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Nasce o pólo de biocombustíveis

OESP, Economia, p.B7
16 de Nov de 2004

Nasce o pólo de biocombustíveis
Ministério da Agricultura e Esalq formalizam hoje a criação do projeto, que deverá ser implantado em 2005

Silvana Guaiume

Será formalizada hoje a criação, em Piracicaba, do Pólo Nacional de Biocombustíveis, projeto lançado em janeiro pelo presidente Lula. O projeto será desenvolvido por convênio entre a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) e o Ministério da Agricultura.
A conclusão do projeto está prevista para abril de 2005. Nesse mesmo ano o governo brasileiro deverá assinar um acordo de US$ 15 milhões com o Japan Bank International Corporation para financiar a implantação do pólo e a construção da sede, num terreno da Esalq.
Outros R$ 150 mil deverão vir do governo federal para o início da operação, segundo o presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, Luiz Carlos Corrêa Carvalho.
Segundo Carvalho, o pólo será um centro de coordenação, comunicação, fomento, captação de recursos e de viabilização de políticas públicas para projetos de biocombustíveis. Atuará ainda no aperfeiçoamento de profissionais e na coordenação das pesquisas produzidas em institutos e universidades. Ele explicou que as três "grandes árvores" do centro de fomento serão álcool, madeira e biodiesel.
O órgão pretende viabilizar financiamentos aos projetos que passarem pelos filtros da questão social, econômica e ambiental. "Os recursos virão de fundos nacionais e internacionais", diz.
Até abril, quando acontece nova reunião, os programas, processos de seleção, estruturas de operação e outros detalhes do pólo estarão definidos. Também será preciso regulamentar o mercado. No Brasil há duas empresas se preparando para produzir biodiesel, mas a regulamentação do produto ainda está em discussão.
Uma das proposições do governo é estimular a produção de biodiesel no Nordeste em pequenas propriedades e na agricultura familiar, embora não haja restrições à adesão de grandes empresas ou produção em outras regiões.
PERSPECTIVAS
No mercado mundial, a Alemanha mistura 20% de biodiesel ao óleo diesel dos veículos. Outros países europeus utilizam o produto em menores proporções. Mesmo o Brasil usa 25% de álcool na gasolina.
O custo do álcool brasileiro, extraído da cana, é o mais baixo do mundo, US$ 0,17 por litro, quase metade do segundo custo mais baixo, de US$ 0,30, obtido pelos Estados Unidos, com milho. A Europa, que usa beterraba, trigo e cevada, não consegue álcool a menos de US$ 0,55.
A variedade de oleaginosas, das quais se extrai o biodiesel, também coloca o Brasil em posição privilegiada. Outra vantagem é que no processo de produção do combustível verde, o Brasil usa etanol obtido da cana, enquanto outros países usam o metanol, fóssil e poluente.
"O biodiesel brasileiro é 100% renovável", diz a professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR) Roseli Aparecida Ferrari. A matéria-prima que rende mais óleo por hectare é a palma, ou dendê. "Mas o Brasil produz inúmeras matérias-primas que podem ser viabilizadas conforme as regiões", acrescenta.
O combustível verde pode ser misturado ao diesel comum em até 5% sem que sejam necessárias alterações nos motores. O consumo de diesel no Brasil é de 36 bilhões de litros anuais e deverá chegar a 40,5 bilhões em 2010. A mistura de 5% exigirá 2 bilhões de litros de biodiesel apenas para o mercado interno.
Se for de 2%, como prevê inicialmente o programa, o consumo será de 800 milhões de litros, segundo projeções da Câmara Setorial. O potencial de exportação também é grande. Segundo Corrêa Carvalho, o Protocolo de Kyoto prevê o uso de 5,75% de combustível renovável na frota mundial em 2010.
A exportação do álcool brasileiro explodiu de 1 bilhão de litros no ano passado para 2,2 bilhões previstos até o final deste ano. Os empreendedores já se movimentam. Vinte novas usinas estão em construção no Brasil, das quais metade deve começará a operar em 2005, informa o professor do Departamento de Agroindústria, Alimento e Nutrição da Esalq Jorge Horii.
Para atender ao mercado japonês, "o País precisaria de 100 novas usinas, mais 1 milhão de hectares de cana plantada e 6 bilhões de litros de álcool", comenta Horii. "Isso custa vários anos". O Brasil tem 5,2 milhões de hectares de cana e deve produzir 14,5 bilhões de litros de álcool este ano.
Segundo projeções da Câmara Setorial, o País produzirá entre 20 bilhões e 21 bilhões de litros de álcool até 2010. "Imaginávamos que os carros bicombustíveis atingiriam 67% da frota em 2006. Mas isso vai ser alcançado já em 2005", diz Corrêa Carvalho.

OESP, 16/11/2004, p. B7

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