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Mudanças climáticas sob ataque de conservadores nos Estados Unidos

O Globo, Ciência, p. 28
10 de Fev de 2010

Mudanças climáticas sob ataque de conservadores nos Estados Unidos
Painel do clima da ONU é acusado de fraude; cientistas se defendem

Gilberto Scofield Jr.
Correspondente

Num país pródigo em teorias da conspiração - pelas quais muitos defendem que a morte do cantor Michael Jackson seria, de fato, uma jogada de marketing para vender discos, ou que o presidente dos EUA, Barack Obama, é um queniano disfarçado -, os americanos passaram a acreditar que o aquecimento global, uma verdade comprovada por centenas de estudos científicos, não possui, afinal, tanta "evidência cientifica sólida
Combater o aquecimento só é prioridade para 12%
A acirrada campanha de conservadores radicais nos EUA e na Europa, associados a políticos republicanos (estes últimos ardentes defensores da indústria do petróleo), para desacreditar Rajendra K. Pachauri e o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC, da sigla em inglês, que ele preside) está tornando os EUA descrentes do aquecimento do planeta. Os dois receberam o prêmio Nobel da paz em 2007, juntamente com o ex-vice-presidente Al Gore.

Ontem, o jornal "The New York Times" publicou uma reportagem sobre a suposta perda de credibilidade de Pachauri e do IPCC, citando críticas de cientistas ingleses sobre supostos conflitos entre os estudos climáticos coordenados pelo engenheiro e economista indiano e seu trabalho em consultoria para empresas como o banco alemão Deutsche Bank. Para estes cientistas, há conflito de interesses nos estudos que apontam o homem como o principal agente causador do aquecimento global.

Além disso, as próprias conclusões do estudo são consideradas "alarmistas demais".

O resultado é que, segundo recente pesquisa da Pew Research, a quantidade de americanos que acredita que há "uma sólida evidência científica de aquecimento global" caiu de 71%, em abril de 2008, para 57%, em fins do ano passado.

Só 35% dos republicanos acham o mesmo (enquanto 75% dos democratas acreditam na premissa). E só 35% dos americanos consideram o problema "muito sério".

Numa pesquisa do Instituto Gallup, reproduzida na revista (conservadora) "The Economist", 85% dos americanos consideram que a recuperação da economia dos EUA deve ser a prioridade de Obama.

Combater o aquecimento global só é prioridade para 12%, o que explica as dificuldades do governo Obama de aprovar no Congresso dos EUA o seu projeto de limite às emissões de gases do efeito estufa ou de envolvera população da maior economia do mundo - mergulhada na sua pior crise desde a década de 30 - nos debates em relação ao tema.

Numa reunião ano passado do Subcomitê de Energia e Meio Ambiente da Câmara dos Representantes, o deputado republicano John Shimkus citou a Bíblia para dizer que "não há por que temer o fim do planeta por causa do aquecimento global".
Cientistas do IPCC se defendem de acusações
Pachauri se defendeu afirmando que o dinheiro que recebe das empresas para as quais presta consultoria vai diretamente para o Instituto de Energia e Recursos, um prestigiado centro de pesquisas em Nova Délhi, na Índia, fundado por ele em 1982 e cuja renda ajuda a financiar projetos para comunidades carentes no país, como eletrificação rural. "Minha consciência está tranquila", disse Pachauri ao "New York Times". "Estas pessoas querem distorcer a imagem de acordo com seus objetivos particulares".

O IPCC, por sua vez, já começou a rever as conclusões desmentidas por seus críticos e admitiu que pelo menos uma delas - a velocidade no degelo das camadas de neve do Himalaia - tem um fundo de verdade. Mas a maioria dos principais cientistas de todo o mundo afirma que os erros dos estudos sobre aquecimento global são pequenos e não comprometem as conclusões gerais de que o homem, de fato, é o maior causador do aquecimento do planeta.

O Globo, 10/02/2010, Ciência, p. 28

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