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Notas sobre índios chiquitano

O Liberal
Autor: Elias Januário
26 de Abr de 2001

A região do Oriente Boliviano e do extremo Oeste de Mato Grosso foi palco de conflitos históricos ao longo dos séculos, configurando-se em um espaço de encontros, desencontros, conflitos e alianças entre diferentes grupos sociais, culturas e etnias, que acabaram por marcar a região com uma expressiva diversidade e, conseqüentemente, por relações de alteridade conflituosas no cotidiano das famílias locais.O povo Chiquitano, que aos olhos da sociedade envolvente não são mais tidos como índios, é um povo que vem resistindo ao tempo, a exemplo de tantos outros, que diante das frentes de expansão da sociedade nacional foram submetidos a processos de relações colonialistas.As sociedades ameríndias assentadas ao longo do rio Paraguai foram contactadas e subjulgadas em diferentes momentos por meio da conquista da região e posteriormente como resultado das imponentes missões fixadas ao longo da região do Guaporé, com destaque para as missões de Mojos e Chiquitos.A denominação "povo chiquitano" refere-se a um conjunto de povos indígenas, falantes do tronco lingüístico Aruak, aldeados pelos jesuítas entre os séculos XVI e XVII, na Província de Chiquitos, localizada no Oriente Boliviano entre o Gran Chaco e as colinas do Guaporé.Os indígenas habitantes desta vasta região receberam a denominação genérica de "Chiquitano" devido a altura das portas de suas casas serem baixas, fazendo com que esses povos do planalto fossem tidos como pessoas de pequena estatura. Cultivavam mandioca, milho, abóbora. Caçavam e pescavam. Usavam enfeites de penas em seus longos cabelos. Defendiam-se com flechas e bordunas.Ao longo dos anos os grupos Chiquitano que ocupavam essa vasta região de fronteira passaram por diferentes processos históricos de mudanças, deixando de existirem aos olhos da sociedade envolvente enquanto grupos indígenas. Emerge, a partir dessa situação de dominação e integração sócio-cultural, a categoria étnica do "bugre", designação atribuída a descendentes de índios. A denominação "bugre" silencia as identidades étnicas dos grupos indígenas da fronteira, forjando uma identidade genérica e estereotipada, negando as suas diferenças étnicas e culturais.A exemplo do que aconteceu com os índios no Nordeste brasileiro, uma região de colonização antiga, situação semelhante ocorreu com a população ameríndia que ocupava a região da fronteira da América Meridional, fazendo surgir a problemática dos "índios misturados" comum em situações de contato interétnico intenso, onde as frentes de expansão da sociedade nacional deixaram verdadeiros nichos no interior dos quais se abrigam pequenos contingentes populacionais que tem a sua autenticidade de índio questionada.Os Chiquitano, até poucos anos tidos como extintos, ainda hoje consiste num grupo numeroso que ocupa regiões da Bolívia e áreas do território brasileiro situadas na fronteira entre a Bolívia e o Brasil, nos limites dos municípios de Cáceres, Porto Esperidião e Vila Bela, principalmente nas comunidades de Baía Bela, Corixa, Roça Velha e Morrinhos.As famílias remanescentes dos povos indígenas do Oriente Boliviano, em particular os Chiquitano, são vítimas do preconceito e da negação de sua identidade indígena, conseqüentemente do direito a cidadania.

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