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NOTA PATAXÓ DE ESCLARECIMENTO SOBRE O IBAMA E A FUNAI

Adenilson Pereira da Conceição - Cacique da aldeia Alegria Nova-Itamaraju-BA
27 de Mai de 2003

A comunidade Pataxó da Alegria Nova, vem a público esclarecer os fatos sobre a retomada que realizamos no Parque do Descobrimento no dia 19 de maio e que depois saímos da área, indo para uma fazenda próxima, parte integrante de nossa terra. Fizemos essa nova retomada porque nem a Funai nem o Ibama chegaram a um acordo sobre as suas competências para nos ajudar a solucionar o problema. O jornal A TARDE do dia 23 de maio chegou a noticiar que houve um acordo para que as famílias saíssem da área onde o Parque faz limite, mas na verdade nenhum encaminhamento foi feito pelos órgãos, ao contrário do que diz a nota do jornal. Além disso, já recebemos a visita da Policia Militar de Itamaraju, em quatro viaturas, através do Major Roosevelt que nos ameaçou, ele e um homem que se diz pai do proprietário da fazenda. Com eles estiveram também o delegado da Policia civil do Prado, mas não insistiu e logo se retirou. O homem que disse ser o pai do proprietário e que estava com o Major da PM, chegou a anunciar em meio aos quinze policiais militares que "tinha armas para os índios." A intenção dos homens era nos retirar da área, mas insistimos querendo saber se havia alguma liminar do Juiz federal de Ilhéus. Isso fez com que eles fossem embora, prometendo voltarem depois.

A fazenda na qual nossas famílias fizeram a retomada, é parte de nossa terá e fronteiriça ao Parque do Descobrimento. Nas mãos de fazendeiros, esta área na verdade servia como lugar de esconderijo de madeira que saía do Parque, como bem demonstra os pátios de estacas e de moirões, além da pratica de muito incêndio criminoso para a retirada de madeira, e fornos de carvão.. No lugar da mata veio o pasto, mas nenhum boi existe pastando; a única atividade produtiva na terra é um plantio de mamão, cuja área foi alugada para o investimento de terceiros. Há três anos atrás, esta fazenda tinha muita mata, hoje está tudo no chão e, como se não bastasse, muita madeira tem saído do Parque, aos olhos do Ibama e conivência de outras autoridades. Com a nossa chegada, isso foi paralisado.

Agentes do Ibama esteve na área, mas sequer se preocupou em fazer um rápido levantamento. Nem Ibama, nem Funai estiveram no local para conhecer de fato o que está acontecendo. Mas todos eles sabem que os fazendeiros estão prometendo invadir a área com os seus pistoleiros, conforme noticiou o sindicato dos fazendeiros em Itamaraju. Para isso eles usam do dinheiro e compram a Policia Militar da cidade. Mas nós não vamos deixar a terra, precisamos é de apoio para dela viver e construir o nosso futuro.

Pedimos que a Funai tome as medidas necessárias para a nossa proteção e garanta que a terra do Monte Pascoal seja demarcada o mais rápido possível. A imprensa precisa divulgar com maior clareza a nossa situação e as autoridades precisam apurar os ouvidos para melhor ouvir o nosso clamor. Imaginem, somos 25 famílias Pataxó que voltaram com muita esperança para a sua terra, depois de sofrer anos na cidade. Agora nesse novo governo queremos acreditar que muita coisa vai melhorar. Para começar, queremos ser respeitados em nossos direitos. E a nossa luta não vai parar. Se uma liminar nos expulsar do lugar de onde estamos, voltaremos para a outra parte de nossa terra, que virou Parque, mas que nunca deixou de ser de nossos antepassados e portanto, nossa terra.

Assinam este documento:

Adenilson Pereira da Conceição - Cacique da aldeia Alegria Nova

Antoniel Bomfim Brito - vice Cacique

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