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Mulheres na Frente Guarani: "Estamos fazendo História"

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Autor: Florencia Goldsman
25 de Jun de 2014

Jera Guarani mbya é uma liderança indígena que viveu e estudou por algum tempo em São Paulo mas decidiu retornar à sua comunidade. Hoje vive na aldeia Tenande Porá ao sul da cidade, tem 34 anos e é parte da liderança da aldeia. No relato de sua experiência que fez durante o Festival Percurso, no contexto da "aula magna das expressões tradicionais e periféricas", refletiu sobre o presente de seu povo: "Hoje quase não vivemos, sobrevivemos. Não temos terra nem como pescar."

Jera narra que as casas Guarani ao sul de uma das cidades mais deslumbrantes do mundo ainda cozinham com fogo à lenha e ali desfrutam andar descalços. Ainda que fale bem o português, reafirma que nunca quis abandonar seu povo. "Eu trabalho na educação e com tudo o que tem a ver com o fortalecimento cultural. De fato, a situação de que sou parte da liderança não é uma coisa comum. No estado de São Paulo há mais de 40 aldeias Guarani mbya e em 2008 começamos a trabalhar nesse sentido. As decisões são tomadas com o cacique e os demais líderes, e também a partir do Conselho da Aldeia."

A partir do consenso comunitário, Jera foi a primeira mulher no grupo que teve a oportunidade de trabalhar nesse papel com todas as responsabilidades que têm geralmente um homem neste contexto. "Trabalhamos tanto os estímulos que vêm de fora, pensando como criar projetos e como trabalhar com governos, quanto os problemas internos da aldeia. Enfim, eu acho que nós, Guaraní mbya e yvypurá, estamos fazendo história com isto de ter mulheres à frente. Está caminhando bem."

- Você teve que superar muitos preconceitos para conseguir uma boa interação com os homens líderes da sua comunidade?

- Sim, eu sinto que no início sofremos uma forte estranheza principalmente das próprias mulheres. Daí surgiam esses questionamentos: "mas como uma mulher vai ficar com os homens e ir com eles para lá e para cá?" Em seguida, sinto que elas mesmas se sentiram mais seguras tendo uma mulher na liderança.

- Como é viver na cidade de São Paulo sem falar português, em uma sociedade que parece muito atual, moderna e inclusiva mas que de fato não é tanto assim?

- As comunidades Guarani mbya se mantem muito fortes. Fomos os primeiros povos indígenas a ter contato com a invasão européia. Mesmo assim, de fato, mantemos nossas tradições muito arraigadas e ainda hoje há pessoas que podem viver em um mundo muito Guarani. Estamos cercados por coisas das cidades: TV, electricidade, internet. Em suma: o mundo tecnológico está muito impregnado na aldeia. Ter pessoas que não falam Português acaba fortalecendo muito a cultura.

- Sofrem discriminação por causa disso?

- Não.

- Quanta informação chega sobre a Copa?

- Muitíssima, acabamos de fazer um protesto, junto com alguns amigos que estão aqui fizemos na Copa uma manifestação em que levantamos a bandeira da "demarcação já".

APROPRIAÇÃO DO EVENTO E PRONUNCIAMENTO DO MUNDO

A abertura da Copa do Mundo foi um espaço de produção de sentidos e de disputa por valores predominantes. Cenário no qual apareceram (e aparecem durante todo o transcurso do evento) as fissuras.

Em meio às danças coreografas por uma artista belga se fez presente então a subalternidade. Esta condição de desigualdade diante da imposição de ideias hegemônicas que levam ao extremo a desigualdade durante este mega evento.

"Demarcação já" dizia a bandeira vermelha que tomou a cena de assalto. Uma ocupação da Copa oficial em um estádio a que tem acesso apenas uma elite brasileira e internacional. Com uma demanda urgente: a demarcação dos territórios que pertencem aos povos indígenas, somada à regulamentação que permita que os ditos direitos sejam efetivamente cumpridos.

"Eu não podia entrar com a bandeira, mas eu queria, nosso povo quer e precisa. Coloquei a bandeira na cueca e só tirei quando estava no meio do campo de jogo. Porque nós vivemos aqui há muito tempo, mais de mil anos, e queremos nossa terra demarcada", declarou Wera Jeguaka Miri.

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