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Mudanças climáticas elevam inflação

O Globo - https://oglobo.globo.com/
Autor: BARRETO, Paulo; COSTA, Fernanda
03 de Fev de 2025

Mudanças climáticas elevam inflação
Quando secas ou geadas estragam lavouras, o preço dos alimentos sobe; com menos chuvas para hidrelétricas, o custo da energia cresce

Paulo Barreto e Fernanda da Costa
Engenheiro florestal e mestre em ciências florestais, é pesquisador sênior e cofundador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Fernanda da Costa, jornalista e especialista em direitos humanos, é coordenadora de comunicação do Imazon

03/02/2025

As mudanças climáticas têm se tornado uma realidade desafiadora, com impactos socioeconômicos e ambientais profundos no Brasil. Entre os efeitos mais visíveis estão secas severas e enchentes, que não só devastam comunidades e ecossistemas, mas também têm consequências econômicas significativas, como a alta da inflação. Se o país quiser mantê-la dentro da meta, precisa admitir que esse desafio exigirá muito mais que políticas fiscais. São necessárias mudanças nas atividades que mais emitem os poluentes responsáveis pelos extremos climáticos e seus desdobramentos inflacionários.

Por ser formado pelo aumento no custo de produtos e serviços, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do Brasil, é altamente dependente do clima. Quando secas, enchentes ou geadas estragam lavouras, o valor dos alimentos sobe, aumentando a inflação. Com menos chuvas para os reservatórios das hidrelétricas, o custo da energia cresce. O que impacta não apenas nossa conta de luz, mas também a de todas as indústrias e estabelecimentos comerciais. Com a energia mais cara, essas empresas aumentam o preço de seus produtos e serviços, sendo outra contribuição climática para a inflação elevada.

O próprio Banco Central já assumiu a relação direta entre clima e inflação. Em 2024, tanto a estiagem quanto as enchentes contribuíram para o aumento no preço de vários alimentos devido à destruição de lavouras e a prejuízos logísticos. O IBGE divulgou que o IPCA de 2024 foi de 4,83%, superando o teto da meta, de 4,5%.

Por isso, quanto mais emitirmos gases de efeito estufa, como carbono e metano, responsáveis pelo agravamento das mudanças climáticas, pior será nossa inflação. Relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU já vinham advertindo que, quanto maior fosse o aquecimento global, mais frequentes e intensos seriam os fenômenos climáticos extremos.

No mês passado, a Organização Meteorológica Mundial confirmou que 2024 foi o ano mais quente já registrado. O Brasil está em quinto lugar entre os países que mais emitem gases de efeito estufa, segundo a plataforma Climate Watch. Portanto, para controlar a inflação, entre outras ações, é essencial adotar medidas de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas.

A mitigação envolve a redução das emissões, que no Brasil são causadas principalmente pelo desmatamento. Zerar a derrubada das florestas pode contribuir para controlar a inflação. Além disso, são medidas de mitigação importantes realizar a transição energética para acabar com os combustíveis fósseis, restaurar florestas e adotar práticas agrícolas e de gestão de resíduos sólidos sustentáveis.

A adaptação significa a preparação das comunidades e das infraestruturas para lidar com os impactos inevitáveis da mudança do clima. Isso inclui a realocação de famílias que moram em áreas de risco, a melhoria dos sistemas de saneamento, drenagem e transporte e os investimentos em segurança hídrica e alimentar.

Ações que precisam ser urgentes não apenas para combatermos a emergência climática e a alta da inflação, mas também para impedir uma consequência cruel de ambas: o aumento da pobreza.

https://oglobo.globo.com/opiniao/artigos/coluna/2025/02/mudancas-climat…

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