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A natureza vai à sala de aula

CB, Brasil, p.16
27 de Jul de 2004

A natureza vai à sala de aula
Duzentos educadores brasileiros reúnem-se em Brasília até o fim do mês para discutir formas de repassar aos alunos questões como poluição, reciclagem e preservação

Paloma Oliveto
Da equipe do Correio

''Quando fomos criados, fomos colocados em um jardim. Vamos cuidar dele.'' Inspirada no livro bíblico do Gênesis, a ministra do Meio Ambiente Marina Silva abriu, ontem, o primeiro seminário de formação de professores do programa Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas, uma parceria entre os ministérios do Meio Ambiente e da Educação. Até o dia 31, 200 educadores de todos os estados brasileiros participarão, em Brasília, de debates e oficinas de capacitação.

A idéia é tornar o meio ambiente tema corriqueiro nas escolas, de forma interdisciplinar. Não apenas questões como poluição e reciclagem, mas também a relação da comunidade com o lugar em que vive. ''A maior riqueza deste país é a diversidade cultural. Não é possível fazer educação ambiental que marginalize culturas'', diz Marcos Sorrentino, diretor do Programa Nacional de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente. Assim, os projetos deverão levar em conta as especificidades de cada região, co mo as zonas urbanas, rurais, ribeirinhas, quilombolas, indígenas e caiçaras.

Os 200 professores deverão criar redes de multiplicação até que, no final de 2004, 64 mil pessoas, entre alunos e educadores, sejam capacitadas. As metas para 2005 incluem a implantação de conselhos de Meio Ambiente e Qualidade de vida em 16 mil escolas, o lançamento dos subprogramas Inclusão Digital com Ciência de Pés no Chão e a realização da II Conferência Nacional Infanto-Juvenil do Meio Ambiente.

No ano passado, houve a primeira conferência. Dezesseis mil escolas de quatro mil municípios brasileiros participaram, debatendo questões ambientais e formulando projetos que foram encaminhados ao Ministério do Meio Ambiente (leia abaixo). Nas comunidades indígenas, a maior preocupação das escolas é com a qualidade da água. Quase todos os projetos destacam a necessidade de preservação dos rios e mananciais. Já os quilombolas priorizam o respeito às tradições, enquanto os estudantes rurais pedem programas de fixação do homem no campo.

No total, o Ministério do Meio Ambiente recebeu 15.452 propostas de todos os estados e do Distrito Federal. O DF apresentou 85 trabalhos, ficando em penúltimo lugar no ranking. O estado que mais participou foi o Ceará, com 1.969 propostas.

Durante esta semana, representantes estaduais se dividirão em sete grupos de trabalhos temáticos. Além de estudar temas referentes ao meio ambiente, os educadores trocarão experiências, parti ciparão de oficinas e, ao final, deverão apresentar soluções. No lançamento do programa, o ministro interino da Educação, Fernando Haddad, destacou a importância do trabalho conjunto entre as duas pastas. ''Neste processo de estreitamento dos ministérios, todos saem ganhando, principalmente, os educadores.''

Lixo virou arte
Para os 750 alunos da Escola Classe 22 do Gama, a educação ambiental não é novidade. Desde o começo do ano, eles aprendem a transformar lixo em arte e ho je dão lições de ecologia até para os pais. A idéia partiu da professora Zenilda Zilarins Cardoso, que pensava em uma forma de trabalhar a sensibilidade das crianças e dos adolescentes por meio de manifestações artísticas.

O lixo era um dos principais problemas da comunidade, que não sabia fazer coleta seletiva. A partir do diagnóstico, a professora do ensino infantil resolveu desenvolver atividades sobre o tema. Os estudantes aprenderam a reutilizar material e até criaram uma grife, a D'Lixo, com roupas feitas a partir de garrafas de refrigerante, latas e outros reciclados. Eles também gravaram um CD com músicas ecológicas e irão participar de documentários que tratam da questão ambiental.

Segundo Zenilda, não só o comportamento das crianças, mas também o da comunidade, mudou. ''Os filhos ensinaram em casa que era preciso fazer coleta seletiva. Antes, as pessoas não sabiam para que o lixo poderia servir'', conta. A vice-diretora da escola, Rosemeyre Maria Rober ta, que desenhou a coleção de roupas recicladas, espera que os alunos levem a lição para a vida toda. ''Plantamos uma sementinha, agora queremos que ela cresça'', diz.

Propostas das escolas
No ano passado, o projeto Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente conseguiu mobilizar 5.660.692 pessoas (estudantes, professores, capacitadores) em 15.452 escolas de 4.067 municípios brasileiros. Cada colégio enviou ao Ministério do Meio Ambiente suas propostas. Conheça algumas:

Escola Ismael Iglesias, em Caraguatatuba (SP). Comunidade: ribeirinha. Projeto: ''Juqueriquerê: o rio pede socorro!''. Programa de conscientização da comunidade sobre a preservação do rio Juqueriquerê, que está ameaçado por lixo, entulho e esgoto.
Escola Auta Raupp, em Cacoal (RO). Comunidade: assentamento rural. Projeto: analisar os problemas agrários do município, como o êxodo rural, para buscar soluções de como fixar o homem no campo, por meio de uma polí tica agrícola adequada, relacionando a temática aos problemas ambientais.
Escola Estadual Quilombola 27 de Maio, em Porto da Folha (SE). Comunidade: quilombola. Projeto: discutir políticas públicas e agrícolas com a escola, órgãos e organizações não-governamentais (Ongs) a fim de promover coleta seletiva de lixo, lazer, resgate da cultura, preservação dos rios, tratamento da água e saneamento básico, reflorestamento, produção de pequenos animais, agricultura e hortaliças para seu susten to.
Escola Estadual Professora Vilma dos Santos Dissenha, em Mangueirinha (PR). Comunidade: indígena. Melhorar a qualidade da água, providenciar a coleta de lixo doméstico e hospitalar.
Escola Classe 218 de Santa Maria, em Brasília (DF). Comunidade: urbana. Projeto: formar uma patrulha escolar para conscientização da importância da recuperação e preservação das nascentes do ribeirão Santa Maria e do Rio dos Alagados.

CB, 27/07/2005, Brasil, p. 16

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