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Nem modernidade da metrópole evita morte de criança indígena

Universo on-Line-São Paulo-SP
10 de Mar de 2005

Uma realidade que parece tão distante pode estar mais perto do que se imagina. Na aldeia Tenonde Porã, tradição indígena e modernidade se misturam. Cerca de 500 índios vivem à beira de uma represa, em Parelheiros, zona sul de São Paulo (SP), a 50 quilômetros do centro da maior cidade do país. Quase metade da população é formada por crianças e adolescentes.

Na aldeia tem índio que joga vídeo game, com carro e até que usa computador. Mesmo assim, a aldeia ainda preserva tradições como a "casa da reza", o artesanato, o cachimbo e a escolha do cacique.

Nos últimos anos, a aldeia ganhou uma escola, um posto de saúde e até um centro cultural. Apesar da estrutura, os moradores dessa aldeia em São Paulo enfrentam problemas como outros índios no Brasil.

Nos últimos sete anos, 36 crianças com idade inferior a quatro anos morreram por causa de doenças infecciosas e relacionadas à desnutrição. A aldeia Tenonde Porã está em uma das cinco áreas indígenas do país com índice de mortalidade infantil maior que a média nacional. Somente no Mato Grosso do Sul, 11 crianças morreram por desnutrição neste ano.

Uma equipe coordenada por médicos da USP - Universidade de São Paulo visita uma vez por semana a aldeia paulistana. Em sete anos de projeto, o número de mortes de crianças caiu 87% (de 16 para dois), mas o problema está longe de ser resolvido.

"Nós constatamos aqui um índice de desnutrição duas vezes maior do que o de uma área não indígena. A mortalidade infantil também é duas vezes maior que a média nacional", disse Renato Yamamoto, médico do Hospital das Clínicas da USP, coordenador do projeto de atenção à saúde dos povos indígenas de Parelheiros.

Segundo o médico, que coordena o projeto, a alimentação precária e a falta de saneamento e transporte adequados agravam a situação das crianças da aldeia. "Aqui falta medicamentos e alimentos. Temos de pedir ajuda para dar o leite para as crianças", disse Rosa Aparecida, moradora da aldeia.

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, no domingo (6), o presidente da Funai - Fundação Nacional do Índio, Mércio Pereira Gomes, disse que o órgão não tem dinheiro para atender a demanda no setor. Segundo ele, as terras disponíveis no país não acompanham o crescimento da população indígena.

Algumas famílias da aldeia Tenonde Porã recebem dinheiro de programas sociais. Mesmo assim, os índios cobram maior rapidez nos processos de demarcação das terras. "Falta vontade política para resolver as questões indígenas. Se eu falar que nós vivemos da pesca e da caça, isso é mentira. Isso acabou na nossa aldeia. O índio tenta caminhar pelas próprias pernas", afirmou o cacique Timoteo Verá Potiguar.

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