VOLTAR

"A Nação Que Não Esperou Por Deus": documentário provoca reflexão sobre a questão indígena

A Gambiarra - www.agambiarra.com
07 de Ago de 2015

Em 1999, a cineasta brasileira Lúcia Murat produziu o filme Brava Gente Brasileira, uma história de ficção que retrata a relação conflituosa entre portugueses e povos indígenas no século 18. Para isso, ela foi até Mato Grosso do Sul e utilizou como parte do elenco os Kadiwéu, uma comunidade indígena de espírito guerreiro.

Na tentativa de retomar o contato com os índios, em 2009 ela retornou à aldeia e presenciou uma série de alterações na comunidade, que estava maior e contava com a entrada da eletricidade e todas as inevitáveis consequências que essa chegada acarreta. A partir disso, ela teve a ideia de produzir o documentário A Nação Que Não Esperou Por Deus, e que trata justamente das questões indígenas.

Durante o processo ela foi surpreendida com a disputa por terras envolvendo os Kadiwéu e pecuaristas da região, que invadiram as terras e, consequentemente, alteraram todo um modo de vida que ali antes existia. Essa questão é foco central do documentário lançado em julho pela cineasta.

A Nação Que Não Esperou Por Deus

Todas essas consequências provocadas pela ocupação e intervenção dos pecuaristas no cotidiano dos Kadiwéu é retratada no documentário. Grande parte dos depoimentos é dada pelo líder indígena Ademir, que após o filme acabou assassinado por outro membro da comunidade em função de uma disputa interna.

Lúcia teve ainda acesso ao Relatório Figueiredo durante as filmagens, que trata exatamente da questão das terras dos Kadiwéu e descobriu a forma como os fazendeiros entraram na reserva, e como foi chocante perceber que eles contaram coma ajuda do Serviço de Proteção aos Índios.

"Essa descoberta foi fundamental por nos permitiu encerrar o filme mostrando como a invasão das terras tinha começado"

Precisamos falar sobre os indígenas

A cineasta considera ainda que é fundamental tratar da questão da terra, que o nosso país precisa encarar, a demarcação do território indígena, a partir disso eles podem definir as vidas deles, e isso é um dever do país para com os povos indígenas.

Em entrevista ao Tela Tela (Carta Capital), Lúcia ainda comenta da questão da entrada da Igreja Evangélica na comunidade, mas como isso não os torna fundamentalistas. Grande parte dos pecuaristas e até mesmo os Kadiwéu são evangélicos, mas da forma apontada pelo líder Ademir, dizendo ser por agradecimento.

A primeira igreja evangélica fez todo um trabalho social, com o fornecimento de medicamentos, assistência médica, entrando no espaço do poder público.

Para reflexão

A provocação gerada pela cineasta é clara e nos faz refletir sobre as centenas de anos que se passaram desde a colonização dos povos que já ocupavam as terras que hoje são o Brasil. São anos de história. Como toda uma cultura conseguiu ser alterada em função da chegada de povos de fora. Não que povos diferentes não possam coexistir, muito pelo contrário. É possível conviver sem destruir.

Como algo que parece simples para gente, como a eletricidade, pode alterar todo um comportamento. Além de contar a história dos Kadiwéu, essa é uma das intenções da cineasta: provocar. Fazer com que a questão indígena seja discutida e seus povos preservados. Uma reflexão importante e necessária.

https://www.agambiarra.com/a-nacao-que-nao-esperou-por-deus/

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.