VOLTAR

Nenhuma maldade covarde destruirá os nossos povos indígenas

UOL - https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/casagrande/2023/01/27
Autor: WALTER JR., Casagrande
27 de Jan de 2023

Nenhuma maldade covarde destruirá os nossos povos indígenas
Um Índio descerá de uma estrela colorida, brilhante
De uma estrela que virá em uma velocidade estonteante (Música Um Índio / Caetano Veloso)
O maior projeto do governo Bolsonaro era dizimar os povos indígenas de diversas maneiras.
Walter Casagrande Jr
Colunistas do UOL
Jair Bolsonaro, Damares e Ricardo Salles foram os mentores protagonistas dessa ação cruel e diabólica.
Qual é a religião dessa gente?
Quem é o Deus dessa turma?
Viviam se escondendo por trás de uma suposta fé religiosa.
A covardia desse pessoal não tem o aval de Deus algum.
Jair Bolsonaro e sua gangue cometeram crimes contra a humanidade, rindo, debochando com uma frieza típica da psicopatia.
O que esse desgoverno fez com os povos yanomamis é sem duvida a maior crueldade já vista aqui no Brasil.
A intenção era destruir o Brasil por meio da violência terrorista, como demonstraram no dia 8/1, mas também através da contaminação dos rios, dos assassinatos das lideranças indígenas, dos estupros realizados com as mulheres indígenas.
E isso é só a ponta do iceberg. As atrocidades que começam a aparecer agora, com as investigações sobre o cenário que levou os yanomamis às condições inaceitáveis de desnutrição e doenças, são inacreditáveis.
Jair Bolsonaro é o rei da maldade e da impunidade. Como presidente, ele abençoou todos os tipos de crimes, inclusive o da violência contra a mulher.
Este homem colocou o Brasil no mapa da vergonha e o mundo se afastou de nós por causa dessa gente.
Nenhum chefe de Estado queria Jair e sua turma por perto, ou seja, pararam de convidar o Brasil para as festas.
É um bando de mentirosos e covardes, porque agora estão todos calados e, obviamente, imaginando de que forma conseguirão fugir, como já fugiram o inominável e seu filho Carlos.
Não vai adiantar se esconder, porque serão presos em algum momento e pagarão por todos os crimes cometidos.
Esses caras deveriam ser julgados num tribunal indígena pela atrocidade que fizeram com todos eles.
Não existe palavra que possa traduzir a minha indignação e dor ao conhecer os detalhes de um estudo feito pela Hutukara Associação Yanomami, com assessoria técnica do Instituto Socioambiental, apresentados pelo amigo e ótimo jornalista Octavio Guedes na GloboNews. Fiquei tão impressionado com o que ele mostrou, que lhe pedi a pesquisa completa, e ele gentilmente me enviou.
O estudo, feito para medir o avanço do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami (TIY) em 2021, é de virar o estômago, mas a prática criminosa é tão sistemática que fica muito fácil comprovar o envolvimento de autoridades e dar nomes aos bois dessa tragédia, todos coniventes com o que aconteceu ali nos últimos anos.
Para começo de conversa, toda a regulamentação que ajudava a defender aquele território foi derrubada junto com as suas árvores.
A extração de ouro na região, que não poderia receber certificado de ouro legal porque a proteção à reserva não permitia, passou a ter a bênção da lei. Como? É simples: a palavra do sujeito que vende o ouro passou a ser a única exigência para obter o certificado legal do minério. É como dizer ao ladrão que ele pode produzir uma nota fiscal do seu produto de roubo, e tudo fica dentro da lei.
A partir disso, a barbárie foi obviamente autorizada.
Como era preciso tirar literalmente o chão dos yanomamis, garimpeiros (e nem podemos chamar esses caras de humanos) passaram a embebedar indígenas jovens com cachaça. Primeiro atraíam os rapazes, imaturos, que aceitavam levar suas irmãs até os criminosos em troca de um prato de comida ou de dois gramas de ouro.
"Faça o que eu digo! Se você quiser cachaça, eu vou dar também cachaça. Você vai ficar bêbado na sua casa!", diziam os criminosos.
