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Museu expõe arte indígena

Página 20 online - http://www.pagina20.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=5548&Itemid=14
Autor: Flaviano Schneider
09 de Abr de 2009

Mostra é resultado de pesquisas feitas por índios e professores do curso de Docência Indígena da Ufac

O curso de Formação de Docentes Indígenas em Nível Superior da Ufac Floresta está realizando a I Mostra de Arte e Cultura dos pesquisadores indígenas da Universidade da Floresta. A Mostra, em exposição no Museu de Cruzeiro do Sul, foi aberta no último dia 6 permanece até o dia 17. A gerente do museu, Rútila Silva, informa que nos dias 16 e 17 haverá uma mostra de vídeos realizados por indígenas e debates entre os realizadores e pesquisadores da Mostra. No encerramento, dia 17, vai acontecer uma celebração com a bebida tradicional caiçuma, feita de macaxeira e comum a todos os povos indígenas da região. No dia 22 deste mês a exposição se transfere para o campus da Ufac Floresta.

O professor de Artes do curso de Docência Indígena e coordenadora da Mostra, Amilton Pelegrino de Mattos, explica que a exposição foi organizada por pesquisadores indígenas e não indígenas do curso e foi a maneira encontrada para iniciar o diálogo de saberes, que foi uma das primeiras propostas da Universidade da Floresta. A intenção, segundo ele, é fomentar a pesquisa, o debate e a produção de conhecimento, respeitando as ciências em suas diferenças e por extensão colocar em evidência o curso e também a região de Cruzeiro do Sul.

O curso de Docência Indígena acontece alternadamente em Cruzeiro do Sul e nas aldeias. Nos meses de abril e maio e setembro e outubro os indígenas vêm a Cruzeiro do Sul para as fases presenciais. A cada fase presencial acontece uma fase intermediária em que os professores é que vão às aldeias onde fazem pesquisas e acompanham as pesquisas feitas pelos índios. O material ora apresentado no Museu de Cruzeiro do Sul foi trazido pelos índios das aldeias e já é resultado das pesquisas realizadas pela primeira turma, que iniciou seus estudos no ano passado.

Mostra variada
A exposição mostra diversos objetos de arte indígena como colares, arcos, flechas, saias, bolsas, vasos de barro, esteiras, etc. Em destaque no artesanato indígena as pinturas, denominadas kene. Um dos pesquisadores, o índio Aldenor Rodrigues da Silva Kaxinawá conta que cada povo indígena tem seus kene, diferentes entre si. Segundo diz, seu povo tem 60 kene diferentes e para fazer kene corporal só são utilizadas as tinturas de jenipapo e urucum. Já para pintar as tecelagens são utilizadas tintas naturais, extraídas da floresta.

"Kene, ele já tem uma história muito longa, de como vem para nós; kene nós não usamos de qualquer jeito. Kene é uma matemática, se você erra um ponto não consegue mais fazer" - explana Aldenor.
Ainda segundo Aldenor antes de ter contato com o povo branco a tecelagem era feita apenas com algodão fiado pelas mulheres, mas hoje já se usa miçanga e crochê.

Arte Ashaninka
O artesanato do povo Ashaninka é um dos mais conhecidos no Acre, pela qualidade e variedade. O pesquisador Komãyari Ashaninka dá diversas informações sobre as peculiaridades da arte de seu povo. Ele conta - em material preparado pelo coordenador Amilton - que as esteiras são feitas de talas e olho de palmeiras como o buriti, patoá, cocão, ouricuri e jaci. Geralmente quem faz as esteiras são as mulheres; na tradição cultural os homens não podem fazer.

Já as tipóias ou tangas são feitas de algodão, tecido em linha e feito manualmente pelas mulheres ashaninka. Os homens não fazem nem usam. Só as mulheres usam como enfeite e também para carregar o bebê. As bolsas são feitas de algodão, manualmente. A mulher é quem faz, o homem só ajuda a fazer os enfeites. A bolsa só é usada pelos homens. A mulher Ashaninka faz bolsa para seu pai, seu marido ou seu filho. Quando a moça é solteira também pode fazer bolsa para vender. A flauta é feita de taboquinha, que tem resistência e toca por muito tempo, segundo Komãyari. Uma das peças mais valorizadas da cultura Ashaninka é o txooshiki, um colar grande feito de sementes da mata que é usado no corpo, cruzado. É um adorno masculino, feito pelos homens. As mulheres podem ajudar o marido, mas não podem usar.

Cerâmica Marubo
O povo Marubo mora no Sul do Amazonas, mas também participa do curso de Docência Indígena. O destaque deste povo é sua cerâmica. Segundo a pesquisadora Raimunda Ennes Marubo o pote é usado para colocar mingau e água. Ele é feito de barro/argila, que, para não quebrar, é misturada à casca de uma árvore chamada caripé.

Também de barro são feitas panelas para cozinhar comidas e também conservar carne. A máscara também é feita de barro e faz um conjunto com roupa feita de cascas de árvores. Também existe um pequeno vaso, feito de barro e bordado com kene, utilizado para guardar ayahuasca.

Os Marubo produzem ainda a zarabatana que é feita de madeira roliça e coberta com cera de abelha silvestre, misturada com pó de ovos de jacaré, contendo ainda dois dentes de paca.

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