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A necessidade de água fica dramática

GM, Relatório da GM, p. 11
23 de Jan de 2004

A necessidade de água fica dramática
A cidade tem pouco a comemorar no saneamento, além do avanço na limpeza do rio Tietê.

Grandes cidades, grandes problemas. O saneamento básico de São Paulo - ou da Grande São Paulo - não escapa dessa regra implacável. Ao completar 450 anos, a cidade tem pouca coisa a comemorar além dos avanços na limpeza da calha do rio Tietê. Tem muita coisa a lamentar e razões de sobra para desenvolver sérias preocupações com o abastecimento de água de sua população - 10 milhões, se considerarmos apenas o município de São Paulo e quase 18 milhões se pensarmos nesse imenso conglomerado urbano que forma a região metropolitana. Quando a intenção é focar os problemas do saneamento básico não se pode mais separar a capital do estado dos municípios que a circundam.

Um pacote de más notícias vindo do saneamento espana o brilho das comemorações do 450o aniversário.

Primeira delas e, sem dúvida alguma, a mais importante: o sistema de abastecimento de água da Grande São Paulo começou a operar no limite de sua capacidade; qualquer má vontade que venha de São Pedro pode produzir verdadeiras tragédias na região, algo já visível no ano de 2001 quando uma estiagem prolongada quase deixa áreas com 7 a 8 milhões de habitantes, por tempo indeterminado, sem água nas torneiras. Dessa vez, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) teve que se desdobrar na administração do sistema, correr com obras que abriram novas e tímidas fontes de captação para contornar a crise.

É de todo improvável que a região consiga escapar da "tragédia" - o blackout de água numa região tão densamente povoada - em novo período de escassez pluviométrica que possa ocorrer nos próximos cinco ou seis anos.
Segunda má notícia: especialistas consideram ainda muito distante a possibilidade de a região resgatar as suas fontes próprias de captação de água apesar do esforço, empreendido pelo governo estadual, de despoluição do rio Tietê. E a alegação é simples e grave: mesmo que a região consiga evitar todo o lançamento de esgoto em mananciais como o do Tietê conviverá ainda por muito tempo com o fenômeno da "poluição difusa", tudo aquilo que é lançado em rios, represas e córregos por fora dos canos de esgoto - de sedimentos a garrafas PET.

Outra informação que pode vir para o bem ou para o mal, ninguém sabe no momento, é que a outorga conferida à Sabesp para captação no Sistema Cantareira, editada há mais de 20 anos, quando era ministro das Minas e Energia Shigeaki Ueki, vence em agosto. Terá que ser renovada. E será forte a influência dos comitês de bacia da região de Campinas nas negociações. Parece inevitável que estes tragam para a mesa de negociações a antiga e contida indignação pelo que consideram "uso abusivo do sistema" para abastecimento da Grande São Paulo. Já falam que a região de Campinas precisa receber uma contrapartida da Grande São Paulo e que a capital e os municípios circunvizinhos precisam promover mudanças radicais em seu perfil de consumo. Haverá pouca tolerância com a ainda elevada taxa de desperdício da região metropolitana e também nenhuma condescendência com as unidades industriais que sozinhas chegam a consumir tanta água quanto consome uma cidade de um milhão de habitantes.

Subsolo comprometido
Outra má notícia vem do subsolo: empresas especializadas na perfuração de poços artesianos registram mais um tipo de preocupação inquietante. "As águas de subsolo da Grande São Paulo estão celeremente comprometidas, seja pela perfuração de poços clandestina, seja pela contaminação", afirma o ambientalista Fábio Feldman.
Dirceu Pio - Gazeta Mercantil

GM, 23/01/2004, Relatório da GM, p. 11

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