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Nobel terá mais impacto que ciência, diz vice do IPCC

FSP, Ciência, p. A17
17 de Nov de 2007

Nobel terá mais impacto que ciência, diz vice do IPCC
Comitê lança hoje síntese de seu quarto relatório sobre o aquecimento global
Para economista, painel do clima só ganhou o respeito merecido dentro da ONU após cientistas do grupo receberem o prêmio da Paz

Claudio Angelo
Editor de Ciência

O IPCC, o painel do clima das Nações Unidas, divulga hoje em Valencia, Espanha, a síntese de seu relatório que diz que o aquecimento global é "inequívoco" e pode trazer mudanças "abruptas e irreversíveis".
O documento, de cerca de 20 páginas, é destinado a líderes políticos do mundo inteiro e deve guiar as negociações que acontecem a partir do próximo dia 3 em Bali, Indonésia, sobre o combate aos gases de efeito estufa após 2012, quando expira o Protocolo de Kyoto.
Mas o economista cingalês Mohan Munasinghe, um dos três vice-presidentes do IPCC, diz que as discussões em Bali serão mais impactadas por um outro fator, que pouco tem a ver com as evidências técnicas (inquestionáveis) de que o mundo está esquentando.
"Eu diria a você que o maior impacto em Bali será o do Prêmio Nobel da Paz", disse Munasinghe à Folha, por telefone, após ter ficado até as 5h de ontem em uma reunião plenária que finalizou o texto do relatório-síntese do AR4 (Quarto Relatório de Avaliação do IPCC).
Segundo Munasinghe, o Nobel, que o IPCC dividiu neste ano com o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, ajudou a "levantar o nível" da atenção mundial ao painel. Prova disso é que hoje, pela primeira vez, o secretário-geral das Nações Unidas, o sul-coreano Ban-ki Moon, participará da divulgação do relatório-síntese.
Nas próximas semanas, a ONU deve divulgar também sua primeira resolução sobre mudança global do clima. Ainda não há detalhes do seu conteúdo, mas o texto provavelmente reforçará o caráter multilateral do combate ao aquecimento da Terra.
"Anteontem eu fiz uma apresentação na Assembléia Geral [da ONU] sobre o IPCC e todos os delegados apareceram!" -diz o pesquisador. "Geralmente, só líderes como Tony Blair e George W. Bush enchem a casa."

Sem novidades
O documento a ser apresentado hoje funcionará como uma espécie de "guia rápido" da mudança climática para governantes do mundo todo.
Ele sintetiza a informação contida nos sumários executivos dos três grandes grupos de trabalho do IPCC (base física da mudança climática, impactos e vulnerabilidades e mitigação). Não apresenta novidades científicas em relação às informações que já foram divulgadas pelo painel, mas "nem todos os tomadores de decisão vão querer ler os três sumários", diz Munasinghe.
O vice-presidente do IPCC minimiza relatos de que algumas delegações de países-membros da ONU que acompanham a reunião de Valencia tenham tentado diluir o tom do relatório-síntese. Nesta semana, a imprensa noticiou que os EUA objetaram à expressão "irreversível" -já presente nos sumários executivos- para qualificar o aquecimento.
"Houve algumas mudanças para acomodar traduções em outras línguas [o texto original está em inglês]", afirmou Munasinghe. "Isso é normal. O que mais houve foram mudanças para substituir palavras únicas por frases", continuou.
Alguns países pediram menções de interesse específico. O Peru, por exemplo, pediu que o degelo das montanhas entrasse no texto final. A Amazônia e as florestas tropicais da Indonésia, no entanto, não foram mencionadas entre os ecossistemas mais vulneráveis do planeta. O texto fala do Ártico, dos megadeltas asiáticos, de áreas com tendência à desertificação e dos recifes de coral.
"Eu acho que, no geral, este é um documento bom e equilibrado", disse o holandês Bert Metz, um dos 40 autores da síntese. "Ele diz em linguagem direta: este é o problema e isto é o que podemos fazer para resolvê-lo", afirmou Hans Verlome, da ONG WWF.
Com agências internacionais

FSP, 17/11/2007, Ciência, p. A17

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