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'Nossa Gente': Família ítalo-indígena de Matão chama atenção com nomes de diversas etnias

G1 - https://g1.globo.com
31 de Ago de 2019

Filhos e netos da união entre índio e descendente de italianos são exemplos da miscigenação brasileira. EPTV exibe especial em homenagem aos seus 40 anos a partir deste sábado (31).

Exemplo da grande miscigenação que forma a população brasileira, a família do índio Renato e da descendente de italianos Maria Eleonor se destaca, em Matão (SP), pelos nomes de diversas etnias indígenas.

A história da família é uma das narradas pelo programa especial 'Nossa Gente', que começa a ser exibido neste sábado (31), pela EPTV, afiliada da TV Globo, em homenagem aos seus 40 anos.

Por razões desconhecidas pela família, Renato deixou a tribo kaiowá na região de Rancharia (SP), recebeu um "nome de branco" e foi criado no Rio de Janeiro. Por isso todos os filhos do casal têm o sobrenome Antonio Pinoti de Oliveira. Mas o nome indígena que Renato não carregou, ele fez questão que seus filhos sustentassem como um lembrete diário das suas origens.

As quatro filhas e o filho foram batizados com nomes de diversas etnias indígenas:

Josuêma - que significa luz dos sonhos
Joemir - que significa algo grande e forte
Nimuendaju - que significa racho velho (como alguém que passou muito tempo longe e volta para o seu local de origem, sua acolhida, seu antigo lugar)
Nhaenjuty - Juty é um tipo de pássaro e Nhaen é adjetivo, o nome significa pássaro pequeno e colorido
Duvanhery - que significa longa vida

Os nomes diferentes sempre chamaram a atenção na cidade. "O meu nome foi um complicador na minha vida inteira, porque são nomes diferentes, os das minhas irmãs também. Essa diferença às vezes causava estranheza nas pessoas: quem são esses? O que significam?", lembrou Nimuendaju.

A decisão de colocar nomes indígenas nos filhos foi totalmente apoiada por Maria Eleonor. "Sobre a questão indígena ela dizia que era a mais índia de todos nós", contou a artista plástica Nhaenjuty sobre a mãe.

A prática continuou com o nascimento dos netos. Apenas dois - Paulo e Renato - dos sete netos não tem nomes indígenas. Os outros foram batizados seguindo a tradição: Naiara, Iberê, Arani, Ipojucã e Maíra.

Mistura de culturas

Na família grande, o casamento da cultura plural e comunitária das tribos indígenas com a espontaneidade italiana foi muito útil para a ordem do dia-a-dia. "Era como se fosse um trabalho em equipe, era mais que uma família", lembrou Nimuendajur.

Os filhos cresceram em meio às duas culturas. "Meu pai foi criado na cidade e a vida toda nós fomos em reservas indígenas para conhecer um pouco do mundo dele - o nosso, na verdade - e a gente sempre esteve ligado à cultura indígena: o artesanato, a comida. Do lado da minha mãe, a gente tem muita ligação com a comida, o jeito, a gente tem os trejeitos e expressões italianas. Foi uma miscigenação mesmo, muito misturado", afirmou Nhaenjuty

A miscigenação também está estampada nos rostos da família, com pelos morenas e brancas, olhos escuros e claros se misturando em diversas combinações.

História de amor e respeito

Renato e Maria Elenor são falecidos há mais de 10 anos, mas a felicidade dos 50 anos que viveram juntos é referência para os filhos de amor e respeito às diferenças.

Mesmo com poucos documentos que contém a história, alguns registros e memórias mostram que Renato viveu até os 6 anos com a tribo kaiowá na região de Rancharia (SP).

Em algum momento - que ele nunca soube explicar - Renato se desligou da família e acabou adotado por várias outras que o levaram até o Rio de Janeiro. "Eles ficavam com ele e depois por algum motivo não queriam mais e assim foi", contou o filho Joemir.

Renato passou pela escola agrícola de Pirassununga (SP), aprendeu contabilidade na região de Bauru (SP) e chegou a servir o exército. "Ele era muito feliz, gostava de música, de dançar, ele tinha no seu DNA essa liberdade de ir e vir, então ele via a vida de civil como mais atrativa", contou o filho.

Depois que deixou a carreira militar, ele foi trabalhar em uma empresa de contabilidade em Botucatu e depois foi transferido para Matão, onde conheceu Maria Eleonor.

Segundo ele contava para os filhos, os dois se encontraram por uma coincidência: uma das máquinas da empresa quebrou e ele teria levado a uma oficina para manutenção onde conheceu o irmão de sua futura esposa, que tinha apenas 14 anos.

"Ele pegou amizade com esse irmão dela, porque ele era do tipo que conquistava as pessoas. Meus avós [maternos] não gostaram nada da ideia. Eles esperavam alguém para casar com a minha mãe e dar continuidade no trabalho da família, aí aparece um índio, dez anos mais velho que ela e fala: eu quero casar com a sua filha", contou Joemir.

Os filhos contam que Renato era amante da música, principalmente, do samba, e famoso por tocar gaita, ter um ouvido muito afinado e uma memória inacreditável para lembrar das músicas conhecidas na época do Rio de Janeiro.

Também é lembrado pelos filhos como um homem preocupado com a responsabilidade social e com a educação.

"Ele sempre fez questão que estudássemos muito. As pessoas diziam: 'os filhos do índio são inteligentes' porque a gente sempre se destacava", contou Nhaenjuty.

"Acho que essa forma dele ser, equilibrava um pouco o fato dele não ter tido família ou um sobrenome oficial", completou Joemir.

A exigência do pai, índio que cresceu nas dificuldades da cidade e por isso fez questão de formar os filhos, juntamente com o orgulho que ele tinha das suas origens, são lembradas com carinho pelos filhos que definem a miscigenação da família, representada nos traços e trejeitos, como a representação do povo brasileiro.

"A diversidade, tanto na etnia indígena como em qualquer outra raça, dá uma grandiosidade a mais. A diversidade é muito ampla, é importante. Meu pai era bem a cara do Brasil: festeiro, feliz e que acreditava muito no respeito, principalmente às diferenças", disse Nimuendaju.

https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2019/08/31/nossa-gent…

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