VOLTAR

Neoextrativismo pode amenizar crise da borracha

ComCiência-Campinas-SP
18 de Dez de 2003

A criação das Reservas Extrativistas (Resex) foi uma conquista dos seringueiros, que lutavam pela preservação da floresta e manutenção do extrativismo. Porém, a inviabilidade econômica do extrativismo vegetal no Acre tem levado seringueiros da Reserva Extrativista Chico Mendes, criada em 1990, a praticar atividades que levam ao desmatamento. Na busca por soluções para estes problemas vários projetos de pesquisa têm sido realizados na Universidade Federal do Acre (UFAC). Ao avaliar dois destes projetos, Raimundo Cláudio Gomes Maciel, pesquisador dessa universidade e aluno do Núcleo de Economia Agrícola da Unicamp, conclui que um novo modelo de extrativismo proposto pela UFAC pode ser sustentável economicamente. Trata-se do plantio de clones de seringueira e outras espécies de interesse econômico em áreas degradadas.

As discussões teóricas sobre os rumos das Resex intensificaram-se após a constatação de que os índices de desmatamentos são elevados nestas Unidades de Conservação. Para alguns, este quadro leva a crer que o extrativismo vegetal está condenado ao fim. Para outros, um novo modelo extrativista, chamado neoextrativismo, pode trazer sustentabilidade econômica necessária à preservação ambiental. Esta possibilidade foi confirmada por Maciel após a avaliação econômica dos projetos "Arboreto", que resultou em um plantio experimental realizado no campus da UFAC, e "Ilhas de Alta Produtividade" (IAP), desenvolvido junto a seringueiros da Reserva Extrativista Chico Mendes.

O Sistema Agroflorestal (SAF), ou agrofloresta, usado nesses projetos consiste em uma espécie de combinação de agricultura com o extrativismo florestal. Os pesquisadores da UFAC aproveitaram áreas desmatadas e com solos de pouca fertilidade, onde foi possível comparar o retorno do investimento na implantação da agrofloresta utilizando, para isso, diferentes formas de adubação do solo. As seringueiras plantadas na forma convencional, com sementes, demoram, em média, 15 anos para estabilizar a produção, enquanto as mudas clonadas levam 12 anos. Outros tipos de plantas, que começam a produzir em menor tempo, também são cultivadas na mesma área, aumentando a diversidade de espécies e a possibilidade de retorno mais rápido para o investimento.

Na avaliação econômica feita por Maciel, a melhora na produtividade gerada pelo novo sistema garante um "fôlego" significativo para esses produtores. O rendimento familiar médio do extrativismo tradicional na região estudada é de cerca de um salário mínimo por ano, enquanto que com a implantação das IAP este rendimento pode chegar a mais de 2,5 salários mínimos por mês.

Mesmo com estes números, a pecuária, principal responsável por desmatamentos no Acre, continua desmatando por ser esta uma prática mais vantajosa economicamente. Segundo o pesquisador, para mudar este quadro, as decisões sobre políticas públicas que possam promover as alternativas de exploração sustentável da floresta teriam que focalizar não apenas os resultados econômicos sob a lógica privada, mas também o valor econômico gerador de benefícios para toda a sociedade. "Estes benefícios podem ser estimados, mas, na prática, não são traduzidos em rendimentos efetivos para os produtores extrativistas, que continuam sua luta desesperada pela sobrevivência", admite.

A pesquisa foi desenvolvida sob a orientação de Bastiaan Philip Reydon, professor do Núcleo de Economia Agrícola da Unicamp, e resultou na dissertação de mestrado "Ilhas de alta produtividade: inovação essencial para a manutenção do seringueiro nas reservas extrativistas", financiada pela Capes. O projeto de doutorado de Maciel visa fazer a valoração dos benefícios econômicos indiretos gerados pela atividade extrativista.
(-ComCiência-Campinas-SP-18/12/03)

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.