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No início da viagem, mosquiteiros, seleção brasileira e motor quebrado

Estado de S. Paulo-SP
10 de Jun de 2002

Primeiro trecho rio acima dura 4 horas. No dia seguinte, jogo do Brasil antes do embarque

Índio de uma reserva do Vale do Javari: algumas comunidades da região mostraram hostilidade

Manhã de chuva em Tabatinga, cidade amazonense, às margens do Rio Solimões, na fronteira com o Peru e a Colômbia. Uma lancha sai às 10 horas, 12 horas em Brasília, em direção à base da Funai, município de Atalaia do Norte, quatro horas rio acima. Leva mantimentos e alguns dos homens que farão parte da expedição ao Vale do Javari. Aventura para uns, trabalho para todos, a viagem à terra dos brasileiros ainda desconhecidos pela sociedade tecnológica começa com o barulho do motor da lancha.

Ao chegar ao município de Benjamin Constant, a trinta minutos de barco motorizado, a lancha entra no Rio Javari, afluente do Solimões. Pelo Javari são mais duas horas de viagem até as águas do Itaquaí. É preciso percorrer ainda mais uma hora e meia para aportar na base de proteção etno-ambiental do Javari. Desde o final de maio, as águas dos rios da Amazônia estão abaixando, o que dificulta a navegação. Só em dezembro, recomeça a época de cheia.
Motor da lancha ligado, Tabatinga fica para trás. Os mosquiteiros e boa parte do material de viagem em cima da lancha foram comprados no comércio do lugar. A cidade, ponto de partida da expedição, é predominada por construções de um pavimento e ruas tomadas pelo mato e esgoto. Os melhores preços de redes, mosquiteiros e facas estão no final da Avenida da Amizade, a principal e em melhores condições. Lá, no entanto, já é Letícia, capital do departamento colombiano do Amazonas, colada a Tabatinga.

Para evitar surpresas da guerrilha, que domina parte do país, o governo colombiano aumentou o efetivo de homens no quartel de Letícia. Mas as Farc parecem não assustar quem vive entre as duas cidades, interligadas por um intenso tráfego de motocicletas.

Segundo dia - O sábado amanheceu nublado na base da Funai em Atalia do Norte, no Vale do Javari, extremo oeste do Amazonas.

Os barcos Daika, Kukahá e Etno Sobral estão no ancoradouro prontos para subir o rio Itaquaí. Dos 30 integrantes da expedição, 14 são índios. Os Matis são a maioria. Apenas dois índios pertencem a outro grupo, os Marubos.

A segunda partida da seleção brasileira na Copa, contra a China, atrasa a saída da expedição, um televisor na sala de refeições da base junta índios e não índios. Nenhum dos quatro gols brasileiros é comemorado pelos Matis Marubos. Permanecem em silêncio, mas sem sair da frente da televisão.

Logo após o jogo, precisamente às 10h50, os motores dos barcos são ligados.

O Etno é o primeiro a descer o Rio Itaquaí, numa velocidade média de 7 Km/h, e o primeiro a ter problemas mecânicos. Menos de uma hora depois da saída o motor de arranque falha. O sertanista Sidney Possuelo, chefe da expedição, pede ajuda pelo rádio aos funcionários da Funai em Tabatinga. Um técnico do município de Benjamim Constant é contatado para resolver o problema, mas levará pelo menos dois dias para chegar de lancha. Até lá o barco seguirá com um motor reserva, a 3 km/h.

Nos primeiros cinco dias a expedição terá um médico. O mais entusiasmado integrante do grupo, o alemão Dirk Englisch, queria ir até o fim. "Gostaria muito, mas só posso ficar durante o período de férias", afirmou. Nascido em Bonn, na Alemanha, Dirk trabalha para uma Organização não Governamental (ONG) alemã na área de saúde, em Bogotá, onde se casou com uma colombiana.

Por volta das 14 horas, os tripulantes descem aos refeitórios dos barcos para almoçar. A comida foi preparada pelos dois cozinheiros da expedição contratados em Tabatinga. Mauro Gomes e Paulo Souza terão espaço e alimentos suficiente para preparar as refeições no iníco da viagem. Mais à frente, na selva, só terão fogareiros, fogueiras, caças e peixes obtidos pelos mateiros.

Às 23 horas, as embarcações encostam na margem esquerda do Rio Itaguaí. É arriscado navegar por um rio cheio de galhos e troncos, que já baixou cerca de um metro nas últimas duas semanas. Possuelo encerra o dia de trabalho distribuindo sacolas, calçados, chapéus, camisas e calças camufladas aos integrantes da expedição.

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