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Mulheres que fazem a diferença

Claudia, p. 95
31 de Jul de 2004

Mulheres que fazem a Diferença
Patrícia Negro

Joênia Batista de Carvalho
A índia Wapixana premiada internacionalmente. A primeira advogada indígena do Brasil é homenageada com o Prêmio Reebok 2004 pelo trabalho em defesa de seu povo
Quando entrou em quinto lugar na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Roraima, aos 19 anos. Joênia Batista de Carvalho surpreendeu muita gente. "As pessoas não acreditavam que uma índia tivesse condições de disputar uma vaga com filhos de advogados e políticos', relembra. "Na faculdade, me perguntavam o que eu estava fazendo ali. Normalmente, a pressão é grande e muitos índios desistem." Ela não se intimidou e hoje, aos 30 anos, obteve o reconhecimento de seu trabalho como advogada no Conselho Indígena de Roraima (CIR): em maio recebeu. em Nova York, o Prêmio Reebok 2004 - Em Defesa dos Direitos Humanos. Concedido anualmente pela multinacional a ativistas de todo o mundo até 30 anos, o prêmio, no valor de 50 mil dólares, foi entregue a Joênia pela atriz Lucy Liu, de As Panteras. "Fiquei muito emocionada, pois sempre enfrentei preconceito por ser mulher, pobre e índia", comemorou Joênia, que vai investir o dinheiro no CIR.
No Conselho, ela atende 238 comunidades em dez regiões do estado, divulgando os dramas que vê no dia-a-dia em palestras no exterior. Defende vítimas de perseguições, tortura e discriminação racial, batalha pelo direito dos índios à terra, presta assessoria política às comunidades indígenas e dá cursos a lideranças. "Inúmeras denúncias ainda deixam de ser feitas porque muitos índios desconhecem as leis", conta. Casada, mãe de uma menina de 9 anos e de um menino de 6, já recebeu ameaças de morte e foi perseguida. "Procuro não pensar nisso. Só temo pelos meus filhos."
Corajosa desde criança, Joênia não abaixava a cabeça quando ia a Boa Vista fazer compras com a mãe: "As pessoas mexiam comigo e eu encarava. Ela me mandava ficar quieta. Não entendia sua submissão". Antes de se mudar para a capital, aos 8 anos, ela vivia de aldeia em aldeia. "Meu pai nunca parou muito tempo em um lugar por acreditar que é perseguido por um espírito." Um dia sua mãe se cansou das andanças, deixou o marido, mudou-se para Boa Vista e colocou os quatro filhos na escola. Para sobreviver, as crianças vendiam produtos que traziam das comunidades indígenas. "Eu não conseguia arrumar, tempo para estudar fora da escola, a sorte é que tinha boa memória." Joênia sempre passava as férias com o pai, o que fortaleceu os seus laços com as aldeias. "Nunca perdi o contato com o meu povo e sonhava em terminar os estudos para ser capaz de defendê-lo. Felizmente, deu certo."

Claudia, Julho/2004, p. 95

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