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Não faz bem para Mato Grosso do Sul ser conhecido como lugar onde se vendem bebês indígenas

Correio do Estado-Campo Grande-MS
05 de Mai de 2002

A única explicação razoável para a venda de crianças indígenas que há tempos ocorre nas aldeias da região de Dourados é a miséria vivida em estado extremo.

Por mais que se analise em profundidade esta questão, não há como deixar de ignorar que o desterro e o abandono que marcam o cotidiano destas comunidades vão apresentando a cada dia suas dimensões grotescas, causando surpresas e indignações, levando todos a imaginar o que de pior poderá acontecer depois disso.

O sucessivo noticiário sobre o assunto fala por si próprio. Não é preciso ir muito longe: para índios que têm como única perspectiva qual o tempo que vão levar para cometer suicídio, em função do modo degradante de vida, marcado pela fome e alcoolismo, não seria possível esperar outra coisa que não fosse a comercialização de crianças por qualquer preço, revelando o fato extraordinário de que eles mesmos atribuem baixíssimo valor às suas vidas e à de seus filhos.

Há um esforço para se compreender estes acontecimentos. O quadro apresenta-se tão absurdo que não se sabe nem por onde começar as cobranças. Mas a grande pergunta que surge é sobre as razões pelas quais os discursos e os esforços localizados em torno do combate à exclusão social não têm surtido efeito.

De duas, uma: ou nada de efetivo vem sendo feito para solucionar os dramas da miserabilidade dos índios das aldeias bororos ou a própria comunidade tornou-se infensa ao desenvolvimento de políticas sociais ao longo do tempo. Ambas as respostas são inaceitáveis.

Estudiosos do assunto tentam explicar o fenômeno. Segundo eles, o centro do problema está na origem do processo. Estes índios foram expulsos de suas terras e confinados numa área desprovida de condições materiais para que pudessem manter sua cultura e desenvolver modos específicos de sobrevivência.

Não importa agora, neste quadro emergencial, tentar contabilizar as culpas e os erros do passado. Mais do que retroagir é preciso adotar medidas concretas para a supressão definitiva do problema. Não faz bem para Mato Grosso do Sul, que deseja criar condições de manter inserção positiva do Estado no cenário nacional, ser objeto deste tipo de escândalo em programas de intensa repercussão na opinião pública.

As autoridades precisam se movimentar e atuar para evitar que fatos lamentáveis como estes se repitam indefinidamente. Não há pior demonstração de indiferença social do que esta. É preciso menos discurso e mais ação.

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