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Movimento indígena aponta avaços e desafios em conferência

Radiobrás-Brasília-DF
Autor: Melina Fernandes
08 de Dez de 2005

Representantes de comunidades indígenas dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro puderam expor seus problemas na 7ª Conferência Regional dos Povos Indígenas, que está sendo realizada até sábado (10) em São Vicente, litoral paulista. Nos debates ficou evidente que a região de São Paulo é a que mais necessita de avanços. As áreas de saúde, educação e regularização fundiária foram destaque nos grupos de discussão.

Karai Mirï Joel representa 83 índios que fazem o curso de nível superior de formação de professores indígenas na USP - Universidade de São Paulo e alega que esta parceria é bastante importante para que seja instituída a educação bilíngüe em mais aldeias. Ele relata que participam deste programa 28 comunidades do estado de São Paulo. "Estas pessoas fizeram magistério durante dois anos. Após isso, o primeiro critério é que elas tenham automaticamente vagas na USP. A Constituição garante isso e é obrigação do Estado dar esta oportunidade". Para ele, hoje há mais preocupação de resgatar a cultura indígena. "Na capital há cinco etnias, algumas delas perderam seus costumes e crenças e só agora estão resgatando isso".

Joel observa que a Funai - Fundação Nacional do Índio e as comunidades estão trabalhando para que os índios tenham uma educação bilíngüe nas aldeias, a fim de preservar a língua materna e ensina-los a língua portuguesa, também por uma questão de sobrevivência. "Nós estamos correndo atrás dos nossos direitos, que estão garantidos por lei. E buscando parcerias com os órgãos competentes senão nada acontece".

Ele defende que é preciso um equilíbrio em todas as áreas para melhorar a qualidade de vida das comunidades. E afirma que na questão da saúde faltam recursos, já que os índios estão pegando doenças do homem branco e o pajé não tem condições de curar algumas delas, então, é preciso, procurar ajuda fora. "Não existe educação diferenciada adequada para as comunidades. Mesmo que seja implantada nas escolas a educação interdisciplinar, com professores indígenas, ainda faltam recursos".

Poty Porã, vice-diretora da escola estadual indígena Djekupé da aldeia do Pico do Jaraguá, na capital paulista, diz que a evolução da educação é uma coisa muito recente e ainda em adaptação. Mas ressalta que as escolas indígenas podem fazer seu plano político pedagógico e que os alunos de 7 anos já são capazes de falar as duas línguas. Ela explica que nas aldeias os professores procuram formas de trabalhar o conteúdo programático das escolas utilizando recursos indígenas, como colares para ensinar matemática.

A vice-diretora observa que algumas questões de saúde, na verdade, são educacionais por causa de falta de informação, como, por exemplo, o que aconteceu há um tempo em diversas aldeias em que muitas crianças estavam ficando desnutridas porque as mães não davam os alimentos saudáveis. "A gente está melhor do que estava antes, mas pretende ter ainda uma melhor qualidade de vida".

O cacique Veramirï, 93 anos, atualmente mora em uma aldeia em Angra dos Reis (RJ), onde vivem cerca de 400 pessoas e, para ele, a vida é tranqüila e está satisfeito com isso. Ele comemora os avanços de sua comunidade e diz que as dificuldades foram apenas iniciais, quando começaram habitar as terras em que estão instalados. Ele destaca que, apesar de a terra ser improdutiva, há bastante espaço para a comunidade 2.105 hectares. "Lá não tem invasão nem intruso", enfatiza.

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