Sem floresta e com rio contaminado, a fome foi dando as cartas. Vulneráveis e alcoolizados, os jovens já não se submetiam ao comando dos anciãos da comunidade, e foram se tornando violentos.
As jovens indígenas, levadas como presas fáceis aos garimpeiros, também eram alvo da cachaça. Embriagadas, perdiam o último resquício de força para lutar contra sucessivos estupros.
Daí eu fico pensando onde estaria neste momento a então ministra Damares, que criava ficção sobre bebês abusados sexualmente no Pará, uma história que nunca se comprovou nem ninguém ouviu falar, e ignorou nada menos que 21 pedidos de socorro dos yanomamis, todos registrados em ofício.
Onde estava você, Damares, tão temente a Deus e à família, que viu o que nunca existiu e ignorou o que aconteceu em Roraima? É revoltante. É criminoso.
Relatos registrados pelo estudo mostram que o estupro passou a ser algo corriqueiro. Em 2020, três meninas de 13 anos, idade em que o físico ainda está em formação, acabaram morrendo de tanto serem abusadas pelos monstros que invadiram aquele pedaço de chão.
Onde estava o sujeito que usava o nome de Deus como se fosse seu cabo eleitoral? Onde estava a sua falsa princesa?
Isso sem falar na expansão dos casos de malária e de doenças infectocontagiosas, levadas pelos criminosos à comunidade indígena.
Todo esse cenário desolador é fruto de uma política de desgoverno comandada por um presidente que aliviou a fiscalização de multas ambientais, derrubou leis que impediam o garimpo em reservas indígenas e puniu quem tentou frear esse genocídio.
Na verdade, ele executou tudo o que nunca fez questão de esconder e até se orgulhava desse discurso. Quando ainda era deputado, em outubro de 1993, Jair apresentou projeto para derrubar o decreto presidencial de criação da reserva yanomami, mas perdeu: a balela foi arquivada, e ele tentou por várias vezes tirar o seu projeto de genocídio da gaveta, sem sucesso.
Em 2017, finalmente candidato à presidência, avisou "Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena". Até que em 2020, já no trono, propôs o que a gente pode chamar de Projeto de Lei do Genocídio, também assinado pelos ministros almirante Bento Albuquerque e Sergio Moro, que autorizaram o garimpo e o agronegócio em terras indígenas.
Diante disso, como negar a conivência dessas pessoas no cenário que estamos testemunhando hoje, graças a uma força-tarefa que pediu urgência para salvar os yanomamis? E não venham dizer que Jair e sua turma não sabiam de nada.
Como é que em 20 dias de nova gestão, o governo federal mobilizou agentes de saúde, Forças Armadas e a sociedade civil, que tem enviado toneladas de alimentos a Roraima depois de ver as imagens dessa tragédia?
Se esses seres da gestão passada tivessem um pingo de dignidade, nem tentariam fugir da punição que a Justiça logo há de lhes dar. Mas isso é gente que nunca ouviu falar em empatia, ou então isso jamais teria chegado ao ponto que agora estamos conhecendo.
Quando falo dessa turma, uso muito as palavras "crueldade", "perversidade", "crime", "maldade", mas meu vocabulário não encontra meios de nominar o que agora sabemos que foi feito com os yanomamis.
O estudo que Octavio Guedes apresentou na GloboNews foi feito para medir o avanço do garimpo ilegal na região, que teve no governo Bolsonaro o seu pior momento desde que a TIY foi demarcada e homologada, há 30 anos, com estrago maior a partir do 2o semestre de 2020, bem no ano ápice da pandemia, quando Ricardo Salles alertou para a vantagem de "fazer a boiada passar".
Antes fosse só uma boiada mesmo. O que esteve por trás dessa frase se escancara agora como um cenário inimaginável, que tem que ser permanentemente lembrado para que não se repita.
As imagens de crianças yanomamis absolutamente desnutridas em Roraima deveria envergonhar cada brasileiro que jure honrar a nossa bandeira perante o mundo.
Que os mandantes desse crime, aqueles que até outro dia estavam no poder, falando em nome de Deus, recebam o que merecem.
Quanta vergonha.

https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/casagrande/2023/01/27/ne…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.