VOLTAR

Multinacionais de alimentos agravam pobreza, diz estudo

OESP, Nacional, p.A6
28 de Jan de 2005

Multinacionais de alimentos agravam pobreza, diz estudo
Documento da ActionAid, apresentado no Fórum Social Mundial, revela que pequeno grupo domina maior parte do comércio mundial de itens como trigo, café, chá e bananas
Gabriel Manzano Filho
Um terço de todo o alimento processado do planeta está nas mãos de apenas 30 empresas. Outras 5 controlam 75% do comércio internacional de grãos. Do total da produção e da venda de agrotóxicos, também 75% são dominados por 6 companhias - e uma única multinacional, a Monsanto, detém 91% do setor de produção e venda de sementes.
Esses números, que apontam uma impressionante concentração de poder em pouquíssimas mãos, constam de um relatório preparado pela ActionAid, uma instituição dedicada a estudar problemas de pobreza em todo o mundo, e que está sendo divulgado no Fórum Social Mundial.
"É uma situação perigosa quando tão poucas empresas controlam tantas vidas", resume John Samuel, da ActionAid. Segundo o estudo - que será objeto de um dos debates do domingo, sob título "O Controle das Corporações Transnacionais" -, esse alto grau de concentração vem agravando a pobreza em muitos países nos quais essas corporações dominam mercados, compram as empresas produtoras de sementes e controlam os preços de produtos fundamentais (para eles) como trigo, café, bananas, leite e chá.
Metade do comércio mundial de bananas, por exemplo, está em mãos de duas empresas. Outras três dominam 85% do setor de chá. No México, uma única empresa, a Wal-Mart, detém 40% do varejo do setor alimentício.
Em busca de explicações, o relatório lembra que nas últimas décadas "uma onda de fusões e acordos" ajudou a aumentar o poder das multinacionais mais fortes. Nesse processo, foram expulsas do mercado, aos poucos, muitas companhias menores, de atuação apenas regional. Isso foi conseguido por meio de várias práticas, "baixando preços, estabelecendo regras internacionais e domésticas de comércio que lhes interessam, impondo rígidos padrões que agricultores pobres não conseguem atingir e tornando-se mais atraentes aos consumidores".
INDÍCIOS
Vários episódios, na recente história do comércio internacional, são um claro indício do grande impacto que esse desequilíbrio traz à economia mundial, de acordo com o relatório:
- Mais de 80% de todas as recentes multas impostas a cartéis internacionais foram pagas por firmas do setor alimentar. Apenas três tiveram de pagar mais de US$ 500 milhões em acordos judiciais sobre preços;
- Muitos desses mamutes empresariais são mais ricos do que os países onde atuam;
- As grandes empresas beneficiam-se constantemente do colapso dos preços agrícolas. As cotações mundiais do café, do cacau, do arroz e do açúcar, por exemplo, caíram para menos da metade do que eram há 20 anos.
Ao fazer uma análise das denúncias da ActionAid, o enviado do jornal inglês The Guardian ao Fórum de Porto Alegre, John Vidal, ressalta que "marcas como Nestlé, Monsanto, Unilever, Tesco, Wal-Mart, Bayer e Cargill são citadas por terem aumentado imensamente de tamanho, poder e influência na década passada (...) por causa das políticas de liberalização do comércio levadas adiante pelos Estados Unidos e outros países do G-8, cujos líderes estão se reunindo também esta semana em Davos".
Grupos como Greenpeace, Amigos da Terra, Anistia Internacional e Via Campesina anunciaram ontem, no fórum, a intenção de pedir explicações e cobrança dos atos dessas grandes corporações.

Para protestar, produtores distribuem pratos de risoto
Sandra Hahn
PORTO ALEGRE - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem pedido de setores produtivos gaúchos que se sentem prejudicados pela concorrência de produtos do Mercosul e documento com reivindicações da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz). O encontro foi no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, antes de Lula embarcar para a Suíça.
Antes do encontro com o presidente, entidades rurais promoveram ato no centro de Porto Alegre batizado de Caldeirão do Mercosul, com distribuição de milhares de pratos de risoto. Os produtores de carne, arroz, trigo, vinho, cebola, alho e milho alegam condições desiguais de comércio por parte dos concorrentes do Mercosul e pedem medidas compensatórias.
No documento entregue a Lula, a Federarroz pediu apoio à proposta de impor salvaguardas. A medida já foi alvo de petição dos arrozeiros ao Departamento de Defesa Comercial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
GRUPO DE TRABALHO
Em resposta, Lula disse que será formado um grupo de trabalho entre os setores produtivos e os ministérios da Agricultura, Desenvolvimento, Fazenda, Planejamento e Relações Exteriores. O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que acompanhou o encontro, disse que a idéia é evitar retaliação, pensar como o governo pode agir internamente para amenizar os problemas, com medidas compensatórias. Segundo Pimenta, como há intenção de Lula em retornar ao Rio Grande do Sul na metade de fevereiro para a Festa Nacional do Vinho, e até lá o grupo já deve estar formado.
Após o encontro com Lula, o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, disse que o sentimento é de fortalecimento do Mercosul, pela revisão de procedimentos, sem ferir protocolos.

OESP, 28/01/2005, p. A6 (Nacional)

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.