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Negocios com transgenicos devem crescer 60 porcento

GM, Agribusiness, p.B12
21 de Mar de 2005

Negócios com transgênicos devem crescer 60%
Liberação do comércio de sementes transgênicas cria mercado para empresas de pesquisa agrícola, como a Coodetec. A aprovação da lei de biossegurança, que, dentre outros assuntos, libera a comercialização de sementes de soja transgênica, promete gerar bons negócios para a Cooperativa Central de pesquisa Agrícola(Coodetec), de Cascavel. A empresa, que vem desenvolvendo cultivares transgênicas no País desde 1997, espera um crescimento de 60% no seu faturamento em 2005, que deverá chegar a R$ 80 milhões. "Somente nossas receitas com a soja deverão crescer 50%, para R$ 30 milhões", diz Ivo Carraro, diretor executivo da Coodetec.
Carraro calcula que a área plantada com semente transgênica poderá chegar a 50% do total já para a próxima safra. Estima-se que na atual safra 2004/05, esse volume esteja entre 20% e 25% dos 21 milhões de hectares cultivados com soja no País. "O mercado de sementes legais como um todo deverá ficar em 5 milhões de sacas".
Somente a Coodetec deverá ofertar 75% desse volume, de acordo com dados do executivo. "Aceleramos a multiplicação nas últimas safras e deveremos intensificar o processo no inverno", diz. Além da Coodetec, empresas como a Embrapa e a Monsoy, da Monsanto, também estão multiplicando sementes.
A oferta, no entanto, ainda vai depender dos estragos provocados pela seca nessa safra. A Coodetec tem uma rede de 150 multiplicadores de sementes, dentre empresas, cooperativas e produtores licenciados. Desse volume, 120 trabalham com sementes de soja transgênica.
A empresa de tecnologia, que nasceu dentro do sistema de cooperativas do Paraná, desenvolveu quatro cultivares de soja transgênicas, em parceria com a Monsanto. Carraro diz que investe por ano R$ 10 milhões em pesquisas na área de soja, que incluem ainda o desenvolvimento de variedades convencionais e de melhoramento genético.
A expectativa é iniciar a venda das sementes transgênicas nos próximos meses. O projeto de lei de biossegurança, já aprovado no Congresso Nacional, ainda depende da sanção do presidente Lula. De acordo com Carraro, o preço de mercado dependerá do valor da taxa tecnológica que está sendo negociada com a Monsanto, da oferta de sementes e da demanda. "Nessa safra, o produtor conseguiu uma redução de 10% nos seus custos. O valor médio pago referente a royalties equivale a R$ 0,60 por saca".
O diretor executivo da Coodetec espera também que a entrada em vigor da nova lei reduza a pirataria de sementes, cujos volumes explodiram nos últimos anos no País, principalmente com a soja contrabandeada da Argentina.
Segundo ele, estima-se que dos 21 milhões de hectares plantados com soja na última safra, cerca de 35% utilizaram sementes clandestinas. Os prejuízos já chegam a US$ 200 milhões ao ano.
Ainda segundo o executivo, há quatro anos o percentual de sementes legais no Brasil era de 90%. Em 2002, esse volume caiu para 80% e, na última safra, chegou a 65%. "O oportunista que copia sementes sem autorização, além de infringir o direito à propriedade intelectual do obtentor do cultivar, sonega parte dos investimentos em pesquisas futuras e, principalmente, coloca em risco toda a atividade agrícola nacional, prejudicando produtores, melhoristas, representantes, agricultores e consumidores", diz ele, que preside a Associação Brasileira dos Obtentores Vegetais (Braspov).
Com 40 cooperativas associadas nos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso do Sul e São Paulo, a Coodetec foi criada em 1995 a partir do departamento de pesquisa interno do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). A empresa atua também na área de melhoramento genético, comercialização e produção de sementes.
A Coodetec também ganhou destaque com o desenvolvimento em laboratório do baculovirus anticarsia, um dos principais inseticidas biológicos usados no combate à lagarta da soja.
Atualmente são mais de 40 cultivares de soja, trigo, milho e algodão, que são multiplicadas pela própria Cooperativa (total de 620 mil sacas na última safra) ou através de uma rede de 152 empresas licenciadas em todo o País (total de 5,5 milhões de sacas). Para esse ano, Carraro estima que esse volume possa chegar a 8 milhões de sacas em função da comercialização das sementes modificadas.
A Coodetec responde pela produção de mais da metade das sementes comerciais de trigo, soja e algodão, plantadas na safra 2004/05 no Paraná. Segundo a empresa, as variedades com o prefixo CD (identificação de Coodetec), ocuparam 50,7% do espaço destinado às lavouras de trigo, 66,6% da atual safra de soja e 70,2% das lavouras de algodão do estado.
Nos próximos dias, informa Carraro, a empresa coloca no mercado a primeira de uma série de variedades de soja convencional com maior teor de proteína. Além disso, a empresa começa a construir em agosto um novo laboratório em Rio Verde (GO), com investimentos de R$ 2 milhões, e tem planos de montar um de centro de produção de sementes de milho em Paracatu (MG).
A Coodetec, curiosamente, tem sede em um estado considerado o último reduto de resistência aos transgênicos no Brasil. O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), vem promovendo uma verdadeira campanha para tentar evitar que os produtores rurais adotem o plantio de sementes modificadas e proibiu a exportação de soja transgênica pelo porto de Paranaguá, principal canal de escoamento de grãos do País. "A aprovação da lei não muda nada no Paraná. Não queremos transgênicos no estado".
A resistência, porém, não deve frear os investimentos da Coodetec nesse mercado. "A liberação dos transgênicos é irreversível e o produtor tem o direito de escolha. É possível segregar e rotular a soja modificada e muitas cooperativas já estão fazendo isso e exportando pelos portos de Santos (SP) e São Francisco (SC)", diz Carraro.

GM, 21/03/2005, p. B12

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