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Nasce o grande corredor da soja. E vem nos trilhos

Estado de S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: CARLOS FRANCO
08 de Set de 2002

Malha ferroviária que chega ao MT começou transportando 400 mil t em 1999, vai a 5,5 milhões este ano e tem planos para atingir 10 milhões

O empresário Nelson Bastos, de 59 anos, espera transformar, em três anos, a Brasil Ferrovias, empresa que preside e reúne Ferronorte, Ferroban (antiga Fepasa), Novo Oeste e Portofer, no maior, mais veloz e lucrativo corredor de exportação de soja do País. A expectativa é que, a partir daí, a empresa comece a dar lucro e possa fazer uma oferta pública de ações. Este ano ela deverá fechar o balanço com faturamento de R$ 440 milhões O prejuízo que a empresa ainda carrega vem do custo dos pesados investimentos que consome. "Temos que importar trilhos da Polônia porque o Brasil deixou de produzi-los, também dependemos de vagões e locomotivas cotados em dólar", reclama Bastos, que cobra, em média, US$ 20 por cada tonelada de soja que sai do Alto Araguaia (MT), até o Porto de Santos.

Bastos, que largou o curso de engenharia da Escola Politécnica de São Paulo para criar, aos 22 anos, uma empresa de eletroeletrônicos, a Gradiente, fala pouco mas vai direto ao ponto. "Basta um trecho de 200 quilômetros, do Alto Araguaia a Rondonopólis (MT), para que possamos atrair a carga de soja que passa pela rodovia BR 163 em direção ao Porto de Paranaguá (PR)." Esse trecho poderá agregar até 4 milhões de toneladas/ano à malha ferroviária e ao Porto de Santos.

Terá, com isso, um efeito multiplicador que pode ser medido pelos 100 quilômetros ligando o Terminal Alto Taquari (MS) ao Terminal Alto Araguaia (MT), inaugurado em maio. Só este trecho aumentará em 2 milhões de toneladas anuais a soja transportada. O terminal fica às margens da rodovia BR 364, por onde os caminhões seguiam até Uberlândia (MG), para embarcar soja na malha ferroviária que sai de Araguari (MG) e vai até o Porto de Vitória (ES). Esse trecho consumiu R$ 74 milhões da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia e outro tanto do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas já está dando resultados.

A carga transportada pela ferrovia passou de 400 mil toneladas em 1999 para 1,5 milhão de toneladas em 2000, chegando a 3,6 milhões de toneladas no ano passado e a pelo menos 5,5 milhões de toneladas este ano. Ou seja, 25% da soja que deverá ser exportada pelo País passa pela Ferronorte, que já transporta 70% da soja em grão exportada pelo Mato Grosso e 90% do farelo de soja embarcado para fora do Estado. Só no mês passado, a ferrovia transportou 550,5 mil toneladas, um crescimento de 46% em relação a agosto de 2001.

No mês passado também, a Galvani inaugurou um terminal de fertilizantes às margens da Ferronorte para receber a matéria-prima que vem de Santos. Essa unidade misturadora tem capacidade para armazenar 40 mil toneladas e deverá movimentar 100 mil toneladas já este ano.

Em junho, com investimento de R$ 12 milhões, a Ipiranga e a BR inauguraram o Terminal de Combustíveis de Alto Taquari (MS), que recebe mensalmente 70 mil metros cúbicos de óleo diesel, gasolina e álcool correspondente a 100% do total vendido pela Ipiranga e a BR no Mato Grosso e a dois terços do total consumido no Estado.

Antes do trecho ligando o Alto Araguaia a Rondonopólis, que dependerá de recursos do governo, a Brasil Ferrovias espera que o BNDES libere crédito de R$ 220 milhões para a recuperação da Ferroban, a antiga Fepasa. A meta é recuperar 30% dos dormentes que estão podres e vários trilhos que precisam ser trocados ou soldados para dar mais velocidade aos trens, além da aquisição de vagões. Hoje, a Brasil Ferrovias tem 200 locomotivas, 10 mil vagões, 41 terminais de clientes e 11 próprios.

O investimento total será de R$ 320 milhões, dos quais R$ 100 milhões dos acionistas da Brasil Ferrovias - Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil), Funcef (da Caixa), JP Morgan/Chase, Latin American Infrastructure Fund (Laif) e Grupo Itamaraty.

Ferrovia, diz Bastos que ainda é sócio da Gradiente depois de vender participação a Eugênio Staub, exige investimento a toda hora, não pára nunca, como os trens. Foi assim com os US$ 400 milhões que os governos federal e paulista (30%) gastaram para erguer a ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná, ligando Rubinéa (SP) a Aparecida do Taboado (MS), tornando realidade esse corredor de exportação

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