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No Dia da Consciência Negra, filho de escravo relembra história de quilombo

G1 g1.globo.com
20 de Nov de 2017

No Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado nesta segunda-feira (20), o neto e filho de escravo, José de Sena, 98 anos, relembra a história do quilombo Morro do São João, no sudeste do Tocantins. Da janela da casa de adobe, ele observa o lugar onde nasceu e viveu a vida inteira. Ele é um dos patriarcas da comunidade e conta sobre a história e as dificuldades da época, quando o povoado começou. (Veja o vídeo)

"Aqui era um lugar esquisito, não tinha estrada, não tinha nada. Isolado. Para ir a Porto Nacional, tinha que caminhar por Santa Rosa. O povo andava a pé, outros tinham cavalo, outros tinham jegue".

O Dia Nacional da Consciência Negra e o do Zumbi, celebrado em 20 de novembro, foi instituído oficialmente pela lei criada no dia 10 de novembro de 2011. A data faz referência à morte de Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares.

O Morro de São João fica a 130 km de Palmas, no município de Santa Rosa. A comunidade foi reconhecida como quilombola há 10 anos. São 60 famílias descendentes de escravo. O tronco familiar é um só. Todo mundo é parente. O Benício de Sena é sobrinho do patriarca José e fala sobre a admiração que tem pelo quilombo.

"Gosto daqui. Aqui é onde nasci, me criei. Eu estava com 15 anos quando me mudei para Ipueiras, mas depois de lá voltei. Eu amo esse lugar".

O presidente da Associação Quilombola Morro do São João Adelino Rodrigues Nogueira também é sobrinho do patriarca. Ele morou na comunidade até os 17 anos. Saiu para estudar e trabalhar em Goiás. Com a criação do Tocantins, voltou para a sua terra. Hoje, estuda Relações Internacionais na UFT em Porto Nacional e nunca esqueceu suas origens.

"Além dessa luta interna que nós temos, temos uma luta externa, que é buscar os meios de conhecimento, de soluções para as comunidades, não somente a nossa".

A comunidade onde é hoje o Morro do São João já foi uma grande senzala, lugar onde os escravos ficavam. A história tem mais de 300 anos e a origem do quilombo está relacionada à Igreja Católica. O padre Bernardino, do estado de Goiás, era dono da fazenda. A missão dele era evangelizar mas se envolveu com uma escrava com quem teve um filho chamado Vitor.

A professora Ângela Sena, que também é da comunidade, pesquisou essa história e descobriu que é bisneta do filho do padre e escreveu um livro sobre a origem do quilombo. "Na nossa comunidade ainda tem as plantações feitas pelo Vitor, temos o formato da cidade. A Igreja Católica fica no centro da comunidade, como se fosse a casa do senhor".

Para celebrar o Dia da Consciência Negra, os moradores se reuniram para cantarn dançar, mostrar o artesanato produzido na comunidade e os ritos religiosos. A preocupação é preservar as origems e as tradições que atravessam gerações.

Segundo dados do IBGE, no Tocantins, mais de 70% da população se considera negra ou parda . O estado tem mais de 40 comunidades quilombolas.

https://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/no-dia-da-consciencia-negra-f…

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