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No sertão do Nordeste, nova tecnologia para transformar sol em energia

O Globo, Economia, p. 42-43.
13 de Nov de 2011

No sertão do Nordeste, nova tecnologia para transformar sol em energia
Maior usina solar do país promete reduzir custos em 66% com coletores parabólicos, tornando a indústria competitiva e atraindo novos projetos para a região

Ramona Ordoñez
ramona@oglobo.com.br

O sertão pode não virar mar, mas vai transformar o forte sol que castiga a Região Nordeste em energia elétrica. A Rio Alto Energia, que trabalha com fontes renováveis, vai construir uma usina solar no município de Coremas, no semiárido da Paraíba. A usina, que terá 50 megawatts (MW) de capacidade, suficientes para abastecer uma cidade com 850 mil habitantes, além de ser a maior do país, segundo a empresa, utilizará uma tecnologia inédita no Brasil. O sistema promete revolucionar o setor, ao reduzir drasticamente os custos, tornando a energia solar competitiva. A Usina Termosolar Coremas exigirá investimentos de R$350 milhões.
Um dos três sócios fundadores da Rio Alto, Sergio Reinas, disse que o projeto vai usar uma tecnologia chamada Concentrated Solar Power (CSP), ou seja, energia solar concentrada. Esta é bem diferente dos tradicionais painéis coletores fotovoltaicos, usados principalmente para aquecimento da água e geração de energia elétrica em fazendas, casas e clubes.
Redução de custos deve atrair novos projetos
Reinas explicou que a tecnologia consiste em coletores parabólicos, semelhante às antenas parabólicas de televisão. Esses coletores captam a radiação solar, que é convertida em calor usado em uma usina termelétrica convencional para geração de energia. Esse sistema se assemelha ao de uma usina nuclear, onde o calor gerado pela fissão nuclear é transformado em energia nas instalações convencionais de uma usina térmica.
- Assim como está ocorrendo o boom da geração eólica, com a redução de custos, essa tecnologia tornará viável a geração de energia solar, que, pela tecnologia de painéis fotovoltaicos, é inviável economicamente - garantiu Reinas.
Ele afirmou que, com essa tecnologia, utilizada principalmente nos Estados Unidos e na Espanha, será possível gerar energia solar a um custo médio de R$150 o megawatt/hora (MWh). Isso representa uma redução da ordem de 66% em relação aos custos nas usinas solares com painéis fotovoltaicos, que são da ordem de R$450 o MWh.
Com esse custo, segundo Reinas, a energia solar começará a ser competitiva no país, atraindo novos projetos e fabricantes de equipamentos, assim como está acontecendo com a energia eólica. Atualmente o custo de energia térmica a gás e de eólica está na faixa de cem reais o MWh, e o das hidrelétricas está um pouco abaixo. Projetos de energia eólica atingiram esse patamar no último leilão da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), realizado no mês passado.
Na fase de construção, usina vai gerar 2 mil empregos
O executivo destacou que a usina com essa tecnologia de coletores parabólicos tem um custo de tarifa bem menor, porque os painéis fotovoltaicos usam o silício, que é um material caro.
- A geração com os painéis só é viável para casos pontuais, tanto para a geração de energia como para o aquecimento da água. Para geração de energia em maiores volumes, a CSP é que se torna viável economicamente - ressaltou Reinas.
O projeto vai gerar cerca de dois mil empregos diretos e indiretos durante a construção e cerca de 50 na fase de operação.
A Rio Alto pretende entrar no próximo leilão que será realizado no próximo ano pela EPE, para oferta de energia para 2015.

Investimento na usina será de R$350 milhões
Na área do projeto, 80% vivem com o Bolsa Família hoje

Sérgio Reinas, um dos três fundadores da Rio Alto Energia, disse que a empresa já obteve a licença ambiental e está executando, neste momento, o detalhamento do projeto. O objetivo é iniciar as obras até o fim do ano. O projeto exigirá investimentos de R$350 milhões, com financiamento do Banco do Nordeste.
A usina com a tecnologia Concentrated Solar Power (CSP) é basicamente formada por estruturas metálicas de chapas de alumínio em formato de parabólica retangular, que capta a irradiação do sol. O sistema faz com que a radiação seja refletida pela parabólica e passe para as tubulações, pelas quais circula um fluido sintético. Esse fluido é aquecido a 400 graus centígrados e daí segue para o sistema da usina térmica convencional, onde o vapor gerado pelo calor gira as turbinas, gerando energia.
De acordo com o executivo, a usina consegue ter um fator de capacidade de 60% (tempo médio de geração ao longo do ano), contra cerca de 30% das usinas solares com painéis fotovoltaicos.
Ele explicou que o projeto está sendo desenvolvido pela Rio Alto (70%) em parceria com o Banco Paulista (30%). A Rio Alto foi criada há três anos por Sergio Reinas, Edmond Farhat e Rafael Brandão, todos vindos do mercado financeiro. Segundo Reimas, o grupo vem desenvolvendo o projeto da usina solar desde o início de suas atividades. A empresa também está se preparando para abrir capital e encontrar um sócio estratégico do setor de energia, que será o operador do projeto, até o fim do ano.
Clima dificulta agricultura e pecuária
Reimas destacou também a importância do projeto, não apenas por se tratar, segundo ele, o primeiro de energia solar em escala comercial e em condições competitivas com outras fontes, mas também pelos benefícios para a região onde será construída a usina, que é muito carente. Coremas é um município que fica a cerca de 400 quilômetros de João Pessoa, capital da Paraíba.
Segundo Reinas, a seca na região é violenta, e o sol, constante. O clima torna difícil tanto a criação de animais como a agricultura. Dos cerca de nove mil habitantes da região, 80% vivem com o Bolsa Família, e os 20% restantes, com recursos assistenciais dos programas de fomento do Nordeste.
Reinas explicou que a Rio Alto Energia é uma empresa nacional com projetos em desenvolvimento de geração de energias renováveis, entre os quais sete projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH). (Ramona Ordoñez)

O Globo, 13/11/2011, Economia, p. 42-43

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