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Negociação do clima tem texto vago

Valor Econômico, Internacional, p. A10
Autor: CHIARETTI, Daniela
06 de Out de 2015

Negociação do clima tem texto vago

Por Daniela Chiaretti

Um rascunho do acordo do clima, apresentado ontem aos governos, indica ciclos de cinco anos para os países revisarem seus compromissos de corte de emissões de gases-estufa. É um ponto positivo no texto de 20 páginas que deve servir de base na última rodada de negociação antes da conferência de clima de Paris, em dezembro, quando se espera que o acordo seja selado por mais de 190 países.
O texto apresentado pelos co-presidentes do processo de negociação, o argelino Ahmed Djoghalf e o americano Daniel Reifsnyder, é uma versão mais enxuta e organizada do que a anterior, que tinha 83 páginas, era confusa e "inegociável", segundo um diplomata ouvido pelo Valor. O rascunho atual, contudo, é vago em pontos-chave. Não se sabe se será adotado como texto-base do acordo a ser negociado este mês, em Bonn, a última rodada antes de Paris.
"Os contornos do acordo estão se definindo. Os países apresentaram seus planos de ação, e o momento político está mais forte do que nunca", disse à agência de notícias Reuters Amjad Abdulla, das ilhas Maldivas e negociador-chefe da aliança das pequenas ilhas (Aosis, em inglês), grupo de países ameaçados pelo avanço do mar sobre seus territórios. "Mas o diabo está nos detalhes", prosseguiu.
O texto coloca entre colchetes (o que na ONU equivale a dizer que ainda não há acordo) duas metas globais de redução de gases-estufa - que limite o aquecimento a 1,5oC, como pedem as ilhas, ou 2o C, teto mais citado pelos países.
Destaca em um artigo que os países reconhecem a necessidade de cooperação a título de "perdas e danos". Países mais afetados pela mudança do clima, como pequenas ilhas ou nações africanas, querem que o acordo tenha um mecanismo específico para "loss and damage". Alegam que já não podem mais se adaptar aos impactos do clima. Os EUA resistem à ideia. "O texto menciona 'loss and damage' sem muita efetividade", diz Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede de ongs brasileira que trata do tema. "A impressão que se tem é que está ali apenas para não ficar de fora."
Mark Lutes, especialista em finanças climáticas do WWF Internacional, diz que o texto sobre a mesa é "um bom ponto de partida" no quesito recursos financeiros. No texto, coloca-se que os países desejam ter uma variedade de fontes de recursos públicos e privados, bilaterais e multilaterais, para dar conta do desafio. O rascunho cita o compromisso de se levantar US$ 100 bilhões ao ano, assumido pelos países ricos em 2009 - mas não especifica que a promessa foi feita pelas nações desenvolvidas.
Até ontem, 119 países (mais a União Europeia) haviam apresentado seus planos de combate à mudança do clima. A soma dos esforços leva a um aquecimento acima de 3oC, segundo estimativas.

Valor Econômico, 06/10/2015, Internacional, p. A10

http://www.valor.com.br/internacional/4257158/negociacao-do-clima-tem-t…

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