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Nota do Conselho Ka'apor

Jornal Vias de Fato - www.viasdefato.jor.br
25 de Jan de 2016

Nós, povo Ka'apor seguimos nosso projeto de vida, valorizando nossa cultura, língua e tradicões; cuidando de nosso povo e protegendo nossa floresta. Tudo isso vem garantindo vida longa para nosso território e nosso povo. Desde a chegada dos primeiros Karaí no Brasil, nós e todos os outros parentes de todo o país, como os Tupinambá, como os

Kaiowá, como os Terena, como os Munduruku e outros parentes que estão sendo atacados e assassinados, continuamos existindo e resistindo. Aqui no Maranhão não é diferente. O nosso sofrimento aqui na região aumentou quando o governo trouxe o Exercito e Karaí para abrir a BR-316, criar povoados, colocar fazendas, expulsando nossos

parentes, diminuindo assim nosso território. Depois funcionários da Funai trouxeram muitos vícios para dentro de nossas aldeias: comidas e bebidas da cidade, roupas de branco, doenças, ensinaram fazer pastos, criar do jeito dos karaí, fazer amizades com karaí, vender nossas caças, vender estacas para cerca dos fazendeiros, ensinaram a derrubar e vender madeira de nosso território. A gente foi vendo que tudo isso era

para destruir nosso território, nossa vida. Como não garantiram segurança e proteção, a gente decidiu mudar os rumos de nossa vida a partir de 2009 com encontros de educacão, saúde, proteção de nosso território.

Decidimos em nossa grande assembléia de dezembro de 2013

que para continuar vivendo dentro de nosso território a gente precisaria se defender e se proteger da violência dos principais agressores que são os madeireiros que enganam nossos parentes e destroem nossa casa que é a floresta. A partir dai passamos a fortalecer nossas formas de educar nossos filhos conforme nossa cultura, buscar maneiras de proteger nosso território, vigiando e limpando os limites, fechando ramais de invasores, criando uma guarda florestal ou agroflorestal, que

além de vigiar e proteger, estão ajudando a recuperar nosso território com formas antigas e pequenas roças que oferecem muitos alimentos para nossa sustentabilidade. Criando áreas de protecão para nossos parentes recuperar o que foi destruido pelos karaí. Começamos a participar mais na gestão de nossa saúde, nossa educacão. Assumimos a assistência e garantia de benefícios sociais para nossos parentes.

Resolvemos retomar nossas formas antigas de organização, decisão e viver nas aldeias. Criamos um acordo de convivência para acabar com os vícios dos brancos nas aldeias, proteger nosso território, valorizar e fortalecer nosso jeito de ser Ka'apor.

Tudo isso fez os Karaí da cidade,dos governos, ficar com raiva da gente, falar mal de nosso trabalho e dificultar a garantia de nossos direitos. Como a nossa força e organizaçao cresce, eles ficam incomodados. Agora estão colocando incêndios nos limites de nosso território no tempo do verão, políticos

oferecendo presentes falsos para lideranças buscando dividir nossos parentes, madeireiros perseguindo lideranças e apoiadores de nossa luta, organizando invasão de aldeias.

Como tomamos essa decisão em nossa vida só tivemos como respostas: caçadores continuam entrando em nosso território para roubar nossa comida e de nossos filhos; estaqueiros e madeireiros querendo entrar com máquinas e caminhões para derrubar, destruir, roubar madeira para as serrarias, cerâmicas, movelarias, padarias; ameaçam e perseguem nossas lideranças, as pessoas que defendem e apoiam a

gente; atiraram em nossos parentes como aconteceu com Sarapó Ka'apor, Janay Ka'apor e Mytuhiran Ka'apor em 2014, depois com Serumi Ka'apor e Rotemir Ka'apor em 2015; invadiram aldeias como fizeram como Yparenda (Agosto/2013) e Turizinho (Dezembro/2015) e matar, como fizeram com nossos parentes Rubinete Ka'apor (Setembro/2009), Tajiran Ka'apor (2011), Pakuriró Ka'apor (Janeiro/2014) e Eusebio Ka'apor (Abril/2015); fazendeiros querendo voltar colocar

pastos dentro de nosso território; políticos querendo dividir o nosso povo. Nunca ninguém do governo procurou resolver essas situações. Os que invadiram a aldeia Turizinho, roubaram nossos equipamentos e materiais de trabalho na mata e atiraram em nossos guardas agroflorestais que estavam identificando focos de incêndios na região da Vitória da Conquista, estão andando livremente na cidade de Zé

Doca, inclusive a pessoa que estão dizendo que está desaparecida, mostrada no dia 23 de dezembro de 2015 na reportagem do SBT de Zè doca foi visto por dois indígenas na rua do Banco do Brasil de Zé Doca entre o Natal e Ano Novo. Algumas pessoas que moram no povoado Nova Conquista que não concordam com a ação dos madeireiros estão dizendo que eles estão sujando a comunidade. Tem medo de falar o que

pensam sobre os tiros e invasão da aldeia. Podem sofrer agressão também. Estão dizendo que as pessoas que atacaram nossos parentes e invadiram a aldeia também ameaçam a vida da comunidade por serem pessoas que fugiram da prisão, usam e vendem drogas. Que os madeireiros pagam para algumas pessoas para vigiar caminhões madeireiros, caminhões boiadeiros que estão voltando para terra dos

parentes Awá, no antigo povoado da Vitória. Eles estão oferecendo dinheiro as familias pobres e pessoas que estavam na invasão para que não entregasse quem estaria comandando a derrubada e retirada de madeira de nosso territorio, o ataque com tiros aos nossos parentes, invasão da aldeia turizinho, quem esta monitorando e ameaçando de morte nossas lideranças.

As familias do povoado estão com medo dessas pessoas terem feito isso e permanecerem no povoado. Também falam que alguns madeireiros ainda estão em Zé Doca, Centro do

Guilherme, São João do Caru e Povoado Caip em Paragominas, no Pará. Dia 06 de janeiro os madeireiros pararam e bateram em nosso parente na estrada da Conquista que retornava para sua aldeia vindo de Zé Doca. O governo do Estado nunca mandou a secretaria de meio ambiente fechar serrarias, cerâmicas, movelarias, padarias, prender caminhões de madeireiros que circulam na BR e nas cidades da região.

As prefeituras nunca pararam esses locais que exploram madeira de nosso terrritório. A gente acha que o governo e as prefeituras estão ganhando dinheiro também com esse tipo de agressão ao nosso território. Muitos políticos da região também apoiam a agressão ao nosso território. Eles falam e mentem pra gente, como falou algumas pessoas que estão apoiando candidatos a prefeito de Zé Doca: "esses

índios nem dão voto, só despesa pro governo". Ainda falam: ''pra que esses indios querem tanta terra e ficam brigando por causa de madeira...mata não desenvolve a região''. Tudo isso mostra que não acreditamos em nenhum político e governo da região. Eles só tratam a gente com preconceito e violência de todas as formas. Por isso que vamos continuar educando nossos filhos de acordo com nossa cultura, protegendo e vigiando nosso território do nosso jeito para a gente

poder plantar para a gente viver dentro dele e recuperar as áreas que eles destruiram, mas cuidando das aldeias e de nossos parentes para viver com saúde. Vamos continuar respeitando nosso acordo de convivência, nossas formas de organização e decisão para viver em diálogo e na paz.

Conselho Gestão Ka'apor.

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