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No Pará, entidades lembram um ano da morte de Dorothy

FSP, Brasil, p. A19
12 de Fev de 2006

No Pará, entidades lembram um ano da morte de Dorothy
Grupos ligados à Igreja, à reforma agrária e aos direitos humanos fazem manifestações em homenagem à missionária

Entidades ligadas à Igreja Católica, à reforma agrária e aos direitos humanos fazem hoje manifestações em memória de um ano do assassinato da missionária Dorothy Stang, em Anapu, no oeste do Pará. A morte da freira será lembrada também nas cidades de Belém, Breves e Barcarena.
A programação em Anapu começa às 8h (9h em Brasília) na Igreja Matriz Santa Luzia, com celebração eucarística do bispo Erwin Krauter, da Prelazia do Xingu. A organização não divulgou estimativas de participantes em razão das más condições de tráfego na rodovia Transamazônia, motivadas pelas chuvas na região.
Exposições de entidades, ato público, caminhada e ato ecumênico junto ao túmulo de Dorothy compõem a programação. É esperada a presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Policiais federais farão a segurança.
Na sexta-feira, chegaram à cidade 820 cruzes de madeira, representando um dos mortos em conflitos fundiários nos últimos dez anos no Pará, segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra). Elas serão colocadas na Igreja Matriz.
À noite haverá a inauguração de uma placa luminosa com o retrato e o nome da missionária, no Centro Cultural e de Lazer Irmã Dorothy Stang.
Nascida em Ohio (EUA) e naturalizada brasileira, a missionária morava desde a década de 70 no Brasil e, por meio da CPT, trabalhava pela implementação de um PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) para assentar trabalhadores rurais em Anapu, numa área também reivindicada por fazendeiros e grileiros.
No dia 12 de fevereiro do ano passado, Dorothy Stang, 73, foi assassinada pelos pistoleiros Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo. Ela se dirigia a uma reunião com assentados no PDS Esperança, a 58 km da sede de Anapu, para anunciar que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) reconheceria o lote 55 como área de ampliação do projeto. O fazendeiro Vitalmiro de Bastos Moura, o Bida, acusado de ser um dos mandantes, buscava na Justiça reintegração de posse da área.
No caminho para a reunião, Dorothy Stang foi abordada pelos pistoleiros, em frente ao lote 55. Fogoió disparou seis tiros.
Na tese da acusação, fazendeiros e grileiros formaram um consórcio para angariar os R$ 50 mil prometidos aos assassinos, o que caracterizaria crime de mando.
O crime, que teve repercussão internacional, motivou o governo federal a realizar uma ação das Forças Armadas no Pará e criar novas reservas ecológicas para impedir o avanço dos desmatamentos ilegais e da grilagem.

Três acusados pelo crime ainda devem ir a julgamento

Cinco pessoas foram acusadas de envolvimento no assassinato da missionária Dorothy Stang. Até agora, só dois deles, os pistoleiros, foram levados a julgamento.
Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, foram condenados por homicídio duplamente qualificado (crime de mando e sem dar chance de defesa à vítima) no dia 11 de dezembro. Fogoió, que atirou na missionária, foi sentenciado a 27 anos de prisão. Seu companheiro no crime, Eduardo, foi condenado a 17 anos.
Os outros acusados presos são Amair Feijoli da Cunha, o Tato, suposto intermediário, e os fazendeiros Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Galvão, o Taradão, apontados como mandantes. Eles negam envolvimento no assassinato.
O advogado Eduardo Imbiriba nega a participação de Bida. A Folha não conseguiu localizar os advogados de Tato e Taradão.

FSP, 12/02/2006, Brasil, p. A19

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