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No centro da polêmica, mais cana-de-açúcar no Pantanal

O Globo, O País, p. 4
27 de Set de 2009

No centro da polêmica, mais cana-de-açúcar no Pantanal
Zoneamento anunciado por Minc impede projeto estadual de instalação de novas usinas

O motivo da crise entre o governador André Puccinelli e o ministro Carlos Minc é um só: o plantio de cana no Pantanal. Desde a semana passada, o governador está irritado com o ministro do Meio Ambiente, porque Minc avisou que o zoneamento agroecológico do governo federal, que ainda tem que passar pela aprovação do Congresso, proíbe o plantio de cana-de-açúcar e a instalação de usinas de álcool no Pantanal e na Bacia do Alto Paraguai. Para o governo de Mato Grosso do Sul, o zoneamento feito pelo governo federal vai trazer impactos negativos para a economia regional, já que o estado hoje é um dos principais produtores de álcool e vem atraindo dezenas de grupos nacionais e internacionais interessados em explorar o negócio.

O presidente da Associação de Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul, Roberto Hollanda, disse que existem sete usinas em implantação no estado, com investimentos que chegam a R$ 3,5 bilhões. A previsão é de que só estas unidades, numa primeira etapa, produzam 1,5 bilhão de litros de álcool por ano.

Além disso, Hollanda disse que existem de 20 a 30 projetos de implantação de usinas de álcool em fase de preparação, ou já com pedido de incentivo fiscal.

Puccinelli encaminhou à Assembleia Legislativa projeto que autoriza o funcionamento de novas indústrias sucroalcooleiras na Bacia do Alto Paraguai - área que vai do Norte de Mato Grosso do Sul, na divisa com Mato Grosso, até o Sudoeste do estado. O ambientalista Alessandro Menezes, da Fundação SOS Pantanal, diz defender as restrições anunciadas por Minc.

- É uma decisão preventiva. O problema do projeto do governo estadual é que não existe clareza em alguns pontos, como a área a ser usada para o plantio da cana. A gente já ouviu falar de um milhão de hectares, mas também se fala em três milhões - afirma Menezes.

Já o biólogo Alcides Farias, diretor Executivo da ONG Ecoa (Ecologia e Ação), com 20 anos de atuação na questão ambiental, sobretudo no Pantanal, enfatiza que, além da falta de clareza no projeto de Puccinelli, existem vários fatores que não estão sendo considerados: - O governo Puccinelli fala que na Bacia do Alto Paraguai será plantada somente a cana, que as usinas ficarão em outras regiões. Estranho, pois, se os canaviais estiverem a mais de 30 quilômetros, as usinas ficam inviáveis economicamente.

Os ambientalistas contestam informações do governo Puccinelli de que as usinas de álcool são sustentáveis e não oferecem riscos ao bioma. O problema, segundo Farias, é que para cada litro de álcool são produzidos de 12 a 15 litros de vinhoto, produto que só pode ser usado na lavoura após um período armazenado.

- Outro fator que o zoneamento do governo do estado não leva em conta é que a região é formada por vários rios e veios de água que vão para o Pantanal, e que na Bacia do Alto Paraguai está localizada boa parte da zona de recarga do Aquífero Guarani. Se esse reservatório for contaminado, não se recupera mais, e o prejuízo será para todo o país, que depende do Aquífero - alerta Farias.

O Globo, 27/09/2009, O País, p. 4

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