O Globo, Ciência e Vida, p. 32
16 de Mai de 2006
Mudanças climáticas causarão uma tragédia na África
Paul Vallely
Do Independent
A África enfrentará a maior catástrofe da História da Humanidade. As mudanças climáticas representam um cenário de pesadelo para o futuro da população do continente mais pobre da Terra, de acordo com um relatório de alto nível que será entregue ao governo britânico este ano.
Uma análise sugere que os lugares mais afetados pelas mudanças climáticas serão os mais pobres do mundo. O aquecimento global poderá trazer uma drástica redução das chuvas com uma conseqüente queda da produção agrícola que farão os episódios de fome vistos até agora parecerem tragédias menores. O Saara se expandirá e haverá falta de água severa em várias partes do continente.
Doenças como malária, dengue e cólera se agravarão. Como resultado, as migrações vão se intensificar. O relatório, coordenado por Nick Stern, é desenvolvido pelo Departamento de Política Econômica britânico, e deve estar pronto em outubro. Ele trabalha com as estimativas do Centro Hadley, um dos mais importantes do mundo em estudos climáticos, e que prevê um aumento entre 2,4 graus e 5,4 graus Celsius ao longo do século.
Porém, na África a temperatura poderá subir duas vezes mais do que a média global.
- A temperatura média do planeta poderá se elevar em 4 graus por volta de 2080. Mas na África esse aumento poderá chegar a 8 graus - disse Nick Stern.
As partes mais póbres da África têm os piores cenários. "O interior do continente, as regiões próximas ao Saara e o sul da África sofrerão mais. A agricultura poderá ter perdas de 30% em 2050", diz o relatório. A divulgação dos dados acontece junto com a apresentação de um estudo da ONG Christian Aid, que sugere que 182 milhões pessoas morrerão na África Subsaariana de doenças associadas às mudanças climáticas até o fim deste século. A Christian Aid frisa que os africanos pagarão boa parte da conta da poluição gerada pelos países mais ricos do mundo.
O relatório Stern destaca que o aquecimento global aumenta diariamente. O impacto desproporcional sobre a África se deve a uma combinação de fatores geográficos e climáticos.
O Globo, 16/05/2005, Ciência e Vida, p. 32
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