11D, os benefícios poderão ser ainda maiores.
Será preciso avançar na pesquisa mineral. "A região Norte é menos conhecida do ponto de vista geológico e tem potencial para vários minerais; para incentivar esse elo seria preciso pensar na articulação da cadeia mineral e na retomada dos investimentos, que vivem sob a ameaça do Código Mineral", diz Luiz Vessani, diretor da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM). O novo Código de Mineração trará uma novidade em relação à atual lei: o governo irá exigir licitação para todas as outorgas de jazidas minerais a serem exploradas. Hoje quem assume o risco de identificar e explorar se as reservas são comercialmente viáveis obtém a jazida mediante autorização do próprio governo. Teme-se que o processo, além de oneroso, se torne mais burocratizado, o que poderia tornar as operações de pesquisa mais caras.

Valor Econômico, 15-17/11/2014, Especial, p. F1

http://www.valor.com.br/empresas/3780952/nova-fronteira

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