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Negocio certo

Isto E, Cidadania, p.46-48
01 de Set de 2004

Isto É Cidadania
Negócio certo
Associação Mundaréu promove o comércio justo, trazendo para o mercado pequenos artesãos de vários Estados do País
Rita Moraes
Ampliar o acesso de pequenos produtores ao mercado, com remuneração correta, condições de trabalho favoráveis e uso sustentável dos recursos naturais, de forma que o consumidor adquira produtos comercializados com responsabilidade. Esse é o conceito de comércio justo que a Associação Mundaréu, de São Paulo, quer disseminar. Chama-se justo porque remunera adequadamente o produtor e, ao eliminar os intermediários, também evita que o produto chegue às mãos do consumidor com preços exorbitantes. Criada em 2001, a organização promove a inclusão social e o desenvolvimento de produtores artesanais de várias partes do Brasil. Atualmente, 50 grupos de artesãos de 14 Estados, num total de 1.200 pessoas, recebem apoio e capacitação para criar seus produtos, organizar a produção e estabelecer condições para tornar seu empreendimento rentável. Expomos os produtos em nossa loja em São Paulo e participamos de feiras e eventos. Criamos meios para que os produtos sejam conhecidos e vendidos. Temos muito sucesso com brindes para empresas”, explica a socióloga Lizete Prata, presidente da Mundaréu. A associação comercializa peças feitas em pequena escala de materiais reciclados (madeira, papel e retalhos de tecidos) ou de origem natural, como sementes e fibras obtidas sem prejuízo ao meio ambiente. No ano passado, foram vendidos 15 mil produtos.
Entre os artesãos beneficiados estão mulheres, jovens, pessoas com necessidades especiais, quilombolas e povos indígenas. Em São Paulo, jovens de 16 a 20 anos da Cooperativa Tabor, que desenvolvem produtos de marcenaria e marchetaria, aumentaram sua renda individual em 360% desde o início da parceria com a Mundaréu há três anos. Outros exemplos de grupos beneficiados na capital paulista são o das Mães da Casa do Zezinho, que produzem cortinas e jogos americanos de hashi, e o dos adolescentes do Gente Jóia, da Estação da Arte, Cultura e Educação, que criam acessórios e marcadores de livros com pedras semipreciosas e sementes aplicadas em prata, cobre e couro.
Há, no entanto, algumas exigências para receber o apoio da associação. Em nenhuma hipótese pode-se utilizar mão-de-obra infantil ou ferir o meio ambiente com a atividade produtiva. Os grupos também devem ser democráticos, com direitos igualitários para todos os seus membros. A composição do preço final do produto é assim distribuída: 50% para o produtor, de 25% a 30% para custos operacionais de transporte e venda e o restante para o Fundo de Apoio à Produção, espécie de capital de giro para a compra dos produtos.
Além de facilitar a venda das peças, a associação promove a capacitação desses pequenos produtores, com a participação de designers e estilistas e com uma parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo. É feita uma análise inicial das características do trabalho, das dificuldades e possibilidades de inserção no mercado. O segundo passo é estimular a criatividade do artesão e o desenvolvimento de suas habilidades, e, por fim, dar orientação administrativo-financeira. A parceria com a Pinacoteca e a realização de oficinas permitem que os artesãos tenham outras referências artísticas, conheçam mais sobre a história e sobre os materiais que utilizam. Vemos que, com a capacitação, o grupo cresce. Começa a vender mais e, se não houver capacidade produtiva, ele se desorganiza. Por isso, os artesãos precisam conhecer princípios de gestão”, informa Lizete. Nosso maior desafio é fazer com que eles se apropriem do negócio, que se sintam empreendedores, para que tenham melhoria significativa de renda”, completa.

Isto É, 01/09/2004, p. 46-48

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