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Mulheres ressaltam luta e o sofrimento do povo indígena no Estado

Seculodiário.com
Autor: Flávia Bernardes
17 de Ago de 2007

A 1o Assembléia das Mulheres indígenas do Nordeste e Leste do País, que terminou nesta quinta-feira (16), reunindo 120 guerreiras de mais de 40 povos indígenas, ressaltou a paralisação dos processos de demarcações de terras indígenas, e como exemplo, o caso dos Tupinikim e Guarani do Estado, que tiveram suas terras invadidas pelo monocultivo de eucalipto da Aracruz Celulose.

No evento, realizado em Minas Gerais, mulheres indígenas de nove estados discutiram as questões que afetam seus povos. Elas produziram um documento denunciando o apoio das políticas governamentais ao agronegócio, caracterizado pelos monocultivos para o mercado internacional, que utiliza produtos químicos e tecnologias totalitárias e agressoras à biodiversidade. Para elas, essas atividades prejudicam a demarcação das terras indígenas no Espírito Santo, com a Aracruz Celulose, na Bahia, com a Veracel, assim como no Ceará, que sofre com o monocultivo de cana de açúcar da empresa Ypióca, entre outras.

O avanço do desmatamento promovido por estas empresas ameaça não só a permanência destes povos em suas terras, mas também a sua cultura e a vida destes povos, como ressaltaram no encontro.

"Submetidos há séculos de preconceito e discriminação, fomos expulsos de nossos territórios tradicionais, hoje nos encontramos nas cidades e no campo, reconstruindo nossas identidades e exigindo o reconhecimento e a garantia dos nossos direitos. No entanto, o poder público e setores poderosos da sociedade têm na repetição do preconceito e da discriminação a única resposta às nossas legítimas demandas", diz o documento.

As políticas indigenistas também foram criticadas. Segundo as guerreiras indígenas, este setor tem se revelado incapaz de assegurar seus direitos. Isso se reflete no Congresso Nacional, onde o Estatuto dos Povos Indígenas encontra-se paralisado há mais de 12 anos.

No âmbito do Poder Judiciário, segundo as índias, existe uma avalanche de ações, com decisões liminares, que paralisam a demarcação das terras indígenas, bem como está em curso um processo de criminalização e ameaças à vida das lideranças indígenas em luta pela terra, a exemplo dos índios do Estado, Paulo Tupinikim, Vilson e Vilmar Benedito e Genildo Francisco, e Domingos e José Nunes Xakriabá, de Minas Gerais.

A principal questão que afeta as mulheres indígenas é a falta da terra, que garante a luta por outros direitos coletivos como saúde e educação, e também direitos individuais.

Neste sentido, elas criaram uma comissão de mulheres de todos os estados e escolheram Ceiça Pitaguary, do Ceará, para estar na coordenação da Assembléia Geral da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme).

A Assembléia encerrou com uma passeata na Praça da Liberdade, no centro de Belo Horizonte, para protestar contra a transposição do Rio São Francisco, as políticas indigenistas governamentais e a violência contra os povos indígenas e suas lideranças.

As guerreiras também homenagearam a líder Maninha Xukuru-Kariri, que, por falta de atendimento, faleceu em 2006. Para homenageá-la, foi definido o dia 11 de outubro como Dia de Resistência da Mulher Indígena do Nordeste e Leste.

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