OESP, Cidades, p. C3
23 de Jun de 2004
Nas águas poluídas do Tietê, peixes...
Perto de São Paulo, equipe localiza, com sonar, espécies resistentes à sujeira
VALDIR SANCHES
A equipe do professor Aramis instalou em seu barco um sonar tridimensional. O professor faz estudos para levar o turismo por 200 quilômetros do Rio Tietê, começando logo depois de São Paulo. O barco com o sonar começou a navegar pelas águas poluídas, como as da capital. A tela do equipamento foi mostrando o rio: fundo lodoso, rochas, pedaços de árvores, peixes... Peixes?
A viagem e a surpresa ocorreram em março. O professor e sua equipe navegavam de Pirapora do Bom Jesus, a 50 quilômetros de São Paulo, à Hidrelétrica de Rasgão, 7 quilômetros adiante. Ontem, quando o professor voltou ao trecho, o repórter do Jornal da Tarde estava a bordo. Viu, na tela do sonar tridimensional, cardumes de peixes, como se estivesse em um rio de águas limpas...
Os ribeirinhos dizem que esses peixes são cabojas e cascudos. Biólogos já comprovaram que esses dois, como o bagre, são resistentes à poluição.
O professor Aramis Mendonça é coordenador dos cursos de navegação na Faculdade de Tecnologia, Fatec, de Jaú. É um técnico, mas tem aulas práticas de biologia.
No caminho para a hidrelétrica, há um remanso e um pequeno afluente do Tietê. Aramis concluiu que o riozinho e o remanso são berçários de peixes.
Apesar da água negra e da sujeira que flutua (principalmente sacos e garrafas de plástico) dá para ver sinais de muitos alevinos, peixinhos bebês. Estes lugares, com a mata nativa intocada, cipoais pendendo das árvores, seriam atrativos para os turistas.
Não fosse a qualidade da água. O governador Geraldo Alckmin anunciou, há pouco, que o rio estará limpo em 2006. Mesmo sujo, não dá para não se deslumbrar com as garças, belas, portentosas, em quantidade. Às vezes, mergulhões se lançam à água para pegar um peixe. Nas margens, há muita vegetação nativa. Nesse trecho, quando o repórter esteve lá, o rio não exalava cheiro ruim.
Transparência - O professor desenhou um barco para turismo nessas águas. Ele mostra a paisagem, mas preserva o turista.
Terá teto e laterais transparentes. E ar-condicionado. Será um aerobarco, para 30 pessoas. Essas embarcações têm a hélice atrás, acima da água (lembram um ventilador), o que impede que sacos plásticos enrosquem nelas.
Esse projetado por Aramis navegará a 10, 12 quilômetros por hora - velocidade comum, nos rios.
O projeto para exploração do turismo no Tietê foi contratado à Fatec por oito municípios ribeirinhos. Os mais próximos são Araçariguama, Santana de Parnaíba e Pirapora do Bom Jesus, a até 50 quilômetros de São Paulo.
Seguem-se Cabreúva, Itu e Salto, a pouco mais de 100 quilômetros. Por fim, Porto Feliz e Tietê, a 200.
O trabalho de Aramis e sua equipe foi levantar as condições de navegabilidade do rio e definir o canal - a parte mais profunda, pela qual as embarcações seguem. No trecho de 200 quilômetros há barragens, como a de Santana de Parnaíba e Zangão, em Pirapora do Bom Jesus. Em outros, corredeiras que exigiriam caras soluções para a navegabilidade. "O ideal, para o rio, são percursos de curta duração, de umas três horas", diz Aramis, que já esteve na Marinha de Guerra e na Mercante, correu mundo, trabalhou na Amazônia e, aos 66 anos, é professor na Fatec.
Os turistas poderiam embarcar, por exemplo, em Salto, que tem o famosa queda d'água e parques ecológicos. Depois de visitá-los, viajariam 48 quilômetros pelo rio (eventualmente com refeição a bordo) até Porto Feliz, onde há o Museu dos Bandeirantes. Os do trecho de Pirapora poderiam ver as garças e cenários exóticos. A espuma de detergente, que freqüentemente cobre o rio. E o garimpo dos aguapés. Garimpeiros como José Andrade e Nivaldo Conceição arrancam plásticos que acumulam embaixo dos aguapés.
OESP, 23/06/2004, Cidades, p. C3
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